O prédio da Praça João Gonçalves

Captura de tela inteira 13122009 122956*Genivan Néri

Em 1984, após participarmos de congresso de estudantes secundaristas do Brasil inteiro em Campinas, fundamos a UMES (União Municipal dos Estudantes Secundaristas em Conquista). Já haviam acontecido outras tentativas de recriação de uma entidade que representasse os interesses dos estudantes, em anos anteriores entretanto, só nesse momento foi possível. A reconstrução da entidade foi precedida de vários momentos, capazes de demonstrar a preocupação que a direção do movimento estudantil da época tinha: realizar Assembléia Geral com representantes estudantis de quase todos os colégios de Conquista; escolher uma comissão Pró-UMES com a finalidade de conduzir a organização do congresso de fundação da entidade; elaborar uma Carta de Princípios baseada em valores éticos; construir uma proposta de estatutos; representar os estudantes secundaristas em seus interesses coletivos individuais e escolher os delegados para o Congresso Municipal de fundação da UMES.

Àquela época as forças que hoje dirigem Conquista, em sua maioria já participavam da luta estudantil, o PT embora minoritário, O PC do B com a sua tendência Viração, alguns militantes que se intitulavam anarquistas, nós que hoje somos dirigentes do PSB, colocávamos como independentes e éramos maioria pela força que tínhamos na Escola Normal, onde dirigíamos o Grêmio Livre com a Chapa Coração de Estudante da qual Gildelson Felício era Presidente em 1983.

No Congresso de fundação da UMES, realizado em um circo de propriedade da Prefeitura Municipal, armado no local onde hoje é o Centro de Cultura Camilo de Jesus Lima, já que nenhum diretor de Colégio Estadual daquela época, teve coragem de ceder as dependências de sua escola para a realização do congresso, temendo represálias do governo estadual. No congresso fizemos valer a nossa força, aprovamos a nossa proposta de estatuto, nossa proposta política e ainda elegemos a diretoria da UMES, da qual fui escolhido Presidente.

Para nós, que até esse momento, ainda nos colocávamos como independentes e que vivíamos as primeiras experiências políticas, a fundação da UMES, talvez tenha sido, o evento político mais importante. Pessoalmente, representou o descortinar de uma visão do mundo que até então, não tinha, basta dizer que não sabia do que se tratava a frase “Anistia ampla geral e irrestrita”, escrita nos muros da cidade entre 1978 e 1979, para se ter uma idéia do isolamento de informações a que a ditadura militar submetia a nossa geração.

Pois bem, após a fundação da UMES, a pressão dos grupos do PT e do PC do B, sobre a nova diretoria era grande. Precisávamos encaminhar as propostas aprovadas no congresso, entre elas figurava instalação de uma sede para congregar os estudantes em sua entidade representativa.

Recorremos ao então prefeito, Dr. Pedral Sampaio, como sempre fazíamos nos momentos em que o movimento estudantil precisava, aliás, não só o movimento estudantil, todo o movimento social da cidade, a própria CUT, na época da sua fundação transportou trabalhadores rurais nos caminhões da Prefeitura, de várias localidades da zona rural para o ginásio de Esportes Raul Ferraz. A UNE ( União Nacional dos Estudantes) em 1984, realizou um CONEB (Conselho Nacional de Entidades de Base) em nossa cidade, com milhares de estudantes de todo Brasil, inclusive foi nesse encontro que a UNE firmou posição contra a ida das oposições ao Colégio Eleitoral que elegeu Tancredo Neves Presidente contra Paulo Maluf.

Marcamos audiência com o Prefeito Dr. Pedral, para falar da sede da UMES, saímos satisfeitos, já que ele reagiu bem ao nosso pleito e sugeriu que procurássemos o professor Claudelino Rocha, morador do 1 andar do prédio da Praça João Gonçalves, que tinha na fachada do andar térreo uma placa com o nome “arquivo”, para alugar espaço onde instalaríamos a UMES.

Naquele momento não entendemos o porque da sugestão daquele espaço especificamente, hoje ficou claro o objetivo do prefeito, que já havia locado o andar térreo e queria que ajudássemos a quebrar a resistência do proprietário, em mudar-se do prédio, e na posse do município poder preservá-lo.

O morador nos recebeu à porta, ouviu a proposta e bastante nervoso falou “Diga ao Dr. Pedral que me deixe em paz, arranje outro lugar para colocar os estudantes dele, estou no fim da vida, quando eu partir, ele faça o que quiser com a minha casa”. Saímos desapontados e cabisbaixos, não tivemos sequer ânimo de levar a resposta ao Prefeito e a UMES ficou sem sede naquele momento.

Fiz toda essa digressão para chamar atenção da sociedade conquistense e do poder público para o estado de degradação física em que se encontra o prédio da Praça João Gonçalves, com parte dos fundos já destruídos.

Soube tempos atrás, que o professor Claudelino, doou o prédio para Irmandade da Santa Casa de Misericórdia, na esperança de que o Hospital cuidasse de sua saúde enquanto vivesse. Não sei se isso é verdade, nem se o prédio pertence à Santa Casa, caso pertença é provável que esse acordo tenha ocorrido, os atuais proprietários precisam pensar numa destinação menos danosa para a memória da cidade que o abandono do prédio representa.

* Genivan Néri, fundador da UMES, Licenciado em História, Professor da Rede estadual, Dirigente Estadual do PSB e integrante do Governo Municipal


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