Academia do Papo

                                                            Paulo Pires

O jogo das tampinhas e dois malandros conquistenses

Os jornais de 07/11/09 noticiaram que no centro de São Paulo – região da Santa Ifigênia – a polícia prendeu 12 malandros que estavam passando o velho golpe das tampinhas. Confesso me interessar pelo tema. Fico impressionado quando vejo pessoas dizendo que foram vitimas desses “caras” na rua. Em que consiste o golpe das tampinhas? A coisa é simples. Os malandros pegam três forminhas de empadas (ou menores que estas), colocam uma bolinha embaixo de uma delas, misturam as tampinhas e pedem para “um bestão” dizer embaixo de qual está a bolinha. O sujeito vai mexer e é logo advertido que só o fará se apostar uma determinada quantia. Sentindo-se desafiado e ciente que vai ganhar aposta 10, 20 e até 50 reais. O malandro volta a misturar as tampinhas e o pobre do transeunte acaba perdendo os seus mirréis. É uma pena, mas acho bem feito prá tomar vergonha na cara.

Aqui em Conquista quem introduziu o jogo das tampinhas foi o nosso amigo (e finado) Toinzinho da Bahia. Este camarada, além de grande inovador nas práticas da malandragem ingênua, volta e meia, quando as suas artimanhas começavam a lhe ficar enfadonhas, punha-se ao ofício de cortar cabelos. Não era um excelente cabeleireiro, mas nunca vi ninguém reclamando do seu trabalho.

            Toinzinho era uma figura quase folclórica. Só não chegou a esse nível porque morreu cedo. Acho que não tinha quarenta anos. Nosso personagem, de tanto beber cachaça, ficou com a voz em uma tonalidade tão grave, que quem o ouvisse sem vê-lo pensava tratar-se de um sujeito com no mínimo dois metros de altura. Porém quando era observado ao vivo, era motivo de risadas. Era quase do tamanho de Nelson Ned (ou menor que eu um pouco).

            Certa feita ele foi até a Lapa para tirar fotos para aqueles famosos monóculos quadradinhos de plásticos. Eram fotos que os romeiros tiravam lá e traziam como lembrança da Terra de Bom Jesus. Nosso Toinzinho convencido de que a ocasião era boa para ganhar dinheiro, se mandou para lá. Antes, porém, convidou  outro nosso amigo que vendia bilhetes da Loteria Federal (lembram dele?). Era outra figura folclórica de Conquista. Dizem que o parceiro de Toinzinho tinha a mania de vender bilhetes vencidos para a catingueirada (mas acho que isso era maldade). Intringa da oposição.

            Acertados os detalhes, Toinzinho e Candeão [era esse o nome do parceiro] rumaram para Bom Jesus. Chegaram na boca da noite. Pegaram uma pensão (padrão Copacabana Palace) e logo que se arrumaram (banho e janta) resolveram fazer uma avaliação do campo de trabalho.

            Toinzinho ficou empolgado e disse prá Candeão que aquela seria uma temporada de bons ganhos. Pela quantidade de romeiros, não havia dúvida: Ia voltar prá Conquista cheio da bufunfa. Candeão por sua vez, depois de ter tomado umas quatro, disse também ter ficado satisfeito com o que vira. “Muita gente, gente boa, gente fina, daquelas que não ficam perguntando por detalhes”. Toinzinho, claro também acompanhou o parceiro nas “cachaça”.  Voltaram prá pensão e dormiram sonhando com as venturas do dia seguinte.

            Acordaram meio banzos, tomaram banho e fizeram um “breakfast pesado” para encarar a jornada. Seguiram esperançosos para encarar os 40 graus da cidade.  É necessário dizer que Toinzinho ia tirando fotos dos romeiros e à medida que ia fazendo isto, exigia dos cada um 40% de adiantamento. E lá iam eles. Toinzinho tirando fotos e Candeão vendendo bilhetes. A coisa ia de vento em popa. Só que o disgramado do Toinzinho não tinha filmes na máquina (olha a desgraça!).

            Dia seguinte recomeçaram “os trabalhos” e a grana não parava de entrar. No terceiro dia, data de entrega dos monóculos, a coisa pegou. A romeirada cercou os dois e exigiu os retratos cujos adiantamentos haviam sido feitos. Toinzinho se enrolou, olhou prá Candeão, este fêz cara de ignorar o parceiro e a romeirada desconfiou. Chamaram  quatro soldados que estavam próximos e os dedurou.

            Isso se deu em torno de umas quatro da tarde e os dois (Toinzinho e Candeão) a essa altura já estavam prá lá de Marrakesh na cachaça.  A quizumba se formou e os dois acabaram na Delegacia de Bom Jesus. Por sorte havia um advogado de Conquista por lá e conhecendo-os bem e ao delegado, pediu soltura dos nossos dois amigos sendo prontamente atendido. O advogado informou ao Delegado de quem se tratava e a autoridade, sorrindo, mandou que eles pegassem o primeiro ônibus. Antes, claro tiveram que devolver o dinheiro dos romeiros e pagar a pensão onde estavam. Mas deu tudo certo. Quer saber?  Chegaram a Conquista mais duros do que saíram, mas deram boas gargalhadas de suas trapalhadas.  Quem agüenta uma dupla dessas? Um abraço cordial e até a próxima.


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