Tradição que não se renova

Por Francisco Silva Filho

A cidade cresceu, robusteceu e enrijeceu. As tradições quase centenárias, pouco a pouco foram sendo sepultadas junto com os seus idealizadores e foliões. O natal em nossa cidade que não tivesse o nosso mais famoso Fiinho Candeão – não escrevamos “Filhinho”, pois assim ele não era chamado, mas, sim, “Fi-inho Candeão” – fantasiado de PAPAI NOEL, podia-se dizer que seria um natal com ares de agouro. A banda do Faé e do seu Gentil não deixava o Papai Noel fazer a festa sozinho, era um show inesquecível. Em tempo, o meu nobre amigo o mestre Paulo Pires, enquanto eu escrevia esta crônica mo corrigiu sobre o nome do nosso amado antigo Papai Noel; ou seja: “Fi-in Candeão”. Obrigado, mestre!

Das minhas reminiscências, extraem-se os mais lindos e festejados natais que a minha existência pôde registrar. Dos lindos presépios, o de Bocais era o mais famoso; o que ainda remanesce, o presépio da dona Zelita Leite Garcez, ainda nos faz viajar no tempo do advento. Antigamente o poder público não interferia; o comércio e o povo é que fazia a verdadeira festa natalina.

O congraçamento virou a mais disputada moeda de troca em tempos eminentemente comerciais. Aliás, o Natal sempre foi uma festa com apelos comerciais; agora é de apelos selvagemente comerciais. O nosso centro comercial, na minha ótica, onde, guardo lembranças dos antigos natais, mostrou-se decadente; os comerciantes brigando por incentivos e ornamentação do poder público; o poder público fazendo ouvidos de mercadores (isso “né comigo, não!”) esperando da CDL (Câmara de Dirigentes Lojistas) que fizesse a ornamentação. Como diz o velho ditado: “quando um não quer dois não brigam”. Neste caso os dois não quiseram nadica de nada.

A nossa história contemporânea tem nos mostrado que o velho e demodée não prosperam em nossa cidade. Enquanto o comércio local fadiga e dá sinais de falências múltiplas, a mais nova coqueluche conquistense – que não tem sinais de balaio novo com sete dias de torno – mostrou-se pujante, sobretudo, pelas suas novas e ampliadas instalações; O Shopping Conquista Sul deu aos conquistenses, aos que orbitam a nossa região e visitantes as mais calorosas e aprazíveis boas vindas e o irrecusável desejo de comprar; lá, encontramos uma Conquista advanced, moderna e sobretudo, globalizada.

O nosso Shopping ganha, sem qualquer esforço, da maioria dos Shppings médios de Curitiba (aqui não vai nenhum bairrismo). No caso da ornamentação natalina em nossa cidade, saindo da esfera comercial, a prefeitura municipal mais uma vez deixou a desejar; sobre este assunto em antigo escrito de minha autoria eu já havia declinado sobre a síndrome do preguiçoso a que o poder público conquistense tem se comportado, ou seja: “o preguiçoso morreu arrebentado” – a prefeitura municipal elegeu a Praça Tancredo Neves (odeio chamar essa Praça por esse nome) para descarregar nela toda a ornamentação natalina como se a nossa cidade fosse uma aldeota de há sessenta anos atrás. Quando chegamos a nossa cidade às 22 horas do dia 21 de dezembro, os meus filhos mo exigiram passar por onde tivesse ornamentação natalina; os pedidos dos meus sensatos filhos para mim é uma ordem.

Passei pelo centro da cidade, iniciando pela Praça Victor Brito, ao chegar à Praça Barão do Rio Branco a sensação que eu tive é de ver um enorme entulho naquela exígua Praça; ao chegar à Praça Tancredo Neves a nossa surpresa e impressão, digo, dos meus filhos, foi a pior possível: O Eric que só tem treze anos, não se conteve e disse: se eu fosse (ele) prefeito desta nossa cidade, e se tivesse só essas luzes para ornamenta-la, eu deixaria só 25% dessas aqui na praça, bem distribuídas e as outras 75% eu distribuiria por exemplo, na Praça Victor Brito e outras pracinhas também interessantes. A Ingrid e o Eric que ainda muito pequenos saíram daqui quando, para morarmos em Curitiba, guardavam em suas memórias os tempos em que o Cristo no alto da serra dava as boas vindas, meio que, como um Farol em alto mar, sinalizava aos chegantes a alegria de estar se aproximando da nossa querida e amada terra mongoió. Como nós conquistenses delegamos e terceirizamos os destinos da nossa administração pública a pessoas que nada tem a ver com as nossas raízes e tradições, acho que os descasos desses, ainda são muito pouco pelo tanto que ainda poderão desfazer das nossas tradições. Só tenho a lamentar!

Francisco Silva Filho

Vitória da Conquista – BA


Uma Resposta para “Tradição que não se renova”

  1. Ezequiel Sena

    Com muita propriedade mandou bem Chico,

    Realmente as tradições pouco a pouco vão sendo sepultadas e os seus idealizadores desvanecem. O Natal da cidade teve seu tempo áureo, agora estamos em época diferente e o poder comercial suplanta o tradicional e à memória.
    BOAS FESTAS E UM ANO NOVO DE SAÚDE E PAZ!

Os comentários estão fechados.