Por Ezequiel Sena
Mais um ano que passa assinalando perdas dolorosas, com abrangência inclusive no seio da minha própria família. Marcado também pela crueldade humana – 31 agulhas introduzidas pelo padrasto no corpo de uma criança de apenas dois anos de idade – notícia que indignou o país inteiro chegando às manchetes de muitos jornais do exterior. E, ainda, palco do maior flagrante: vídeo mostrando explicitamente Jose Roberto Arruda recebendo um pacote de dinheiro das mãos de Durval Barbosa (uma clara cena de propina). Mas foi debaixo de muita chuva, ventos, tempestades, dores e lágrimas que partiu o 2009; a fúria da natureza invadiu 2010 assustando o Brasil soterrando casas, derrubando pontes, alagando cidades, trazendo desespero e mortes; um fenômeno que, mesmo com os avanços da ciência, o homem continua incapaz de compreender tais mistérios. Séculos atrás, o admirável Williams Skakespeare (1564-1616), figura capital do pensamento moderno já sentenciara: “Existem mais mistérios entre o céu e a terra do que supõe nossa vã ilusão filosófica”. De fato, o planeta anda meio estranho e o pior é que isso vem se comprovando ano após ano.
Pois é, a terra dá sinais verdadeiros de um lento colapso, reclama que não mais aguenta os seus 7 bilhões de inquilinos. Quando não é a seca castigando são as chuvas, agora mesmo em Angra dos Reis (RJ), a tragédia se alastrou destruindo tudo e tirando a vida de famílias inteiras. Além disso, a chuva também não tem dado trégua no interior dos estados de São Paulo, Rio Grande do Sul e Maranhão. A intensidade das águas desabriga e flagela milhares de pessoas. Repete o ocorrido pouco tempo atrás em Santa Catarina, Espírito Santo e boa parte do nordeste.
Agora felizmente as nações mais ricas resolveram a dar maior importância à gravidade do problema, sobretudo os Estados Unidos e a China, quando marcaram presença na megarreunião de dezembro último, promovida pela ONU em Copenhague, COP-15. Os representantes de mais de 100 países que lá estiveram têm consciência de que, na hipótese de o aquecimento desordenar o clima da terra, ninguém vai escapar; esta é a dura realidade (alguns cientistas contrariam este posicionamento, assegurando que caminhamos para o limiar de uma nova era glacial). Mas estudos científicos afiançam que o aquecimento global provocará fome, extinção de espécies da fauna e da flora de muitos ecossistemas, além de elevar os fluxos migratórios sentido sul-norte. Mesmo assim, o que sobrou do encontro não foi um acordo definitivo e sim uma carta de intenções empurrando para o México (COP-16) a promessa de uma posição definitiva. O Brasil pelo menos começou a fazer o dever de casa, ao apagar as luzes de 2009 o Presidente Lula sancionou a Lei que estabelece a Política Nacional de Mudanças Climáticas, mantendo a meta de redução das emissões nacionais de gases de efeito estufa entre 36,1% e 38,9% até 2020.
Por outro lado, o Brasil emerge como potência e se fez ouvir com respeito sob a liderança do governo Lula. Demonstrou eficiência na superação dos obstáculos causados pela turbulência da crise financeira mundial; inverteu uma perspectiva histórica ao emprestar US$ 15 bilhões ao FMI. Ganhou a confiança e o direito de sediar a Copa do Mundo de 2014 e as Olimpíadas de 2016 – sinais inequívocos de prestígio. Contudo, não vivemos apenas de louros, há de pensar que crescimento não se consolida sem vontade e empenho, bem como autonomia no combate à corrupção, à impunidade e à violência.
Expectativas de um 2010 auspicioso é a esperança do povo brasileiro, já que de dúvidas o país vem carregado. Afinal, começa o ano dependendo dos acontecimentos para se posicionar com exatidão sobre quais medidas de bem-estar ou adversidade irão modelá-lo. Certeza mesmo somente das mazelas costumeiras trazidas de exercícios passados, que dependem de tolerância e consenso político para serem executadas. Uma herança que se tornou um calvário para o direito à cidadania: fragilidade da saúde, da educação e da segurança pública que a cada dia aumenta ainda mais o bojo das desigualdades sociais.
Também é um ano eleitoral. Entusiasma o cenário político em nossa cidade e pintam pré-candidaturas de muita consistência com bons nomes tanto para Câmara Federal como Estadual. O elenco de nomes da terra tem agradado em cheio a preferência do eleitorado conquistense, bem diferente dos pleitos anteriores (muitos candidatos estrangeiros). Cogita-se ainda a possibilidade de ser apresentado o nome de José Pedral Sampaio à cadeira do Senado Federal. Tomara. De sorte que o Governador Jaques Wagner deverá disputar com o Ministro Geddel Vieira Lima e o ex-governador Paulo Souto a sua permanência no cargo. Em nível do Planalto Central, a mídia evidencia apenas as candidaturas da Ministra Dilma Rousseff e do Governador de São Paulo José Serra.
Creio que o nosso país clama urgente por gente nova e bons exemplos, notadamente no meio político, e que sejam referências para as futuras gerações. Por esta razão, recomendo para reflexão a frase do médico e escritor irlandês, Oliver Goldsmith que preconiza o seguinte: “Com exemplos de vida e conduta, se prega um melhor sermão do que com suas palavras”. Sobre isso não nos restam dúvidas, até porque o bom elixir não se consegue extrair de ‘arruda’. UM FELIZ 2010.
7 Respostas para “2010 – Esperança de bons exemplos”
RGS
Meus sentimentos,pela perda dolorosa em familía(…).
mário prado
Ezequiel,
O Senhor nos brindou com a pura magia do conhecimento. Suas palavras me fascinou, pois é a pura verdade da vida e é possivel notar a pureza de sua alma.
Aproveito e feliz 2010!
Ezequiel Sena
Caro RGS agradeço-lhe de coração a sua manifestação de solidariedade, aproveito a oportunidade para lhe dizer que tenho acompanhado alguns de seus comentários e vejo neles muita sensibilidade, conteúdo e sabedoria. Parabéns!
Elvarlinda Jardim
Bom dia, Ezequiel.
Permita-me, primeiramente, agradecer pela rica mensagem postada neste blog, o que o torna ainda mais valoroso. Aliás, seus textos têm qualidade inestimável. Sempre nos convidando à reflexão.
Sua preocupação com relação ao comportamento humano é algo para o que todos nós deveríamos estar atentos, pois depende da transformação do indivíduo o avanço coletivo.
Os habitantes do nosso planeta (nós) vêm deparando, realmente, com catástrofes incríveis e inesperadas. O homem jamais espera que algo triste aconteça, até que se consuma o fato. Depois a angústia, a dor, o sofrimento e a costumeira pergunta: Por que tudo isso?
A inconsistência de entendimentos leva-o a entrar em conflitos.
Em função de ações mal praticadas, o próprio homem sofre as conseqüências. A natureza reage. É muito natural, do mesmo modo que reage o pai que educa o filho de forma correta e esse age negativamente. Estão, chegam as respostas dadas pela natureza, de acordo com o preconiza a Lei de Causa e Efeito, a que uns chamam de Ação e Reação, outras, Causa e Conseqüência.. É a colheita do fruto semeado. Todos nós temos o direito de semear, mas, consequentemente, o dever de colher.
Seja no âmbito político, social, econômico, o Brasil tem tudo para se desenvolver. Mas ainda há em demasia os ranços do individualismo e da ostentação do poder. Políticos ainda usando parcos recursos para conquistar o espaço desejado, inclusive a maledicência, tendo a mídia como instrumento fácil e de amplitude de divulgação. A coletividade, na maioria das vezes, é a menor parcela visada. A maioria esquece que é também, dessa minoria coletiva que depende o seu crescimento no campo desejado, seja no momento do voto, no exercício das profissões, no campo das relações afetivas ou profissionais. O que seria do potentado se não fosse o proletário? Há uma interdependência muito intensa entre ambos, mas o orgulho e vaidade não permitem que o percebam.
São tantos os problemas que ocasionam as dores humanas, que à vista d’olhos assustam-nos a alma, mas sabemos que há uma explicação lógica para tudo.
Entes queridos que se vão, abruptamente, conflitos familiares, distorções de valores, o tráfico, não só de drogas, alastrando-se…enfim….tudo tem tomado corpo de forma assustadora. O homem perde as próprias rédeas. Só a compreensão de si mesmo e de se relacionar com o mundo é que fará com que as coisas se aproximem gradativamente do equilíbrio. Afinal, somos razão e emoção. Que todos nós, seres humanos , façamos bom uso disso.
Peço desculpas pela extensão do comentário, mas o seu texto convidou-me a isso.
Um grande abraço, com desejos de que a serenidade nunca lhe falte.
Elva
Jose ricardo
MUITO BOM EZEQUIEL, UMA RETROPECTIVA DO ANO INTERESSANTÍSSIMA. CONCORDO PLENAMENTE COM O QUE VOCE ESCREVEU, O PAÍS PRECISA MESMO DE POLITICOS NOVOS, O POVO PRECISA DAR UM BASTA NAS RAPOSAS QUE ENVERGONHAM O BRASIL. MUITO CRIATIVO O SEU ELIXIR DE ARRUDA. (FALTOU A MEIA E A CUECA P/ENCHER DE PROPINA).
JOSE RICARDO
Ezequiel sena
•Como diz o ditado popular estou começando a semana com o “pé- direito”, não tenho palavras para agradecer a generosidade dos comentários do Mario Prado, da Elva (como sempre a sensibilidade e a pureza norteiam o que ela escreve), como também o do Jose Ricardo. Vocês não imaginam como me tocaram suas palavras.
•Desejos a todos os leitores do blog UM 2010 DE PAZ, SAUDE e que a serenidade seja o ponto equilibrador das decisões.
Ezequiel Sena
Renato Senna
Ezequiel,
Ótimo balanço.Parabens!
Renato Senna