O rádio foi, sem dúvida, um dos principais meios de comunicação do século passado. Em seus tempos de glória, despertou fascínio e curiosidade, construiu mitos e fez a cabeça de muitas gerações.
Na era dos Ipods, Mp3, podcast e programação via satélite, não são poucos os que lembram com nostalgia daquela época de ouro, quando grandes programas atraiam multidões para ver e ouvir as estrelas do rádio, pois não bastava escutar de casa, tinha que caprichar na roupa, arrumar o cabelo e ver os donos das vozes de perto. Sem falar dos locutores que embalaram momentos, tornaram-se familiares para as pessoas e entraram para a história.
Para quem acompanhava a programação radiofônica em Vitória da Conquista nos anos 60, 70 e 80, algumas vozes foram tão marcantes que, ainda hoje, ao ouvi-las, as pessoas revivem a memória os bons tempos do rádio. Uma destas vozes é a de José Amaral Menezes, o popular Jota Menezes.
Natural de Jequié, ele chegou a Conquista aos seis anos de idade. Na infância, dividia o tempo entre as brincadeiras e alguns trabalhos esporádicos, como engraxar sapatos e carregar sacolas no centro da cidade. Jota confessa que, desde cedo, gostava de ver as pessoas falando ao microfone, achava fascinante aquela projeção da voz. Foi na adolescência que ele começou a dar os primeiros passos na área da comunicação, como locutor em serviços de auto falantes da Rádio Cairo Center e no serviço de auto falantes A voz de Conquista. Dono de uma voz forte e com muita determinação, não demorou a passar dos auto falantes para os estúdios da Rádio Clube, onde trabalhou durante toda sua vida profissional, até os anos 90.
No rádio conquistense – Saudoso, o radialista recorda o período glamouroso do rádio, quando a voz e a imaginação davam a tônica para o deleite do ouvinte. Sem muitos recursos, mas com bastante criatividade, a programação era construída diariamente. Ele lembra que, antes, quase 90% do que ia ao ar era produção local. Rádio novelas, programas como o Dedicatória Musical e o Valores da Terra – um programa de calouros em que se apresentaram artístas como Xangai e Gilbertos Gil – compunham um leque diverso e rico em conteúdos.
Não há como não falar também dos concursos de reis e rainhas do rádio, dos concursos de vitrines de lojas e, principalmente, dos programas de auditório. Em Vitória da Conquista, o programa Alegria dos Bairros, que acontecia toda semana em um bairro diferente, levava cultura e entretenimento para as ruas, com shows de calouros e convidados especiais.
Um radialista, um repórter, um apaixonado por rádio – Jota Menezes também apresentava shows em datas comemorativas, que aconteciam em praças públicas ou no Estádio Lomanto Junior. “Naquela época, Vitória da Conquista não tinha muitas opções de lazer como tem hoje, o rádio era a alegria das famílias; era o rádio que levava apresentações para os bairros, que promovia festas, o rádio tinha uma grande importância para a cidade”, afirmou o radialista.
Na vida política da cidade, a voz de Jota Menezes também ficou marcada. Era ele quem transmitia os boletins parciais durante as apurações de votos. Ao ouvir a voz de Jota, as pessoas já corriam em direção rádio para saber as últimas notícias sobre as disputas eleitorais.
Onde havia uma notícia, lá estava Jota Menezes com um gravador e um microfone nas mãos, noticiando a vida cotidiana de Conquista e também fatos marcantes para a cidade, como a inauguração da Rio-Bahia, festa que teve a participação da Caravana de artistas da Rádio Nacional e do presidente João Goulart. Neste dia, Jota fez uma matéria exibida nacionalmente pelo Programa A voz do Brasil. O radialista também divulgou fatos trágicos: ele conta que o episódio mais triste que noticiou foi o acidente na Lagoa de Baixo, envolvendo um caminhão. Não houve sobreviventes e a rádio transmitiu todo o processo de resgate das vítimas.
Entre histórias e muitas recordações, Jota Menezes foi contando sua trajetória que, em muitos momentos, se entrelaça à história do rádio de Vitória da Conquista. Ao comparar a programação radiofônica daquela época e a de hoje, ele diz que a diferença é imensa. “O rádio de antigamente se preocupava em divertir, mas também em educar. Hoje as rádios estão todas num mesmo padrão, perderam a autenticidade”. Apesar de lamentar esse esvaziamento de conteúdo, Jota reconhece que Vitória da Conquista tem boas emissoras, com boa qualidade de som e bons profissionais.
Ouvinte assíduo de rádio, ele comenta que sente uma lacuna na programação. “As rádios não têm programas voltados para as pessoas da terceira idade, um público fiel que já não tem mais onde ouvir as músicas que gosta. Algumas rádios passam músicas mais antigas durante a madrugada. Às vezes, acordo e sintonizo só para ouvir aquelas canções bonitas. Essas músicas de hoje, nossa! Não dá nem para comentar”.
Há algum tempo, o radialista se dedicou a um projeto chamado Assim era o Rádio: foram seis programas que reuniram a velha guarda do rádio conquistense, resgatando a tradição e apresentando para as novas gerações o que se produzia antigamente. Mas o projeto já não acontece há dois anos.
Hoje, aos 78 anos, com quatro filhos, o radialista se dedica à família e trabalha com sonorização ao lado de um dos filhos. Num estúdio montado em casa, ele guarda centenas de discos de vinil e lembranças da época de ouro do rádio conquistense. Também tem aproveitado o tempo livre para ver televisão e assistir filmes antigos, principalmente os clássicos do western.
Homenagem – Em 2009, Jota Menezes recebeu duas homenagens que reconheceram o talento e a contribuição do radialista para o desenvolvimento da comunicação em Vitória da Conquista. Primeiro, ele recebeu o título de cidadão conquistense. Depois, a convite do prefeito Guilherme Menezes, ele participou da programação do Natal da Cidade 2009 apresentando o show Uma cidade a cantar, que reuniu diversos artistas conquistenses para um tributo a canções que marcaram época e continuam vivas na memória da população. “Fiquei muito satisfeito em participar deste show, foi uma excelente idéia do prefeito, resgatar músicas do passado e valorizar os novos artistas. O resultado foi um lindo show”.
Para o homem que fez parte e ajudou a construir a história do rádio de Vitória da Conquista, falar da sua trajetória de vida é recordar histórias de uma época muito particular, de um tempo que está ali, no limite da saudade; saudade dos fatos vividos, das imagens construídas no imaginário das pessoas que acompanhavam os programas: são memórias que parecem imortalizadas na voz que se tornou um patrimônio do rádio conquistense.
Texto: Secretaria Municipal de Comunicação de Vitória da Conquista
4 Respostas para “J. Menezes, símbolo vivo da era romântica do rádio conquistense”
jdean
A [ultima frase a respeito desse grande comunicador -“São memórias que parecem imortalizadas na voz que se tornou um patrimônio do rádio conquistense”.Define muito bem a sua importância no contexto de desenvolvimento alcançado pelo município – No tocante á comunicação a informação e o entretenimento.
henrique gusmão
Valeu negão,voce merece muito mais que isto,todo sucesso do mundo prá voce jota.
Um abraço, henrique gusmão
alvino josé da silva
boa lembrança, foi realmente os melhores momentos da minha vida, essa epoca do jota todos domingos no carrossel da alegria, tambem quando recebemos a visita do então presidenciavel jango como era chamado.eu partcipei da carreata e falei com ele, no palanque no centro de exposição.Gostaria saber se este momento fora registrado.
Iêdo Menezes
Sinto muito orgulho de ser Conquistense, e muito honrado e feliz por ter vivenciado parte desta fase de “Ouro” do rádio Conquistense. Curti muito Carrossel da Alegria, Alegria dos Bairros, e muitos Shows de artistas renomados como: Waldik Soriano, Altemar Dutra, Vanderley Cardoso, Jerry Adriani, Xangai, Gilberto Gil, Abdias e Marinês com sua Gente, Trio Nordestino, Sérgio Reis, Trio Esperança, Deni e Dino, Osvaldo Fahel, Agnaldo Timóteo, Terry Winter e tantos outros, promovidos e apresentados por J. Menezes.
Sou muito, mas muito feliz mesmo, principalmente por ter curtido esta voz de perto, de dentro do estúdio da rádio Clube, nos Programas “A Cidade em Revista, Alma do Sertão, Atendendo aos Ouvintes, etc”. Parabéns Jotão. Você é história, é referência,e muito mais. Iêdo.