Juscelino Souza, A Tarde
Uma lista negra, contendo os bairros e locais considerados perigosos para os profissionais em atividade está sendo seguida á risca pelos taxistas de Vitória da Conquista, para evitar assaltos a mão armada e até mortes.
Os dados mais recentes, entre dezembro de 2009 e janeiro deste ano, são os agravantes para a polêmica medida do “toque de recolher” ás avessas.
De acordo com a polícia civil e o Sincavir, sindicato da categoria, em menos de 15 dias de janeiro foram registrados 12 assaltos, contra apenas cinco no mesmo período do ano passado. Em dezembro de 2009, ocorreram trinta assaltos contra taxistas em Vitória da Conquista, oito deles, em 9 dias.
Os números podem ser ainda mais desfavoráveis para a categoria, já que, segundo a direção do sindicato, pelo menos 30% das vítimas se recusam a prestar queixa quando a perda do objeto se restringe a uma frente de toca cd ou um aparelho celular.
O temor também está ligado á integridade física, já que os profissionais não registram queixas devido a ameaça de morte. Conquista tem 365 taxis, distribuídos em 65 pontos.
O delegado Cléber Flores informou que a polícia encontra obstáculos nas investigações porque as vítimas não costumam prestar queixas dos crimes.
A vítima mais recente foi um taxista foi assaltado dia 8. A vítima foi acionado por um casal que dizia estar indo para o bairro Morada dos Pássaros. No trajeto foi anunciado o assalto. “Fiquei trancado no porta-malas e eles rodaram com o carro”. O taxista foi resgatado sem ferimentos.
O comando do 9º Batalhão de Polícia Militar informou que está reposicionando as viaturas e o policiamento para intensificar abordagens aos taxistas para evitar a sequência dessa e de outras modalidades de crimes.
Diante da violência, ganham as seguradoras, que cobram até 40% a mais na cobertura em relação a um veículo de passeio comum e perde a categoria. Abandono da profissão, aposentadoria antecipada, estresse e dependência a remédios controlados formam a relação das causas adversas.
Embora o presidente do sindicato da categoria, Agnaldo Mendonça, não reconheça oficialmente a prática dos seus filiados, os próprios taxistas fazem questão de frisar que os bairros da parte alta da cidade, como Pedrinhas, Alto do Cruzeiro, Panorama, Miro Cairo, Senhorinha Cairo, Nova Cidade e Nossa Senhora Aparecida (México) são alguns dos que possuem restrições.
Outros bairros da cidade, como Recanto das Águas, Kadija, Patagônia, Morada Real, Morada dos Pássaros, Vilas Serranas, Guarani e Renato Magalhães não fogem á regra segundo os profissionais.
O “toque de recolher ás avessas” começa a valer por volta das 18 horas e em muitos bairros, já na metade da tarde ou nos feriados e finais de semana. “Esta não é a recomendação do sindicato, já que em todos os bairros existem pessoas boas e más”, contemporiza Mendonça.
O ex-presidente do sindicato e atual representante de um sistema Chame Taxi, Nilson Pinheiro, é mais incisivo e sustenta que o critério de escolha de certos locais considerados perigosos existe. Ele possui um banner com o nome dos 25 colegas mortos nos últimos 23 anos.
Sem citar localidades, sob alegação de ética profissional, Pinheiro destaca que até mesmo durante o dia os taxistas se recusam a se deslocar a determinados bairros, considerados perigosos. “À noite, então, dificilmente atendemos chamado na periferia, nos mais violentos”.
Apesar de não oficial e sem a aprovação do sindicato da categoria, a nova prática já divide opiniões entre taxistas e usuários. “Sou contrário a isso, pois exclui grande parte do moradores que eles julgam serem dessa camada marginalizada, ou seja, é uma atitude discriminatória”, desabafa o radialista Miguel Cortes.
Para quem já foi vítima de assalto, como o motorista Eduardo Dias Rocha, 71 anos de idade e 37 de profissão, a ideia posta em prática é válida e objetiva chamar a atenção da polícia, e forçar uma solução imediata.
Nem mesmo um sistema de vídeo-monitoramento no ponto de taxi da rodoviária, instalado há 10 anos, inibe os criminosos e a razão é simples, conforme denuncia um dos 24 taxistas do ponto. “Isso nunca funcionou direito. Não grava nada e os bandidos já devem estar sabendo”.
O taxista Alex Ferraz é outro que aderiu ao atendimento seletivo. “Eu prefiro perder a corrida a me expor a marginais, principalmente em locais notadamente conhecidos como pontos-de-droga. Já cheguei a presenciar assaltos até mesmo a clientes que chegavam de taxi em casa”, concluiu Ferraz.