Escutas telefônicas revelam disputa por obra de R$ 628 milhões

Escutas telefônicas da Operação Expresso apontam para uma briga, nos bastidores, entre empresários de ônibus e as construtoras Odebrecht e OAS pela execução e gestão do projeto de vias exclusivas para ônibus em Salvador. Os dois grupos disputaram a obra de autoria da prefeitura, orçada em R$ 628 milhões, antes mesmo de ser lançada a licitação.

A TARDE teve acesso, por meio de três fontes diferentes, ao inquérito policial onde estão reproduzidas as escutas autorizadas pela Justiça. Ao longo de dois meses a reportagem leu 1.030 páginas do documento elaborado por seis delegados: Daniel Pinheiro, Gabriela Macedo Alves, Marcelo Sanfront, Ademar Tanner de Oliveira, Rogério Magno de Almeida Medeiros e Edenir Cerqueira.

Investigado na Operação Expresso por suspeita de envolvimento no esquema de propina na agência estadual de regulação, Agerba, o advogado Carlos Eduardo Villares Barral, coordenador do Sindicato das Empresas de Transporte Coletivo de Salvador (Setps), foi flagrado em pelo menos 16 escutas telefônicas, articulando a disputa para ganhar o projeto.

A polícia acredita que em um dos diálogos, Barral insinuou usar R$ 5 milhões para “subornar funcionários públicos e políticos no intuito de alcançar os objetivos do Setps”, de acordo com o inquérito.

Ao conversar com o empresário Marcelo Lima de Santana, proprietário das empresas de ônibus Ondina e Central, Barral fala que, em função do projeto, os seus honorários advocatícios aumentaram de R$ 25 milhões para R$ 30 milhões. “(…) com os R$ 5 milhões na semana que vem e depois eu te digo porque e para onde vai(…)”, disse Barral para Marcelo, no dia 16 de outubro do ano passado, conforme consta no inquérito policial da Expresso.

O documento mostra que as articulações para disputa do projeto começam após Barral descobrir que as construtoras estavam interessadas em executar as obras.

As escutas, em que o advogado fala sobre o projeto, foram gravadas entre agosto e novembro do ano passado.

Ele fala com empresários de ônibus, pessoas da política e da imprensa.

Nas gravações, o advogado pede ajuda ao ministro Geddel Vieira Lima e ao radialista Mário Kertész, na disputa com a OAS e a Odebrecht.

Dono da Rádio Metrópole, Kertész mantém relações com Barral desde que comprou do advogado o antigo Jornal da Bahia, em 1990. O contato com Geddel, seria uma tentativa de Barral buscar apoio político, de acordo com o inquérito policial.

Nas conversas, o advogado agrega donos de empresas de ônibus, para formar um consórcio de empresários do setor, denominado de “RIT”, para disputar a execução e gestão do projeto.

Em outro trecho numa conversa com Marcelo Santana, Barral chama o prefeito de “f.

d. p.” e diz que não tem limite a “sacanagem” de João Henrique (ver fac-símile). A ofensa seria pelo suposto apoio de João às construtoras.

Por Flávio Costa e Marcelo Brandão
Foto: Arestides Baptista | AG. A TARDE
Fonte: A Tarde


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