o minotauro protestante

Por Paulinho Dagomé

Você fica pilhada quando eu erro
Mas eu não erro eu não erro
Eu uso tons dissonantes
E eu não me acostumo com seu berro
Eu me lanho eu me ferro
Mas não mudo meu semblante
E principalmente estou falando sério
Um decibel não altero
ante um fato angustiante
Mesmo que eles me ponham a ferros
Eu to lhe sendo sincero
Sou como quem toma calmantes

Eu protegi a obra de Homero
Das águas num outro hemisfério
E já na cordilheira dos Andes
No quarto escuro de um monastério
Eu decifrei seus mistérios
Depois banhei-me no Ganges
Parti numa caravela com Antero
Por conta de uns bucaneros
Que nunca leram Cervantes
Mas que traziam no espírito férreo
O fogo fátuo etéreo
Dos cavaleiros andantes

E eu consumi tanto ópio com Nero
Que eu disse pêra e ele eu num pero
E com o olhar delirante
Pegou da tocha do gás e do isqueiro
Que quando eu cheguei no terreiro
O fogo tava era longe
Com toda calma que os deuses me dero
Eu disse Nero eu espero
Conforme eu já lhe disse antes
Que você me esqueça e me erre não quero
descer na cova de um cemitério
Como cúmplice de um meliante

Cuspindo eu apaguei o fogo do inferno
Vesti o minotauro num terno
E ele virou protestante
Calei a boca da noite com um berro
Pus no capeta um sombrero
Mas serrei os chifres antes
O dalai lama quase perde o ministério
Pois ele saiu do serio
Num dialogo impressionante
E eu calmo como um camelo e sincero
Disse o teu cargo eu não quero
Quero é o teu lado arrogante

Sou como um seguidor de lutero
Eu desde o útero quero
a paz de um qualquer ruminante
Sou um Buda baiano e me esmero
Em crer que não desespero
mesmo enfrentando gigantes
E mesmo partindo do marco zero
Eu paro eu penso eu pondero
e vou seguindo adiante
Mas quando você fala que eu erro
eu grito eu erro eu não erro
Eu uso tons dissonantes

Poeta, músico, artista plástico, ativista cultural, Paulinho Dagomé, nome artístico de Paulo Sérgio Sena Santos, é filho de Seu teté e dona Jovita, nascido em Vitória da Conquista e mora em Brasília há quase 20 anos. Reside na cidade satélite de São Sebastião, onde promove garndes encontros culturais em forma de saraus.


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