Juscelino Souza e Marcelo Brandão, A Tarde
A perícia encontrou dois projéteis no crânio do adolescente Oséas Belas de Oliveira, 15 anos, que teve o corpo exumado no final da tarde desta sexta, em Vitória da Conquista, distante 509 km de Salvador. A exumação foi solicitada por promotores da força-tarefa do Ministério Público (MP) estadual, que investiga a participação de policiais militares no sequestro e assassinato de 14 pessoas, em represália pela morte do soldado PM Marcelo Márcio Lima Silva, ocorrida mês passado, no mesmo município.
Os projéteis podem identificar de onde partiram os tiros e descobrir se os disparos foram efetuados por armas de PMs. Segundo testemunhas, o rapaz foi sequestrado por militares, junto com mais três adolescentes (Jocafre Marques, 17; Mateus Santos e Vanessa Morais, ambos de 14 anos), sumidos.
A exumação foi solicitada à Justiça pela promotora da Vara de Homicídios, Genísia Silva Oliveira, pois o laudo pericial do corpo, realizado dia 1º, estava incompleto. Não foram realizados exames periciais como a microcomparação balística, dentre outros relevantes para identificação da autoria do crime. Peritos alegaram falta de condições técnicas para a necrópsia, como equipamento de proteção individual, a exemplo de máscaras, luvas e aparelho de raios-X para localizar os projéteis no corpo.
A promotora optou por não dar declarações, mas outro integrante da força-tarefa do Ministério Público, Benival Mutim, disse que “a exumação é necessária para que a perícia seja feita de forma adequada, com laudo de trajetória de bala, comparação balística e de perfuração, para ajudar a elucidar o fato”.
Autorizada pelo juiz Reno Viana Soares, titular da Vara do Júri da comarca de Vitória da Conquista, a exumação foi iniciada por volta das 18 horas, no cemitério do bairro do Kadija, na periferia do município. A movimentação de viaturas policiais no local chamou a atenção de curiosos, que acompanharam os trabalhos do perito médico Walter Bittencourt, junto com uma equipe do DPT, na sepultura 399, localizada na quadra A-588 do cemitério.
Além dos dois promotores, a retirada do caixão foi acompanhada pelo coordenador regional de Polícia Civil, o delegado Odilson Pereira, e pelo tenente-coronel PM Jorge Ubirajara Pedreira, que realizam investigações sobre o caso. Policiais civis do Grupo de Apoio Tático (GAT) ficaram responsáveis pela segurança no local.
Transferido – O corpo de Oséas vai ser transferido, nos próximos dias, para a sede do Departamento de Polícia Técnica (DPT), em Salvador, onde as condições de trabalho e aparelhos permitem realizar todos os exames necessários. Até lá, o cadáver vai ficar sob a guarda de policiais da 10ª Coordenadoria Regional de Polícia do Interior (Coorpin/Vitória da Conquista).
Os promotores ainda não sabem se os exames serão conclusivos, porque peritos suspeitam que os assassinos podem ter adulterado provas, violando o corpo da vítima.
O próximo passo da força-tarefa será ouvir testemunhas e fazer reconhecimento de policiais militares que são acusados por testemunhas. Por enquanto, segundo o promotor, nenhuma das testemunhas buscou o programa de proteção junto ao órgão, mas muitas deixaram suas casas e estão vivendo escondidas em outras localidades da região.
O delegado Odilson Pereira antecipou parte do rumo das investigações: “Já temos vários indícios de que houve extermínio de pessoas e temos nomes de policiais militares denunciados por familiares de vítimas desaparecidas e executadas”. O tenente-coronel Jorge Ubirajara acredita que deve concluir a sindicância que apura o caso até a próxima quarta-feira.