Mais de 25 policias militares de Vitória da Conquista estão na mira do Ministério Público

Alessandro Paes, de 20 anos, suspeito de participar da morte do PM Marcelo Márcio se entregou

Marcelo Brandão, A Tarde

A força-tarefa do Ministério Público (MP) estadual que investiga 14 assassinatos e três desaparecimentos, em Vitória da Conquista – ocorridos em represália pela morte do soldado Marcelo Márcio Silva Lima, há um mês – vai ingressar na Justiça com representação judicial, depois de segunda-feira, 1º de março, contra PMs suspeitos de envolvimento nos sequestros e homicídios no bairro Alto da Conquista.

Depois de colher mais de 30 depoimentos de testemunhas, e de juntar provas materiais, os promotores vão oferecer denúncia contra os PMs que estavam de plantão na noite em que ocorreu a maior parte dos homicídios e raptos, no dia 28 de janeiro, devendo denunciar pelo menos 25 policiais militares que trabalhavam na noite em que foi assassinado Marcelo Márcio e iniciada a sequência dos crimes.

Entre os acusados há pelo menos um oficial PM: O 1º-tenente Dalmo Porto de Assis, lotado no 9º Batalhão da Polícia Militar (9º BPM/Vitória da Conquista). Os outros denunciados são sargentos e soldados da mesma unidade policial e da Companhia de Ações Especiais do Sudoeste e Gerais (Caesg). As informações foram obtidas por A TARDE junto a integrantes do MP estadual.

Fatos – A denúncia-crime do Ministério Público historia o caso, estabelecendo a cronologia dos fatos, de acordo com o depoimento das testemunhas. A onda de violência começou há um mês, por volta das 22 horas do dia 28 de janeiro. Na ocasião, o soldado PM Marcelo Márcio estava na garupa de uma motocicleta particular, conduzida por um colega militar, ambos à paisana, no bairro Alto da Conquista, quando foi assassinado com um tiro na nuca.

O policial que pilotava a moto conseguiu escapar e pediu socorro. O sobrevivente alegou que pretendia visitar um colega que reside no bairro, junto com Marcelo Márcio, quando os dois foram atacados a tiros por traficantes locais, na Rua 15 de Novembro. Ele identificou, inicialmente, dois autores do crime contra o colega, mas depois acusou o adolescente M., apelidado de Jararaca, 17 anos.

Vários veículos da PM realizaram buscas no bairro para localizar os assassinos do policial. Junto com PMs fardados, guarnições da Polícia Rodoviária Federal e da Polícia Civil, além de vários homens com rostos encobertos e portando armas. Os policiais retornaram para as unidades com alguns suspeitos presos com armas e drogas. Mas parte dos PMs do 9º Batalhão recarregaram seus armamentos, colocaram coletes à prova de balas e voltaram para o Alto da Conquista.

Policiais militares fardados e usando veículos da PM, junto com homens encapuzados, são acusados de terem invadido casas, agredido pessoas, sequestrado outras e executado algumas na frente dos familiares. Dois exemplos de assassinatos sumários foram as mortes de Daniel Lacerda da Silva, 24, executado com um tiro na boca, quando estava abraçado à mãe, e Jorge Moreira da Silva, 40, retirado de casa e fuzilado ainda na calçada.

Vanessa Santos Morais, 14, estava em casa, junto com a madrasta, quando PMs fardados e outros homens invadiram a residência à procura da irmã dela, Daniela, namorada de Jararaca. Vanessa foi confundida com a irmã e levada pelos policiais. Além da adolescente, também foram sequestrados e continuam desaparecidos Jocafre Marques Souza, 17, e Mateus de Jesus Santos, 14. Outras vítimas retiradas de casa foram encontradas alguns dias depois, assassinadas, abandonadas em pontos de desova nos arredores do município.


Os comentários estão fechados.