Direto da Praça

Além da serra do Peri Peri                                                       

Por Paulo Pires

Na coluna anterior, afirmei com base nas informações e em parte da pequena literatura ao meu alcance que a questão das drogas e as tentativas de solução ou redução para ela, não podem ser ou ter a abordagem ingênua que estão se lhe dando.

Algumas pessoas me contestaram esbravejando sobre o desserviço que estou prestando, fazendo-me duras críticas quanto ao tipo de análise que expus. Algumas chegaram a ridicularizar minhas informações chegando a considerá-las como megalomaníacas. Penso ser necessário esclarecer algumas coisas.

A primeira delas é que não considero as ações dos órgãos locais envolvidos diretamente com o problema – Polícias, MP, OAB, Casas de Acolhimentos, etc. etc. – inúteis ou desnecessárias. É justamente o contrário. O que afirmo é que essas ações são apenas lenimentos para uma Hecatombe Social com desfechos dramáticos que os entorpecentes estão a provocar em todo o Ocidente. Parece que neste ponto não há o que discutir.

Contrariando os que discordam de mim, informo que mantenho da minha trincheira a opinião de que as drogas não podem ser avaliadas apenas como uma questão de Polícia. E digo mais: A Polícia tem limites de atuação e em alguns casos tem sido até motivos de injustas críticas. Acrescento ainda, neste sentido, que quando a Sociedade não colabora não há aparato policial no mundo que possa conter o furacão dos entorpecentes. A tragédia se manifesta quase como um fenômeno da natureza e, portanto não pode ser contido com blá, blá, blás e passeatas – com todo respeito – planejadas por pessoas de bom coração. Isso pouco ou nada resolve.

Quase todas as sociedades contemporâneas vivem hoje esse drama. E, conforme afirmei, não vão ser duas ou três ações com meia dúzia de agentes que vão resolver a questão. O problema é gravíssimo.

Embora não devesse fazê-lo, diria que Vitória da Conquista é uma cidade situada ao sudoeste da Bahia, dentro de um contexto nacional, relacionando-se em seu quotidiano comercial, industrial e socialmente com quase todos os demais Estados e cidades da federação. A cidade não é uma Ilha separada das vicissitudes e das mazelas que atingem a Pátria. Pensar que solucionar o problema local vai acabar com os males que nos afligem, é o mesmo que se preocupar com os primeiros vermes que estão “almoçando o boi” sem cuidar dos urubus (abutres) que já estão circulando sobre o espaço superior do moribundo. A coisa é grave…

Daí faz-se necessário voltar às observações de Alain Brousse: “A questão das drogas não deve ser tratada apenas por agências isoladas. Faz-se necessário e urgente um grande esforço multinacional para reduzir o ataque dos entorpecentes”.

Hoje, 24/03/10, uma comissão da ONU esteve no Brasil para firmar uma parceria. A Agência Brasil deu o seguinte noticiário:

“O governo brasileiro recebeu nesta quarta-feira, representantes do Escritório das Nações Unidas sobre Drogas e Crime (UNODC) e da OMS (Organização Mundial da Saúde). A missão internacional tem o objetivo de discutir um programa global conjunto voltado para a promoção do acesso ao tratamento e à assistência integral e humanizada para usuários de álcool e outras drogas”.

“De acordo com o representante do Escritório Regional do Unodc para o Brasil e Cone Sul, Bo Mathiesen, o debate precisa envolver a atenção integral ao usuário de drogas, por meio do respeito aos direitos humanos”.

Diria – e peço perdão pela ironia – que no momento em que ampliarmos nosso olhar e fazê-lo ultrapassar a Serra do Peri Peri compreenderemos definitivamente que a droga é um problema Social Mundial e não apenas um evento que possa ser solucionado na esfera de Governo ou Policial local. É isso aí…


4 Respostas para “Direto da Praça”

  1. Ricardinho Benedictis

    Creio estar diante de uma lúcida explanação sobre o assunto, porém sou dos que acreditam nos estudos antropológicos de onde se debruçam os estudiosos que sempre apontaram para a existência de drogas nas sociedades, fato histórico.
    O controle do uso e venda pelo ESTADO, constitui-se na unica saída democraticamente correta, levando-se em consideração que o individuo merece a leberdade de escolher, inclusive se quer ou não fazer uso desta ou daquela substância. Seja alcool ou entorpecentes.
    Acabando o estado com a figura do TRAFICANTE, 99% dos crimes relacionados a droga estarão à mercê da articulação e da inteligência do estado!

  2. baltazar

    A foto do professor, na melhor pose de “bon vivant laissez-faire”, ilustra perfeitamente a abordagem com a qual o tema é tratado: no mais puro deboche!
    Direto da Praça, para explicar como as drogas invadiram o Brasil “pra valer” nos anos recentes, talvez seja necessário que o professor mergulhe na pesquisa sobre as ligações do governo do presidente Lula com os “narco-guerrilheiros” das Farc, notáveis produtores de cocaína nas matas colombianas.
    Outro ponto a explicitar diz respeito a qual política de assistência aos dependentes químicos o governo federal desenvolve, por exemplo, em Vitória da Conquista, com o intuito de amparar a população atolada no álcool, nas anfetaminas, na erva, no pó e no crack.
    O resto, como diria Zeca Baleiro, “é perfumaria”.

  3. Campeão

    Pelo visto e dito.Tem muitos querendo a “descriminalização” das drogas.Como se isto resolvesse o problema!.Sequer imaginam,se viesse a ocorrer a tal “descriminalização”,haveria um aumento estratosférico do cosumo .Até mesmo por curiosidade de muitos adolescentes e mesmo adultos!!!.Prevaleceria, a lei de mercado, da oferta e procura.De duas, uma, ou o trafíco retornaria triunfante e imbatível para satisfazer a demanda.Ou, seria feita uma reforma agrária nas terras improdutivas e mesmo produtivas,fim de abastecer os consumidores.

  4. Campeão

    O indivíduo terá a liberdade de escolher.Tornando, em virtude dessa escolha um escravo da droga ou das drogas!.Raros, são os casos, em que o indivíduo tem a liberdade por conta própria de escolher se livrar dela – A DROGA!.

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