Direto da Praça

Paulo Pires

Uns 10 Mandamentos

Ontem uma amiga enviou um e-mail criticando alguns textos que escrevo e asseverou que sua avaliação se sustenta em constatações de que a maioria das minhas abordagens não apresente ou aponte caminhos ou mesmo tons afirmativos para questões que gosto de trazer a tona.  Por uma questão de justiça, não deixo de lhe dar razão. Ocorre apenas um pequeno detalhe: Os meus comentários não se propõem de forma alguma a ser judiciosos e arrogantes. E diria ainda em relação a esse tipo de critica, que mesmo quando tenho certeza de alguma coisa, jamais a defendo com veemência. Esta lição me foi ensinada por um grande sábio: “Existe mais coisas entre o Céu e a Terra do que possa imaginar nossa vã Filosofia”. Só os sonhadores e ingênuos são judiciosos, sentenciosos, terminativos…

            Quem sou eu para afirmar qualquer coisa. Gosto de ir devagar com o andor. Não posso deixar de assinalar que isto me rende duras críticas. Alguns amigos, na minha cara, dizem que este relativismo filosófico imprime à minha personalidade uma desconfiança científica e moral que aos poucos fazem decair meu prestígio (será que tenho algum?) como homem de conhecimento e educação. Como não estou mais preocupado com prestígio ou reverências, dou risadas dessas críticas e continuo falando minhas bobagens.  Em resposta repito e reativo uma pequena lição do meu mestre Darci Ribeiro: ”Gostem de mim do jeito que eu sou. Não tenho mais tempo para melhorar”.

             Voltando às questões de opiniões e pontos de vista, reafirmo que uma coluna como esta [Direto da Praça] ou mesmo a outra que escrevo [Academia do Papo] nunca tiveram a pretensão ridícula de se pronunciarem como anunciadoras ou reveladoras de verdades filosóficas e/ou científicas. A única e pequena preocupação que tenho em relação a quem as lê é que concluída a leitura, as pessoas se indaguem se vale a pena refletir sobre o que acabaram de ler. Só isso. Hoje todo mundo sabe que verdades científicas aos poucos vão deixando de ser verdadeiras e o pior: Quem as anunciou como definitivas deixaram de figurar no rol dos Grandes Homens e ficam esquecidos para o resto da História nos prateleiras dos Estoques de Pensamentos e Conceitos Perdidos.  Estou fora disso!

            Gosto mesmo é de botar caraminhola na cabeça das pessoas. De preferência sem “afetação”, tão característico dos detentores de verdades. A verdade, onde está a verdade? Eu desconheço quem saiba. Embora alguns insistam que sabem perfeitamente onde encontrá-la. Quando os ouço, fico com impressão de eles se “acharem” semideuses. De minha parte nunca esqueço: Eu sou apenas um pobre amador, um aprendiz trabalhando a flor que me escapa como um raio prá se abraçar com a primavera.

            Reconheço ter uma visão de mundo meio atrapalhada, mas com a idade que tenho já me considero um vitorioso, considerando minhas discordâncias em relação a tanta coisa que vivi. Uma das regras para você hoje se dar bem na vida é não discordar de nada. Chamam a isso politicamente correto. Não estranhar nada é a mais nova lição que cabe ao homem contemporâneo aprender. Claro que isso é uma extensão de uma advertência de Terêncio: “Nada que é humano me é estranho”.

            Mais uma vez afirmo a quem lê meus escritos que não esperem nada pretensioso. Eu não sou Moisés, a quem Deus confiou os Dez Mandamentos e muito menos um “cientista ou filósofo”. Sou um ignorante que gosta de falar com pessoas. Lembro que mesmo Moisés quando desceu o Monte Sinai e viu aquela algazarra toda – em torno do besouro de ouro feito por Arão – desistiu de continuar levando o rebanho para a Terra Prometida. Eu também desisti há muito tempo. Para mim, quem quiser que ache o seu caminho. Não indicarei nada a ninguém senão o ingênuo só vai chegar até onde cheguei. É isso aí…


Os comentários estão fechados.