Direto da Praça

 Nós e Eles: O lado positivo de um Balaio de Gatos

Por Paulo Pires

O jornalista Herzem Gusmão usou em comentário recente, uma expressão político-partidária que deve ter deixado o pessoal do PT baiano chateado: PT- CARLISTA. Isso mesmo. Eu diria aos que ficaram chateados, que não fiquem assim.  Isso é perda de tempo. A expressão “trazida ou inventada” por Herzem é fiel aos fatos e por causa disso não merece reprimendas. O PT da Bahia albergou em seu alinhamento um conjunto de políticos criados, educados, doutrinados e destacados na política baiana e nacional dentro das concepções políticas do lendário corifeu udenista Antônio Carlos Magalhães. Qual é o mal de outrora eles terem integrado o Carlismo? Não vejo nada de anormal nisso.

Para os que me acham maldoso, quando na realidade procuro me manter fiel ao que sempre pensei, acrescento  que durante toda a minha vida nunca vi diferenças substanciais entre estar contra ou ser do lado de ACM. Para mim sempre foi tudo a mesma coisa. Claro que o estilo do velho político baiano deixava os adversários indignados em face do seu espontâneo autoritarismo. Hoje as vestais da política e da sociedade baiana percebem claramente que o estilo ACM é o mesmo produzido por quem o sucedeu, evidentemente com sutilezas e rapapés que redundam numa bela desfaçatez, cuja obnubilação faz com que as massas não associem um estilo a outro. No fundo: tudo ilusão…!

Alguém aí mais uma vez vai querer me censurar pela afirmação acima. Eu diria a esse alguém para não ficar com raiva. Sou anarquista e por isso desiludido com tudo ou quase tudo. Não creio em quase nada e são raras as coisas que me entusiasmam. Sou um lobo hidrófobo, como diria Paulo Francis. E por falar em Francis, em certa ocasião ele se pronunciou com a seguinte sentença: “Todo iconoclasta, um dia, deseja ser mito”. Ele escreveu isso no final dos anos 60 e de lá prá cá, constatei que ele, Francis, um dos mestres da ironia nacional estava certíssimo. Todo político ou ser humano que deseja “derrubar” outro, certamente tem como intenção ficar ou tomar o seu lugar. A história da política mundial, com raras exceções [Mandela], confirma isso.

Uma coisa, porém, é certa: O Brasil hoje vive um clima de construção coletiva. E os partidos políticos, conscientes ou inconscientemente, perceberam que só há uma forma de viabilizar a governabilidade dos entes federativos: Aglutinando-se para cumprir o seu desiderato. Este processo de aglutinação ou coalizão na Política, guardadas as peculiaridades, há mais de décadas é praticado no Mundo Empresarial e recebe o nome de Fusão.

Seria quase certo afirmar que no campo da teoria política estamos nos situando ao lado dos países que desenvolveram o bipartidarismo [PT x PSDB]. Mas isto funciona entre nós apenas no campo das aparências. Como não possuímos uma tradição partidária (exceto o PC do B que aos poucos vai desconstruindo aquela imagem de que os comunistas eram comedores de criancinhas), as grandes massas não se sentem incluídas como cidadãos ao ponto de declararem politicamente que pertencem ao partido A, B ou C. Já no futebol todo mundo declara ter um time… Na Política estamos muito longe disso. Nossos partidos ainda são muito inexperientes e alguns, porque não dizer, são inteiramente incompetentes para levar para as suas hostes o maior número de pessoas identificadas com os seus programas e ideários políticos.

Aos que ficam espantados com as “alianças”, coligações, aglutinações e coalizões, eu relembro o apoio de Luiz Carlos Prestes a Getúlio lá pelos idos de 1946, pouco tempo depois de o velho Getúlio ter mandado “sumir” com a mulher [Olga Benário] do velho comunista Prestes. Este simplesmente disse que o seu “drama pessoal” não contava quando ele tivesse pela frente o “drama do seu País”. O fato é que aquele “velho bipartidarismo inercial” da UDN versus PSB ou UDN versus PTB, deixou de existir. O que temos hoje é uma Democracia com mais de uma dezena de Agremiações Partidárias (a maioria fragilíssima) que bem administrada politicamente consegue tirar proveitos e oportunidades para que o País tenha governança pública capaz de desenvolver material e socialmente todo o Povo Brasileiro.            

O lado positivo dessas múltiplas possibilidades de coalizão é que hoje, com a queda do Muro da Moral, onde todos mostraram ter “Culpa no Cartório”, é possível fazer coligações de todo jeito. O Povo entendeu que não convém a nenhum político ficar falando em “Eles e Nós”. E compete a ele, povo, a vigília, a análise, a crítica e se for o caso, o expurgo dos sujeitos que não estão atendendo aos nossos anseios. Nunca deixar de vigiar para que o Balaio de Gatos não se transforme em um Balaio de Ratos. Neste caso, é hora de envenenar o queijo (eleitoralmente falando) para que o Rato morra na próxima ou nunca mais se candidate. É isso aí…


Uma Resposta para “Direto da Praça”

  1. Eng.W. Anunciação

    O “Carlismo” se assemelha a uma moeda – Possui dois lados.A Bahía, pelo visto não pode sobreviver sem um desses lados.

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