Direto da Praça

Paulo Pires

Introdução mirim a dois assuntos palpitantes

1)    Complexo de inferioridade

Com o relançamento do livro O Cinematógrafo de Paulo Barreto – cronista João do Rio –  o povo brasileiro pode fazer um breve exame de como se comportavam nossos conterrâneos ao final do século 19, início do século 20. Diz o aclamado cronista que notava nos compatriotas verdadeiro desprezo pelo País. Alguns representantes das classes mais abastadas proclamavam escancaradamente que conhecer o Brasil era inútil, afirma com desilusão o escritor.

Pelo que se depreende após leitura da obra é que a pratica esportiva da burguesia de então consistia no uso dos equipamentos da academia da vida, para praticar exercícios psicossociais de rebaixar o acervo de conhecimento relacionado a nossa língua, vestuário, hábitos pessoais, relações comerciais, sociais, modo de produção, gosto literário, teatro e o escambau. Se voltarmos a um passado recente, recordo que até o final dos anos 50 do século 20, quando se pretendia ridicularizar uma coisa no Brasil dizia-se, num misto de ingenuidade e baixa estima, que aquela coisa era um “produto nacional”. Vejam a que ponto chegou nosso complexo de inferioridade.

A herança colonial introjetou em nosso espírito uma sensação de nulidade que só agora recentemente, de uns trinta anos para cá, é que estamos conseguindo o expurgo. Conforme o samba de Paulo Vanzolini, conseguimos levantar, sacudir a poeira e dar a volta por cima. Tomara que alguém aí não pense que só a partir do Lula elevamos nossa auto-estima.

2)    Twain e Sartre: dois gigantes contra o Imperialismo                                  

            Mark Twain, um dos gênios da literatura americana e o filósofo e escritor francês Jean Paul Sartre tinham algo em comum: o desdém pelo chamado expansionismo, colonialismo e/ou imperialismo. Esses dois consagrados homens de letras e idéias se somaram em tempos distintos para manifestar, no melhor sentido do termo, suas repulsas pelo modus operandi de como as suas nações “acumularam capitais”. Realmente, se avaliarmos em uma retrospectiva histórica o que fizeram essas nações para se tornarem grandes potências, haveremos de entender porque este Planeta é tão desarrumado. A coisa é séria. O Interessante é que no caso dos Estados Unidos, que começaram seu período pós-independência (sete anos de guerra com auxílio da França e da Espanha contra seus “irmãos” ingleses), assumiram inicialmente o que lhes disse George Washington no discurso de despedida em 1796: “evitar alianças permanentes com qualquer parte do mundo estrangeiro”. Em 1801, o lendário Thomas Jefferson na mesma linha se pronunciou em famoso discurso: “a paz, o comércio, a amizade sincera com todas as nações, mas alianças com nenhuma delas”. Isto significava total neutralidade e não alinhamento com ninguém. Depois a coisa “degringolou” e a desgraça do imperialismo exploratório se instalou no Planeta. Franceses e americanos, dentre outros, deitaram e rolaram pelo mundo. Depois conto mais. Agora é com vocês… Mas peço que vejam o que os imperialistas fizeram e tirem daí análises serenas, desapaixonadas, desideologizadas… O fato é que Sartre, em 1964, estava tão desiludido com a história expansionista do seu País que ao ser comunicado da escolha para o Nobel, recusou-o e disse que o prêmio o comprometeria perante a independência de estar, por exemplo, ao lado dos argelinos, explorados pela sua França. É isso aí…


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