Dilma e Serra: semelhanças e dissemelhanças
Por Paulo Pires
O presidente Lula da Silva, alternando atitudes sectárias com momentos de discutível imparcialidade, afirma vez por outra que dada a qualidade dos candidatos, o Brasil contará com um bom presidente seja quem for o eleito [ele se refere evidentemente a Dilma e Serra]. Para esclarecer esta afirmação – e aí ele não consegue esconder justificável jactância – diz: o futuro presidente ou a futura presidente, diferentemente do País que ele, Lula, pegou, encontrará uma Nação arrumada. Alguns certamente discordam ou discordarão do senhor Lula. Outros, como eu, em tese, concordamos com a afirmação do presidente. Em 2002, no dizer de doutor Delfim Neto e outros renomados economistas, o país estava literalmente quebrado [estava mesmo!]. Contas públicas estouradas, endividamento enorme, déficit fiscal gigantesco, salário mínimo de 78 dólares, reservas monetárias zero, política cambial na contramão, relações internacionais e comerciais voltadas em sua maior parte para os EUA, equívocos por cima de equívocos. Um dia, doutor Fernando Henrique perplexo com a situação não agüentou e fez uma declaração patética: “Este país é ingovernável!”.
Deixando de lado o passado, vamos direto a dois personagens do presente cujas sombras e pegadas estarão nos próximos meses [e anos] em nosso quotidiano: Dilma Roussef e José Serra. Dois candidatos, na visão do presidente, excelentes. Concordo com o Lula em tese. Antes, porém, confesso ser meio ranzinza em matéria de gente. De vez em quando gosto de fazer observações sobre pessoas com as quais tenho e terei de conviver. Por isso faço perguntas: O que aproxima e afasta um candidato do outro? O que eles tem de iguais e de diferentes? Vamos ver? A seguir tentarei enumerar “traços” de suas personalidades e adianto logo: não há em minhas observações nenhum conteúdo de caráter científico, filosófico, religioso. Freud e seus colegas? Nunca li. Portanto, são observações pautadas no mais primário dos sensos comuns. Nossas observações:
1) Dilma e Serra são oriundos da mesma fonte estudantil marxista, socialista;
2) Ambos ingressaram cedo na militância política, via atividades acadêmicas;
3) São incrivelmente despossuídos de carisma (*);
4) Acumulam em suas biografias sofrimentos passados no Golpe de 1964;
5) Serra se propôs enfrentar o Golpe pelas vias do preparo acadêmico (fez-se doutor em Cornell – EUA); Dilma empunhou armas e acabou tomando porrada em quartéis (posteriormente ingressou no mestrado e no doutorado da Unicamp mas não depositou nem a Dissertação nem a Tese); Na internet, o currículo de Dilma corre o mundo apresentando-a como terrorista assaltante de bancos e o de Serra como um homem de bem;
6) Serra, nascido em 1942, é filho de um barraqueiro vendedor de frutas e de uma senhora prendas domésticas ambos de São Paulo; Dilma é oriunda da classe média alta de Minas Gerais onde nasceu em 1947;
7) Serra faz parte do grupo acadêmico de São Paulo. Hoje tem como convicção que o Neoliberalismo é a grande alternativa e por isso defende o Estado mínimo. Dilma se agrupou de forma não mais clandestina ao pessoal do Rio Grande do Sul e posteriormente se tornou a preferida de Lula em São Paulo. Defende convictamente o Estado como principal mediador dos processos sócio-econômico-naturais e o faz com grandes críticas ao Neoliberalismo;
8) Serra tem um discurso envolvente, bem alinhavado, com começo, meio e fim. Dilma insiste numa retórica meio claudicante, onde mistura frases de efeito com dados econômicos que interessam pouco às platéias e por isso as pessoas dão tantos muxoxos para os seus discursos;
9) Apresentam-se em público com os seguintes argumentos. Serra diz quais são os projetos do PSDB para o futuro. Dilma fala das “maravilhas” do nosso presente e recorda o que o PSDB fez no passado.
10) Serra com o seu modo discreto de ser, esconde as barbeiragens do governo Fernando Henrique. Dilma a todo instante enaltece as virtude do governo Lula e vangloria-se de estar com ele [e ele estar com ela].
(*) Lembrar que Carisma, hoje, é uma característica considerada por alguns cientistas, americanos principalmente, que não se traduz como algo positivo. Ao contrário. Os líderes carismáticos são considerados “pesos” para os quais os Partidos devem encontrar formas de tratamentos normais, sem lhes dar a distinção que “eles” pensam que o mundo lhes deve. A tese é de um aclamado professor de Princeton, Richard Sennett, em sua obra O Declínio do Homem Público. É isso aí…