Direto da Praça

Devaneios sobre educação

 Por Paulo Pires

Após ouvir o professor José Marcelino de Rezende Pinto, Faculdade de Filosofia Ciências e Letras da USP, caí na tentação de fantasiar sobre aspectos da educação brasileira. Por que continuamos tão atrasados?  Por que continuamos patinando [e nos arrepiando] quando verificamos os resultados apresentados pelos nossos jovens? E o que dizer do perfil psicossocioprofissional dos nossos docentes? Nossa educação é ruim porque ficou assim agora? Ou é ruim porque sempre foi assim?  Dizem os historiadores que quando Dom Pedro II conheceu Domingos Sarmiento, um dos melhores presidentes da Argentina em todos os tempos, ficou impressionado quando o argentino lhe falou sobre a política educacional do seu País.

            Ora, pois. Se naquele final de século 19, a comparação dos nossos sistemas educacionais já nos infligia uma derrota acachapante, deduz-se daí que as sombras atingem nossa educação há muito tempo. Mestre Darci Ribeiro bradava em alto e bom som que “era desagradável admitir, mas o Paraguai – sem querer desmerecer nosso vizinho – possuía um sistema de educação básica melhor que o nosso. O Brasil ainda hoje mal consegue colocar os meninos em sua rede escolar para cumprimento de apenas um turno. Que país é este?

            O professor Marcelino declarou-se impressionado com o modelo de gestão educacional que encontrou no Estado da Califórnia e que – pasmem – praticamente se estende a todos os estados daquela grande Nação. Prá começar, diz ele, não existe escola municipal e escola estadual. Lá a questão educacional é federal. As famílias não ficam preocupadas em “colocar” os filhos numa estadual porque esta é melhor que a municipal. Todas, teoricamente, são iguais. Outros aspectos a serem considerados estão relacionados aos modelos de gestão.  A econômico-financeira fica a cargo do município e a didático-pedagógica e todos os assuntos acadêmicos ficam no âmbito e competência dos Conselhos de Educação de cada Unidade Escolar. Estes são eleitos diretamente pelas comunidades onde se localizam as unidades.

            O que se verifica neste modelo é que há um procedimento cirúrgico que erradica de vez a intromissão político partidária. O vereador ou lideranças de partidos mais votados e/ou coligados não indicam diretores ou diretoras de escola, e estes por sua vez, eleitos diretamente pela comunidade, sentem-se totalmente seguros para cumprir suas tarefas longe de amarras ideológico-partidárias. Em cada Unidade sente-se no ar um enorme alívio profissional. O exercício da função educativa é feito com independência política. Nada como sentir-se desobrigado com quem não entende bulhufas de educação.
Existem pessoas que só a enxergam como instrumento de Poder. No caso brasileiro persiste essa aberração. O que se tem de ineptos para o exercício reflexivo-filosófico da educação é uma grandeza. E, pior, é que se imiscuem no assunto como se fossem doutos. O que é lastimável. Nos Estados Unidos os conselhos que compõem as escolas são subdivididos em núcleos ou áreas de atuação, dentre os quais se destacam: Os disciplinares, de acompanhamento de conteúdos, de transversalidade dos saberes, de participação dos pais, de processos avaliativos de alunos, professores e instituição [dentre outros], os quais asseguram acompanhamento [follow up] das atividades acadêmicas na instituição. Constata-se a partir daí gestões com competência para analisar e ajustar metas e objetivos dentro de rigorosa tempestividade.

            É certo que mesmo lá, não existe perfeição. Verificam-se entropias para as quais se adotam homeostasias assegurando ao Sistema pelo menos 80 ou 90% do desejável. Ao final de cada período letivo é possível concluir que a maioria das metas e objetivos foram alcançados. O sentimento é de vitória.

            O Brasil precisa rever urgentemente seus planos para educação e simultaneamente seu modelo de gestão. O primeiro erro? Nossas matrizes curriculares tratam os alunos como se todos fossem iguais. O que não é verdade. Segundo erro? Os tempos de duração para reconhecimento do aprendizado. Cada ser humano tem seu tempo. Mas  nossos currículos insistem em homogeneizar os processos cognitivos individuais em uma coletivização que nem os socialistas utópicos subscreveriam. Terceiro erro? Ainda são e estão obscuros como se processam as relações envolvendo Sociedade, Aluno, Instituições, Famílias, Professores e Estado. Quarto erro? A secundarização da profissão  Professor.  Precisamos ajustar nosso cenário com urgência e profundidade. A sociedade precisa se lembrar que Professor faz parte do Sistema e que as núpcias inesquecíveis da juventude com as tecnologias são apenas paixões tórridas [dos primeiros encontros] que estimulam a excitação dos jovens com o surgimento das novas máquinas. Não nos esqueçamos que estas logo se obsoletizam.  Portanto, há outros atores e fatores que também não podem ser secundarizados: Os projetos pedagógicos, os planos de cursos, a transversalidade dos componentes nas matrizes curriculares, a mediação dos professores, verdadeiros agentes de esclarecimentos cujas experiências e humanismos se impõem como imprescindíveis. Professores são responsáveis diretos por trocas e relações explicativas no campo do saber. Não adianta prédios suntuosos e tecnologias de ponta. Se não houver compromissos inter/entre pessoas e instituições materializando ações objetivas para aprimoramento do conhecimento, adeus boa educação.  É necessário compreender definitivamente que os elementos materiais por si só não funcionam. Além dessas questões, subjazem outras que a poucos é dado cuja essencialidade não permite ver em um primeiro momento. O essencial é invisível aos olhos. Mas que nossa educação continua claudicante, isso continua… É isso aí.


Uma Resposta para “Direto da Praça”

  1. Edneilton

    Olá querido professor Paulo Pires,parabéns pelo texto! tenho lido suas produções nos blogs, e você tem dado uma contribuição de qualidade, o que nos motivo a leitura, em meio a muitas matérias
    com pouco conteúdo. A sua leitura sobre a educação brasileira é enriquecedora, pois propicia a reflexão, na perspectiva da busca de caminhos que conduzam a uma educação pautada na qualidade e reconhecimento de seus profissionais. Cordialmente,
    Nei/UESB.

Os comentários estão fechados.