Por Geraldo Reis
Embora seja a terceira cidade baiana em população, com mais de 300 mil habitantes (IBGE/2009), Vitória da Conquista vinha sendo uma cidade discreta aos olhos da opinião pública até a recente onda de violência. Conhecida pelo clima frio, situada a cerca de mil metros de altitude e em uma região de transição entre a mata e a caatinga, a cidade é um centro regional de serviços que atrai grande parte da riqueza de uma vasta região, mas também é receptora de grande parte da pobreza. Sua personalidade advém da redundância do próprio nome.
Suas tradições e cultura estão mais próximas de Guimarães Rosa do que da baianidade de Jorge Amado. Sua pluralidade cultural gerou filhos como Glauber Rocha, Elomar Figueira, Luiz Caldas e Ricardo Castro. É uma cidade que combina conservadorismo comportamental e progressismo político. Foi vanguarda na Bahia na resistência ao regime militar e às oligarquias baianas.
Do ponto de vista econômico, Vitória da Conquista sempre se caracterizou como forte entreposto comercial e entroncamento rodoviário, característica reforçada com o asfaltamento da BR-116, iniciado na década de 60. Nos anos 70, inicia-se a implantação da cafeicultura na região. Em 1975, o município recebe o Distrito Industrial dos Imborés, polo que abre frente para uma atividade industrial diversificada. Mas o fator que moderniza a cidade e aprofunda a transição para uma feição de sociedade de massa é a criação, em 1981, da Universidade Estadual do Sudoeste, um impulso econômico com incidências até a atualidade.
No plano político, o esgotamento de um determinado ciclo de poder e de suas lideranças, em 1996, levou a cidade a abraçar outro bloco de forças políticas e intelectuais, hoje na quarta gestão. Essa atual experiência administrativa levou a uma nova inflexão na estratégia de desenvolvimento, sustentada na racionalidade administrativa, modernização dos serviços e foco no social, sobretudo nos setores de educação e saúde, consolidados como novos vetores de desenvolvimento.
Nesse contexto, a cidade atraiu novos centros universitários, concentrando hoje cerca de 10 mil estudantes. A partir do novo plano diretor, o município teve a capacidade de captar recursos e melhorar a funcionalidade e a estética urbanas, o que possibilitou novas externalidades na área privada, a exemplo de shoppings, da verticalização da construção civil e de grandes redes atacadistas e de distribuição.
O resultado desse processo é corroborado por um salto nos indicadores econômicos. O município saiu da 11ª para a 7ª posição no ranking estadual do PIB, de 1999 a2007. OPIB nominal passou de R$ 1,06 bi para R$ 2,37 bi, entre 2002 e 2007. A renda per capita passou de R$ 3.895 para R$ 7.700, nesse mesmo período.
A economia continua despolarizada, com serviços e comércio cada vez mais complexos, um povo empreendedor e uma poupança interna acima da média das cidades baianas.
Apesar do grande avanço que o Índice de Desenvolvimento Social (IDS) aponta para Vitória da Conquista, passando do 8º para o 4º lugar entre 2002 e 2006, a violência, levada especialmente pelo crack, adentrou a periferia da cidade, o que requer uma ação coordenada das esferas federal, estadual e municipal, mas também uma ação permanente da sua ativa sociedade civil.
Além desse desafio, seus dirigentes devem estar atentos às novas transformações econômicas e territoriais que vêm ocorrendo na Bahia, em função da estratégia de desenvolvimento que traça novos corredores de transporte no sentido leste-oeste. Portanto, é correta a mobilização de lideranças governamentais e empresariais para dotar Conquista de um novo aeroporto regional e de um equipamento de logística que reforcem seu perfil de entreposto comercial. Também merece registro a necessidade de fortalecer sua condição de cidade universitária, buscando transformar o atual campus da Ufba em uma universidade autônoma, a exemplo do que ocorreu em Barreiras.
Trata-se de pensar um centro econômico dinâmico, com oferta de serviços cada vez mais complexos,que possa fazer parte de uma rede maior de médios e grandes centros urbanos, atraindo novos fluxos de bens,serviços e pessoas.
2 Respostas para “Conquista: que cidade é essa?”
luiz
Em resumo: somos uma grande cidade, mas que ainda é discretamente visível aos olhos do governo baiano. Sob os pontos positivos citados, graças a iniciativa privada que conseguimos esses avanços. Se fosse depender do governo, não estaríamos como estamos hoje. Somos a terceira maior cidade baiana, no entanto não temos órgãos públicos sediados em nosso território – ainda somos comandado por cidades menoresmas. Sendo considerado uma cidade polo regional, ifelizmente ainda não conquistamos a indepedência total – como exemplos citados por outros leitores: A Caixa Economica Federal tem uma superintendência que comanda as regiões sudoeste e sul e sua sede é em Itabuna; a policia rodoviária estadual é sediada em Brumado; o corpo de bombeiros tem sua sede em Feira de Santana. Isso fica claro que nossa região, cuja cidade tem mais de 318.000 habitantes e com uma economia de destaque, não é devidamente valorizada.
Osmar Alves de Oliveira
Vitória da Conquista, pela sua população, pela sua dimensão territorial, pela sua localização geográfica, pela sua capacidade de gerar rendas, pela sua pujante economia, pela sua cultura, pelo polo educacional que possui, pela sua tradição de resistência em prol da democracia, por tudo isso, ela merece estar nas páginas dos jornais como uma cidade bela, estruturada, segura, tranquila, que oferece boa qualidade de vida aos seus habitantes e não como uma das mais violentas do País.
Durante décadas, os governos estaduais e federais viraram as costas para a nossa cidade, negando-lhe os investimentos públicos estruturais devidos por direito.
Nos últimos anos, a cidade tomou novo impulso e visibilidade no cenário baiano e nacional, não obstante ainda vir sofrendo com a paralisia e a omissão do poder público municipal constituído, fato que vem deixando a população intranquila e insatisfeita.