Alberto Marlon Oliveira
No último 23 de maio o primeiro ministro japonês chegou com sua comitiva à reunião. No semblante, a aparência abatida e derrotada transparecia. Reunidos, moradores da ilha de Okinawa, juntamente com o governador da província, aguardavam as primeiras falas do representante da nação japonesa. Diante da platéia, Yukio Hatoyama curvou-se, em forma de reverência, e começou: “Peço desculpas do fundo do meu coração pela confusão que causei ao povo de Okinawa por não ter conseguido cumprir minha promessa.” Diante do silêncio, orientalmente disciplinado dos ouvintes, Hirokazu Nakaima, governador da ilha, rebateu: “Eu devo dizer que sua decisão é extremamente lamentável e difícil de aceitar”. O primeiro ministro calou-se, terminou a audiência e, diante dos milhares de manifestantes que gritavam do lado de fora, saiu o mais rápido que pôde. Hatoyama, que chegou ao poder em setembro do ano passado, tinha prometido revisar o acordo, que permite o funcionamento de uma base norte americana na ilha, mas a rejeição dos Estados Unidos em modificá-lo o colocou em uma situação difícil.
A cena acima merece destaque porque dá para fazer um paralelo com nossa realidade política. Imagine o presidente pedindo desculpas públicas a um governador. Além dos séculos que separam nossa cultura da japonesa, existe um abismo moral entre nós e eles. Se pudéssemos ser como os japoneses, cenas como essas seriam comuns, sem contar os chocantes harakiri (ritual em que, o japonês honrado, diante de iminente vergonha, comete suicídio, abrindo o próprio ventre com uma espada). Diariamente somos assaltados por notícias de escândalos, maracutaias e promessas não cumpridas de maus políticos que apostam na escassa memória dos brasileiros.
Em ano de Copa do Mundo e eleições para presidente e governador, tais reflexões são indispensáveis. Costuma-se dizer que o Brasil é o país do futebol e que somos uma nação de técnicos. Todos opinam, discutem a escalação da seleção de futebol e, como se esse tema fosse crucial para a sobrevivência do país, travam-se debates apaixonados. Quanto à política, há um consenso de que esse é um assunto menos importante, destinado aos iniciados ou especialistas. Costumamos confundir política com politicagem e colocamos todos os políticos no mesmo saco: corruptos e desonestos. Esquecemos, ou nunca soubemos, que política é a arte de administrar os interesses da coletividade, é o elo que propicia ao ser humano um “viver junto”. Inevitavelmente todos os interesses da sociedade passam pela política: educação, saúde, emprego, segurança, trabalho. O porquê de tanto desinteresse por temas que nos são tão caros? Por que delegamos nossos recursos e, de certa forma, nossas vidas a pessoas que mal conhecemos e, depois de eleitos, pouco procuramos saber como essas pessoas estão administrando nossos interesses? Talvez a raiz do problema esteja em nossa cultura de passividade colonial, ou uma crônica preguiça macunaímica para com os interesses de todos. Várias são as perguntas e hipóteses. Enquanto isso, nos especializamos cada vez mais em futebol, palpitamos, desenvolvemos verdadeiras teses, paramos as atividades nos dias dos jogos e, a cada vitória da seleção, sentimos como se fossemos o melhor país do mundo. Os maus políticos agradecem.
Temos muito que aprender com o Japão.
Perfil: Alberto Marlon é graduado em Comunicação Social, com habilitação em Jornalismo e pós graduando em Comunicação e Política, pela Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia – Uesb. Trabalhou como assessor nas últimas campanhas para prefeito na cidade de Vitória da Conquista. Atualmente colabora para sites e escreve no endereço eletrônico: www.cronicasconquistenses.blogspot.com
4 Respostas para “Deveríamos aprender com o Japão”
jdean
Um velho e tão batido ditado, diz;”Todo povo tem o governo que merece”.Mesmo porque é a maioria quem escolhe.Os japoneses especialmente e os orientais de um modo geral,com poucas exceções.Possuem virtudes,que são consideradas, bens de valôr acima de suas próprias vidas.Tem mais, são muito unidos!
Bárbara Garden
Começo a ler seus textos e no decorrer de cada parágrafo fico imaginando o desfecho e como sempre me surpreendo-de forma positiva, é claro. Só não me surpreendo mesmo é com a qualidade narrativa deles: sempre ótima!
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John N Hamilton
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