Castro Alves morreu em 6 de julho

Benjamin Nunes Pereira*

Ontem, hoje e amanhã, jamais poderemos nos esquecer da melancólica data de 06 de julho de 1871, quando o nosso grande imortal “Poeta dos Escravos” Antonio Frederico de Castro Alves veio a falecer devido a problemas sérios de saúde, quando expirou às três horas e meia da tarde, junto a uma janela banhada de sol, para onde fora levado de acordo com o seu ultimo desejo.

Castro Alves nasceu em 14 de março de 1847, morreu ainda muito jovem com 24 anos de idade, nasceu na fazenda Cabaceiras, na então freguesia de Muritiba, comarca de Cachoeira, a poucas léguas de Curralinho, na Bahia. Filho de Dr. Antonio José Alves e dona Clélia Brasília da Silva Castro.

Em 9 de julho de 1847, foi batizado com o nome de Antonio Frederico de Castro Alves, Cinco anos após a sua família transfere-se para Muritiba e depois para São Felix, às margens do Rio Paraguaçu, onde Castro Alves aprende as primeiras letras com o professor primário José Peixoto da Silva.

Mais a família do poeta instala-se em Salvador. O seu pai, doutor Antonio José Alves, abre um consultório médico e o garoto Cecéu, como era chamado pela família, freqüenta os cursos Colégio Sebrão, transferindo-se depois para o Ginásio Baiano, do doutor Abílio César Borges, mais tarde Barão de Macaúbas. Quando no ginásio declama sua primeira poesia dedicada à data baiana, 2 de Julho.

Ao concluir o ginásio viaja para o Recife, submete-se à prova para a matrícula na Faculdade de Direito do Recife, sem êxito. Aí estréia na Companhia Dramática Coimbra, com Furtado Coelho e Eugênia Câmara, no Teatro Santa Isabel.

Dando início ao seu trabalho poético publica os primeiros versos abolicionistas “A Canção do Africano”, com a poesia “Meu Segredo”, percebe-se o início de sua grande paixão pela atriz Eugênia Câmara, com quem chega a viver por um período de mais ou menos um ano.

Em 1864, foi estudar Direito na célebre Faculdade do Recife. No 1º ano jurídico na Faculdade, Castro Alves, redige, com outros colegas, o jornal “O Futuro” ao terminar o 1º ano, matricula-se no 2º ano jurídico. Funda uma sociedade abolicionista, com Ruy Barbosa, Regueira da Costa, Plínio de Lima e outros colegas de academia. Lança o jornal de idéias “A Luz”, que dá origem a uma polêmica pela imprensa com Tobias Barreto; um não concordando com o pensamento estético filosófico do outro, e muito menos com as deusas-madrinhas de cada um, a Adelaide e a Eugênia, e que muito embora deusas e madrinhas fossem verdadeiros sacos-de-pancadas dos dois estouvados estudantes.

O jornal servia como porta-voz do Grêmio Jurídico. O jornal prometia lutar pela disseminação das idéias abolicionistas e republicanas. Sua profissão de fé traduzia a candidez dos redatores: clarear este vasto mundo, denunciar e combater as iniqüidades do século! Criado também para a divulgação da cultura, o jornalzinho ia incentivar as artes do Santa Isabel, onde se exibia uma companhia dramática.

Um caso político, ou de polícia repercutiu na cidade. O Diretor de “O Tribuno”, velho jornalista Borges da Fonseca, quando com o filho participava de um comício republicano, foi espancado pela polícia encarregada de dissolver o grupo. Os estudantes fizeram tremenda algazarra, fazendo inflamados discursos de protestos. No meio deles estava Castro Alves a dizer, num improviso que: A praça! A praça é do povo/Como o céu é do Condor…

Caso semelhante ao velho “republicano” Borges da Fonseca ia acontecer com o espaldeiramento do estudante Torres Portugal. Haveria as passeatas de protesto, os discursos incandescentes e as tentativas de apaziguamentos. E Castro Alves, da sacada de um sobrado da rua do Imperador, iria dizer que se: “A lei sustenta o popular direito. Nos sustentamos o direito em pé.”

            Infelizmente em nosso Brasil, o preconceito racial, a discriminação, as prepotências ainda campeiam e porque não dizer no mundo. Imagine na época do grande vate, ele que foi cognominado o “Poeta dos Escravos Negros”. E as desumanidades da escravidão ele pôde presenciar em grande parte de Salvador  Quando na sua adolescência, declarava sempre:  “Eu sinto em mim o borbulhar do gênio”.

            Em 1868 foi para São Paulo continuar os estudos jurídicos, saindo de navio no Rio de Janeiro no dia 12 de março, juntamente com Eugênia Câmara.

            A cidade, ainda provinciana era tocada pela poesia da garoa e das serenatas e pela alegria da juventude de sua faculdade. Esta, como a do Recife, era não só uma escola de ensino jurídico, mas centro aberto ao estudo e discussão de todas as correntes do pensamento filosófico, literário ou científico importado da Europa. Nessa época, o café, no entanto, começava a trazer o progresso e a cidade ia crescendo.

            Após a aprovação nos estudos escolares de fim de ano, retorna à Bahia, onde sofre um acidente numa caçada. A espingarda dispara, atingindo-lhe o calcanhar.

            Em 1869, chega a matricular-se no 4º ano jurídico, mas com o enfraquecimento pulmonar, agravam-se os males, vem para o Rio de Janeiro, chegando bastante combalido, hospeda-se na residência de seu amigo Luis Cornélio Santos. Tendo a sua saúde cada vez mais abalada e com ameaça de gangrena, o pé esquerdo é amputado.

            Castro Alves foi um garoto muito revoltado contra as barbaridades da escravidão negra. Teve no estudo de Direito exaltado   sua revolta, procurando na poesia seu grande canal de expressão.

            Em seu poema “O Navio Negreiro”, que retrata os horrores dos barcos transportando escravos negros, Castro Alves nos deixou estas palavras veementes, ao “perceber” que esses barcos traziam em seus mastros o símbolo da nacionalidade brasileira:             

            Existe um povo que a bandeira empresta

            Pra cobrir tanta infâmia e covardia!…

            E deixa-a transformar-se nessa festa

            Em manto impuro de bacante fria!…

            Meu Deus meu Deus! mas que bandeira é esta,

            Que impudente na gávea tripudia?!…

            Silêncio!…  Musa! Chora, chora tanto

            Que o pavilhão se lave no teu pranto…

            Auriverde pendão da minha terra,

            Que a brisa do Brasil beija e balança

            Estandarte que a luz do sol encera,

            E as promessas divinas da esperança…

            Tu, que da liberdade após a guerra,

            Foste hasteado dos heróis na lança,

            Antes te houvessem roto na batalha,

            Que servires a um povo de mortalha!…

            Fatalidade atroz que a mente esmaga!

            Extingue nesta hora o brigue imundo

            O trilho que Colombo abriu na vaga,

            Como um íris no pélago profundo! …

            … Mas é infâmia de mais… Da etérea plaga

            Levantai-vos, heróis do Novo Mundo…

            Andrada! Arranca-te este pendão dos ares!

            Colombo! Fecha a porta de teus mares!

                        O grande vate Castro Alves, é o homenageado no dia do seu nascimento com o dia nacional da poesia, que é l4 de março. O jovem talentoso deixou essas belíssimas obras: Gonzaga ou A Revolução de Minas, Os Escravos, Espumas Flutuantes e a Cachoeira de Paulo Afonso.

            *Benjamin Nunes Pereira é Licenciado em História, com Pós-graduação em Antropologia com Ênfase na Cultura Afro-brasileira, pós-graduação em Programação e Orçamento Público, membro da Academia Conquistense de Letras, Casa da Cultura em Vitória da Conquista Bahia e Dirigente Sindical dos Bancários DE Vitória da Conquista.

            E-mail: [email protected]


2 Respostas para “Castro Alves morreu em 6 de julho”

  1. Alex

    Um texto que trás a memória um dos maiores poetas brasileiros – O baiano Castro Alves!.E apresenta o seu poema em pról da liberdade.Excelente.

  2. RGS

    Realmente,a memória do brasileiro,dificilmente recorre a esses grandes e imortais talentos de nossa terra.A juventude e até os adultos,se prende aos “sucessos”, modismos de momento, muitos dos quais provinientes do exterior – Diga-se de passagem, de gosto bem duvidoso!

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