Direto da Praça

Sistema: palavra que ressurge

Paulo Pires

No período que se estende de 1950 a 1970 uma das palavras mais pronunciadas pelas vanguardas contestadoras no mundo ocidental era Sistema. Tudo era o sistema, culpa do sistema, por causa do sistema. O sistema era quem determinava o quê e como alguma coisa deveria acontecer. Era a mão invisível, a força oculta, o elemento chave para explicar o que rolava pelo Mundo. Depois essa palavra se gastou, se banalizou e sumiu. Mas agora, para nossa surpresa, parece estar voltando para explicar alguns fenômenos que estão na Ordem do Dia no Planeta Terra.         

Antes é oportuno expor que além da palavra Sistema existe sua irmã que atende pelo nome de Mercado e ambas aparentemente com significados abstratos no que concerne a titularidade [quem é o Presidente do Mercado?] na realidade exercem sobre o Mundo uma autoridade que ninguém sabe ou se atreve explicar como é que funciona. Mas que funciona, funciona. E, se assim podemos dizer, Mercado e Sistema funcionam como as grandes Forças que mandam verdadeiramente no Mundo. Sistema e Mercado são tão fortes que até pessoas aparentemente cheias de Poder se rendem a eles na primeira rodada. No Brasil, tivemos um presidente [Jânio Quadros] que renunciou ao cargo de mandatário do País, antes de completar um ano de governo. Ao renunciar disse que o fazia por não suportar o peso das Forças Ocultas. Pior para nós e para o Mundo. Na realidade [apesar de serem ocultas] essas Forças atuam de modo implacável, sem controle. Um grande pensador escocês, o professor Adam Smith entendeu a funcionalidade da Coisa e antes de morrer em 1790 afirmava: “a mão invisível do Mercado, regula os preços, a produção e a distribuição dos produtos, por conseguinte as ações humanas”. Portanto, na visão inquestionavelmente ética do mestre escocês, “liberem-se os Mercados e o mundo terá boa parte dos problemas resolvidos”.

Infelizmente todo mundo peca e erra. Mestre Smith não fugiu à regra. Ele pensava que o Mundo deveria ser uma espécie de Hospedaria onde as ações humanas dentro de cada compartimento seriam realizadas por pessoas estritamente éticas. Acreditava tanto nisso que chegou a escrever e publicar [1759] um livro intitulado Teoria dos Sentimentos Morais. Ah, se fosse assim…

O problema é que fatos e mais fatos ocorrem nos ambientes mais diversos da existência humana e ninguém sabe explicar porque aconteceram ou porque deixaram de acontecer conforme se previa ou se desejava. É uma confusão dos diabos. A quantidade de informações, a mistura e as contradições trazidas pelas diversas fontes, a credibilidade, a consistência dos dados, a capacidade de organizar elementos para se chegar a um produto ou serviço e outras preocupações, fazem a vida contemporânea se tornar uma maravilha e um inferno ao mesmo tempo.

Ontem, 04/07/10, o presidente da Síria, Bashar AL-Assad, em uma entrevista a TV Bandeirantes respondeu ao jornalista Fernando Mitre dizendo que o presidente Obama chegou à Casa Branca cheio de idéias novas para a Questão do Oriente Médio e que aquela atitude gerou mil expectativas na infortunada região. Infelizmente, disse o presidente sírio, Obama não sabia que além dele há uma poderosa indústria bélica americana, que funciona junto ao Pentágono e a ideologia da extrema direita yanque que não admitem aquela briga ser resolvida tão cedo. Disse ainda o presidente sírio, que além dessas forças existem outras que nem pensam ou aceitam uma negociação que leve para o campo da Paz. Paz? Que Paz? Eles querem é guerra prá continuar vendendo seus armamentos, seu material bélico.  É o Sistema, disse o presidente sírio. Os demais entrevistadores, todos já maiores de 60 anos, lembraram-se da expressão. É o Sistema. O Sistema não deixa. O Sistema é bruto. Dizem que na Copa do Mundo de 2010 o Sistema já definiu quem vai levar. Uma coisa é certa: o Brasil não é.O Sistema é que sabe. É isso aí…


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