Direto da Praça

Tempos difíceis  

Paulo Pires

Sem querer plagiar Dickens, diria que estamos de mal a pior nesses dezenove dias do mês de julho de 2010. A Copa do Mundo acabou e quem levou o caneco foi a Espanha [merecidamente].  Saímos do Torneio em sexto lugar. Após o término da Copa o senador Cristóvão Buarque disse que deveríamos ficar alegres com isso. Ocorre que não. Ao contrário, estamos tristes com nossa colocação. Reiterou o senador – que parece pouco entender da paixão do brasileiro pelo futebol – que deveríamos ficar triste mesmo é com a nossa classificação no Ranking Mundial da Educação: Octogésimo quinto lugar. Isso mesmo. Estamos numa posição educacional inferior a 84 países do mundo. É mole ou queres mais? Deus há de tomar conta do Povo brasileiro.

As notícias de julho não são das melhores. Toda a mídia do País está ocupada com  acontecimentos e depoimentos relativos a dois crimes: O primeiro envolve o assassinato de uma advogada de São Paulo, Mércia Nakashima, cujo acusado é o ex-namorado Mizael Bispo dos Santos. O segundo e mais escabroso ainda, refere-se a morte de Eliza Samudio ex-namorada do goleiro Bruno do Flamengo. A mídia se dedica a esses dois casos intensamente, principalmente ao segundo. E não é prá menos. Até hoje não se sabe onde, como e quando encontrar o corpo de Eliza. Para espanto geral um jovem afirmou que a carne da moça foi oferecida aos cachorros rottweiller pertencentes ao policial Bola. Este é identificado como especialista em fazer sumir corpos. Em relação aos ossos dizem que foram “misturados” a um concreto e aplicado em uma sapata de propriedade do policial. O episódio é tão escabroso que até a imprensa internacional enviou jornalistas para cobertura do caso. Na mente das pessoas a imagem de um corpo humano devorado por cachorros rottweiller famintos é um quadro que transcende ao que há de mais baixo na percepção humana. Inominável. Abominável,

            Mas – pasmem – em entrevista ao programa de Ana Maria Braga da TV Globo [16/07] o advogado Ércio Quaresma que se declarou boquirroto [e é mesmo] utilizou uma expressão que reputo de um mau gosto imperdoável. Quando foi descrever sobre a participação do policial Bola, ele disse que o acusado depois de haver desossado Eliza Samudio, ofereceu as carnes da moça para os cães rottweiller “degustarem”. Degustar? Que verbo é esse, doutor Quaresma?

O fato é que este mês de julho não está nada gatinho (como dizem alguns adolescentes). A Companhia Britishi Petroleum só ontem, 17/07, conseguiu tampar uma válvula da plataforma de exploração que há mais de sessenta dias vinha provocando uma desgraceira ecológica descomunal nos cinco estados do Golfo do México.

Para “fechar o tempo ruim” sobre o Povo brasileiro a operação Ficha Limpa começou a dar “moleza” e alguns políticos reconhecidamente sujos – mais sujos do que pau de galinheiro – começaram a receber seus “indultos de natal”. Pasmem outra vez: estão livres e folgazões para disputa de cargos eleitorais em 03 de outubro de 2010. Como diz Gaguinho: Isso é uma absurda!

Todos se lembram do belo poema de Manuel Bandeira: Vou-me embora prá Pasárgada.  Millôr Fernandes, o grande Millôr, escreveu uma réplica ao poema ao qual deu o título de Vou-me embora de Pasárgada e com pedido de desculpas e tudo, escreveu: “A gente só faz ginástica nos velhos trens da central. Se quer comer todo dia a polícia baixa o pau. E como já estou cansado sem esperança/ num país em que tudo nos revolta/ já comprei ida sem volta pra outro qualquer lugar/ Aqui não quero ficar/ Vou-me embora de Pasárgada. Eu entraria na poética dos dois dizendo o seguinte: Se Pasárgada for a de Millôr e não a de Bandeira, também quero me mandar. Êta mundão doido, Sô!


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