Futuro-presente do Estado da Bahia

 Por Geraldo Reis

Nesse momento de disputa eleitoral, o processo será bem mais pedagógico se os projetos para o estado, além de focalizarem as necessidades imediatas da população, refletirem também sobre temas estruturantes para o futuro do nosso estado. Só assim poderemos compreender melhor as limitações do padrão de desenvolvimento implementado nas últimas décadas, e as possibilidades descortinadas na atualidade, mas que só serão bem aproveitadas se tivermos clareza da direcionalidade que queremos imprimir para uma Bahia do século XXI.

Os grandes traços do desenvolvimento da Bahia nas últimas décadas são bastante conhecidos, desde o debate sobre o enigma baiano, a opção pela industrialização de bens intermediários, a tese do desenvolvimento exógeno e espasmódico, a constatação da concentração espacial e setorial da economia, com pontos dinâmicos nos extremos do território, aos limites da guerra fiscal.

Mais recentemente, três outros aspectos se despontam. O primeiro é a estratégia de conceber a infraestrutura e a logística como atrativos para investimentos. O segundo é o processo em curso de “desconcentração concentrada”, sobretudo, para os médios centros urbanos, que se caracterizam cada vez mais como pólos comerciais e de prestação de serviços. Por último, e de forma mais espraiada, as políticas de transferência de renda, como o Bolsa Família e o Beneficio de Prestação Continuada, vêm impactando os municípios, em especial, os pequenos, pois trata-se de cerca de R$ 1,1 bilhão e R$ 945,1 milhões injetados na economia baiana este ano.

Assim, a busca de uma direcionalidade para o futuro da Bahia deverá levar em consideração esses e outros aspectos que se seguem.

Como se sabe, a Bahia é o quarto estado do País em população, com cerca de 14,5 milhões de pessoas, que representam 27% da população do NE. Seu território de 564 mil km² corresponde a 36% da região. Vale lembrar que, geograficamente, a Bahia ocupa posição peculiar, pois faz fronteira com o maior número de estados, sendo oito em três diferentes regiões. Sua projeção para o PIB 2010 é de cerca de R$ 144 bilhões, representando 4,2% da economia nacional e 30% do NE. Em paralelo a uma economia moderna e de grandes empreendimentos, tem um grande contingente populacional vinculado a economia popular, a exemplo da agricultura familiar, com 665 mil unidades, e as micro e pequenas empresas, com cerca de 331 mil empreendimentos. Entretanto, apesar dos avanços, a Bahia ainda possui mais de 4 milhões de pobres (linha de pobreza de ½ salário mínimo).

Considerando o alto grau de mundialização da economia e o fato de que as potencialidades de cada região são fortemente constrangidas por outras esferas de decisões em nível mundial e nacional, cabe refletir sobre algumas questões estruturantes e decisivas para o destino do estado. Quais as possibilidades de alterar o papel da economia baiana na divisão nacional e internacional do trabalho? Como aumentar o aproveitamento das oportunidades existentes nesta conjuntura auspiciosa da economia nacional? Como aumentar a conectividade da Bahia com o Brasil e o mundo? Como diversificar e enriquecer nosso padrão de desenvolvimento baseado, sobretudo, em commodities e indústrias de bens intermediários? Como potencializar o turismo? Como modernizar os serviços?

Considerando que estamos na era de uma economia baseada no conhecimento e na inovação tecnológica, bem como o capital histórico, cultural e paisagístico do estado, como atrair empreendimentos baseados em conhecimento intensivo, inovação, design, comunicação e cultura? Como compatibilizar desenvolvimento e preservação dos biomas? Como erradicar a pobreza? Como repensar a “baianidade” em termos de uma nova ambiência que preserve nossas tradições e modo de vida, mas que estimule novos valores e atitudes compatíveis com a contemporaneidade?

Portanto, pensar o futuro do estado é encontrar caminhos para aumentar a competitividade do setor moderno da economia, mas também buscar organizar e dar maior consistência às atividades econômicas vinculadas à base da pirâmide social.

Geraldo Reis – Diretor-geral da Superintendência de Estudos Econômicos e Sociais da Bahia (SEI)


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