A fita amarela

Por Edvaldo Paulo de Araújo

Ano 1960 morava em Potenza, Itália. Na nossa cidade os jovens ambiciosos partiam cedo em busca de melhores dias para si e sua família. De há muito sonhava com essa possibilidade, só não o fazendo por amor a uma ragassa amada,minha primeira namorada e primeiro amoré, Nina Chiarelli e deixar minha querida e amada mãe. Já não tinha o meu papa, que se fora cedo para o outro lado da vida, deixando-me ainda pequeno e fui criado pela mina mama. .Minha madre sempre me apóia e dizia vá “filho mio”,não se preocupe comigo, em busca de dias melhores para tu e tua família que virá,sabes que aqui não terás muita chance e dizem no Brasil, tem muita fartura e todos que para lá partem se enriquecem.Tinhas alguns patrícios nos Estados unidos e também no Brasil, que era o país que mais me atraia.

A idéia de partir e deixar Nina não me cabia, meu coração não aceitava, meus olhos marejam de lagrimas quando pensava na falta que sentiria dela e o assunto muito me atraia.Não procurava falar muito, pois era motivo de nossas brigas e por não querer isso, procurava me silenciar.Quando falava do assunto procurava embalar junto com nossos sonhos de um dia poder casar, ter uma bela casa,ser respeitados em Potenza e ver nossos “bambinos” crescerem sem as necessidades que nos acometia.Dizia da minha preferência pelo Brasil, especificamente São Paulo, onde tinha os primos filhos de tio Antonio, e as noticias que chegavam, é que estavam muito bem.

Era natal estava com Nina na casa de sua família e durante a oração o meu pensamento voou com meus sonhos e naquele momento, tornou mais forte que o meu amor por Nina. Tomei a decisão de partir, assim que concluísse todos os preparativos. Partiria para o Brasil em busca de trabalho, riqueza e a realização de sonhos dos meus 20 anos. Partiria em segredo, sem nenhum aviso a minha amada. Viveria aqueles dias que antecederia a minha partida com intensidade e amor, apreciaria cada minuto, cada momento,cada afago,cada carinho como se fosse o ultimo, pois no meu coração seria a nossa despedida, o nosso adeus.

As dificuldades da longa viagem de navio, a terra desconhecida e suas dificuldades eram tidas como a grande barreira a ser transposta. Muitos não sobreviveram e não voltava nunca mais, deixando muitas vezes suas famílias sem saber o que aconteceu e eternamente com a esperança de um dia vê-los bater na porta e entrar. Tinha certeza que isso não aconteceria comigo, voltaria sim, para minha Mama e para o meu amor, mas a duvida cruel de que Nina não me esperaria tantos anos, me consumia e muitas vezes a angustia era tão grande que não deixava viver com alegria os nossos últimos momentos antes de minha partida e não me agradava em nenhum instante de estar enganando-a, não lhe contando esta verdade.

Ficava na noite sem conseguir dormir, olhando para o telhado, pensando na alternativa de contar-lhe sobre a minha partida, pedir-lhe para que me esperasse, pois o meu amor resistiria a distancia e a certeza da sua espera  me daria forças para trabalhar dias a fio para conseguir os objetivos almejados, seja em que tempo fosse. Dormi, quando acordei bem cedo já não tinha a coragem de olhar aqueles olhos verdes que com certeza se encheria de lagrimas, ao comunicar da minha partida, portanto não lhe contei.

Em meado de maio de 1961, na noite que antecedia a minha partida, passei a noite em claro, com duvidas, ansiedade, tristeza, lagrimas, mas ao amanhecer depois de um logo beijo e abraço na minha mama, sair com a pequena mala na mão, olhando para traz e a imagem de minha mãe na porta de nossa casa me acenando, ficou para sempre na minha mente e em meu coração.

 Sentado num banco solitário da estação, não continha minhas lagrimas, minha saudade e como um filme passava na minha mente os meus momentos com Nina. A lembrança do seu sorriso, seus beijos, seus abraços aquecia minha alma, naquele momento tão marcante em minha vida, tão entregue em meus pensamentos que não notei a chegada e o embarque do trem em direção a Napole.A cada apito do trem, despertava-me dos meus pensamentos e a realidade naquele momento me doía muito.

Parti para o Brasil num navio cargueiro em busca da realização dos meus sonhos, deixando para traz o meu país, minha família e minha amada, tudo o que mais amava estava agora só no meu pensamento,nas lembranças  e em meu coração.

Depois de uma longa viagem, recheada de todas as dificuldades chegou ao Brasil. Depois de alguns percalços encontrei os meus parentes, que me receberam com muita alegria,hospedaram-me e me ajudaram a arrumar meu primeiro trabalho. Iniciava a minha luta para alcançar a realização dos meus sonhos, seria grande minha luta, mas este seria o meu único foco,todos os dias,todos os esforços, esqueceria da dor do cansaço,da saudade,focaria todo o meu tempo em busca destas realizações.

E os anos se passaram…minha mama foi para o outro lado da vida.

Consegui a minha redenção financeira, minhas empresas, meus negócios, bens, patrimônio, namoradas, amantes, até quase me casei desistindo, pois não esquecia minha amada italiana.. Todos aqueles anos foi o que mais tentei ,não conseguindo, por mais que tentasse era muito forte aquele sentimento.Naquele momento voltei quase totalmente a pensar em NINA e resolvi tomar uma atitude, voltaria a Itália e tentaria encontrá-la.

      Um amigo que ia para Itália, conhecia minha historia, levou uma carta para NINA e foi com a missão de encontrá-la o que fora feito. Na carta disse a ela que gostaria de encontrá-la, conversar e caso ela me quisesse de volta, colocasse uma grande fita amarela numa frondosa arvore que existia perto da nossa cidade .Compraria a passagem  de NAPOLE direto para TARANTO passando  pela nossa cidade POTENZA, se a arvore estivesse com a fita, desceria caso não tivesse, passaria direto  e seguiria a minha vida sem a mulher que mais amei.

     O trem se aproximava, era grande a minha ansiedade, olhava ansioso, quando a velocidade diminui com a proximidade da cidade, pedia a todos que olhasse, pois tinha medo de não ver a fita amarela, de não mais existir a arvore e eis que  de repente todos gritaram… Attenzione … vedi…

TODAS AS ARVORES DE TODOS OS LADOS, ESTAVAM COM GRANDES FITAS AMARELAS!!!!! 

                

HOMENAGEM

* Este texto é uma Homenagem a TIA NINA CHIARELLI, a quem tanto amamos!  Jamais em tempo algum ,será esquecida.  A outra homenagem  foi ao dar o seu nome  a nossa neta LUA NINA, que herdou dela a sua beleza,serenidade e meiguice.

            Que Deus a abençoe sempre, TIA AMADA.


2 Respostas para “A fita amarela”

  1. alberto lima

    Parabens Edvaldo

    Belo texto!!!!

    “irmão de Tonhão, seu colega de Conquista”

  2. sara reis

    O título do texto já traz uma ideia de que se trata de algo mais subjetivo. E nada melhor que começar um dia tão frio como hoje, aquecendo o coração com esta linda história!
    Quando encontramos estrangeiros trabalhando aqui não imaginamos quantas lágrimas aquele trabalho pode ter lhes custado.

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