Direto da Praça

Acabou o formador de opinião pública?

Por Paulo Pires

Em 1951 o filósofo alemão Ludwig Wittgenstein anunciou a morte da lógica. Em 1968 foi John Lennon quem declarou: O sonho acabou. Em 2010 no calor do comício do PT realizado em Campinas ontem [18/09/10], o senhor Lula da Silva com cara de latifundiária alegria fez saber a todos: “O formador de opinião pública acabou”. Todo mundo sabe que o presidente não é psicólogo, sociólogo, antropólogo ou coisa que o valha. Mas que o homem tem uma intuição incrível para fazer e dizer coisas aproximadas da realidade, isso ninguém discute. Se alguém observar com acurácia o momento atual do Brasil, inexoravelmente há de concordar com a fala do Presidente.

            A campanha eleitoral se desenrola com aqueles ingredientes de sempre. Promessas daqui, acusações dacolá, disse não disse, trololó, blábláblá e o eleitor no meio. Mas há um fenômeno que está inquietando a todos os cientistas sociais: A indiferença aos fatos. Em meio a essa algazarra envolvendo a Casa Civil, o eleitor passa ao largo e deixa transparecer que pouco se influencia pelo que estão noticiando. E diz mais: “… não estou nem aí para o que estão dizendo sobre sigilo fiscal, Erenice Guerra, irmão, filho e o escambau”.

            A cada pesquisa eleitoral, os políticos de oposição, principalmente estes, ficam surpresos com a indiferença manifestada pelo Povão. Quando se pensa [os oposicionistas] que os fatos vão desencadear um processo de rejeição aos procedimentos do governo e à sua candidata, dá-se justamente o contrário: A candidata do senhor Lula aumenta a vantagem e deixa a oposição incrédula. Como explicar isso?

            Conforme alguns estudiosos, o fenômeno pode ser visto por alguns aspectos. 1º) O povão está satisfeito com o Governo (cuja aprovação é altíssima); 2º) Há uma enorme rejeição aos noticiários catastrofistas que só fazem gerar na mente da população uma pá de areia sobre as suas ilusões; 3º) Não há dúvida de que para as grandes massas  excluídas o País parece lhes reconhecer [agora] como gente; 4º) A interferência da Grande Imprensa sugere [ao povão] que para onde ela apontar, o caminho deve ser o oposto, visto que em tempos não muito remotos, e por causa de indicações indevidas, o País amargou um cardápio nada palatável; 5º) Em nenhum momento da História do País o povão esteve tão próximo e tão identificado com um presidente que demonstrou desde o início  ser um sujeito pouco afeto ao rigor cerimonioso do cargo. Assinale-se que em alguns momentos [para não dizer muitos] o senhor Lula falou e se comportou mais como uma figura simplória e folclórica do que como um mandatário de uma Nação que hoje é a 8ª do Mundo; 6º) A oposição ficou sem discurso porque os 8 anos em que governou, não percebeu e não implementou políticas públicas capazes de corresponder às demandas de uma sociedade que estava conflagrada por  salários baixíssimos e situação econômica abaixo de países menos expressivos que o Brasil; 7º) A roubalheira no Brasil é tão antiga que não deve mudar o voto pelas acusações atuais;  8º) A própria desunião dos oposicionistas e a demora para o senhor Serra aceitar a candidatura, fizeram da campanha um amontoado de equívocos. É isso aí e outros mais que aqui não cabem.

            O fato ou dado real, como costuma dizer o senhor Lula, é que na atual conjuntura o Povão não aceita as “opiniões” dos pretensos formadores de opinião.  Evidente que isso é uma generalização. Muitas pessoas ainda são sugestionadas pelo falar bonito [a famosa sugesta] de um William Bonner ou de sua patroa e colega de bancada no Jornal Nacional, Fátima Bernardes. Mas a grande maioria, formada pelas três classes média [a baixa, a média e a alta] não comem mais o “agá” do extinto formador de opinião. Isso hoje faz parte de um tempo que passou. É bom ou ruim?  

            Importante frisar que o [extinto]  formador de opinião existia em escala  mundial. Nos Estados Unidos, alguns eram verdadeiros semideuses. O mais famoso deles foi o senhor Henry L. Mencken. O que este jornalista dizia entre os anos de 1920 e 1930 na América era sagrado. Hoje, com a perda de credibilidade de muitos homens de imprensa, isso praticamente acabou. No Brasil, o último gigante do jornalismo político foi Carlos Castello Branco.  Após a morte de Castellinho, a opinião política, independente e grandiloqüente mixou. Será que o Lula está certo? Acabou o formador de opinião pública? Caso seja verdade, isso é positivo ou negativo?


3 Respostas para “Direto da Praça”

  1. alex

    O povão está indiferente até mesmo as pesquisas!.

  2. EZEQUIEL SENA

    Caro amigo Paulo,

    Concordo plenamente com sua opinião. Verdade, a oposição ficou sem discurso porque nos 8 anos de governo, não foi capaz de implementar políticas públicas, como fez o ‘Sapo Barbudo’, para atender as demandas de uma população que estava à margem da pobreza, queimada por emprego e comida. Numa situação de miséria total, abaixo inclusive de países menos expressivos que o nosso.
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    Imagino que a gestão de Lula à de Dilma apressará afinal o surgimento de uma OPOSIÇÃO NÃO GOLPISTA, ao contrário da atual, a mesma que, com idênticos propósitos, foi situação. Das cinzas ao descalabro, daí pode emergir até um novo tucanato. Deve ser uma aposta, um avanço, uma incógnita. Mas Lula, com seus dois mandatos e a aprovação nunca vista, é o elemento fatal da discórdia. Um fenômeno que incomoda e inquieta a todos os cientistas sociais, principalmente os fernandistas!
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    Um abraço,
    Ezequiel Sena

  3. alex

    Denúncismo é “golpe”, portanto deveria ser criminalizado.Em contrapartida á CORRUPÇÃO, descriminalizada!. Para tanto urge, a redação de uma nova Carta Magna, de acordo com os novos prícipios, nunca dantes neste país ensinado.Caso a grande imprensa libertadora e por muitos considerada golpista.Venha a critícar alguma medida governamental, embasada nessa nova CONSTITUIÇÃO!.O governo convoca á população a manifestar-se, através de:PLEBÍSCITOS E REFERÊNDOS!. A Venezuela, país vizinho tem utilizado muito dessas manifestações democráticas.

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