Portas abertas

Por Edvaldo Paulo de Araújo

Meu amigo Charlie Taylor, de há muito me convidava para conhecer o Canadá, visitar Quebec e hospedar na sua casa com sua família. Esse convite já se repetia a anos, depois da sua ultima vinda ao Brasil onde passamos alguns dias juntos resolvi aceitar o convite e visitar esse país tão  querido.

O tão sonhado dia chegou! Rumei para aquele belo país onde fui recebido, por Charlie e Anne, sua esposa, com muita alegria e festividade. No outro dia para minha surpresa e de surpresa, fui a uma festa com eles e quando lá cheguei, fiquei emocionado, pois fora feita  para mim.Me emocionei, fiquei deveras muito feliz.No meio de tanta alegria, por saber que gosto de cantar e por me elogiar nessa tarefa, Charlie me convidou para subir ao palco e cantar algumas canções. Me arrisquei no inicio com uma canção que tanto amo, “my way” interpretada por tantos astros, mas o maior sucesso foi na voz de Elvis Presley.Foi inesquecível!Nunca esqueci e jamais esquecerei.

Durante o período que fiquei lá, caminhando, visitando lojas, restaurantes, órgãos públicos, museus, faculdades, amigos de Charlie etc. fiquei encantado com o nível de cultura, educação, civilidade e da funcionalidade do estado em todos os seus níveis naquele país. Apesar de ter conhecimento e muitos dados do Canadá, mas não imaginava a esse grau, principalmente a funcionalidade do estado, como disse. Fiquei impressionado!Encantado com a atenção deste povo maravilhoso, o canadense.

Algo me marcou sobremaneira. Um dia à noite quando íamos dormir vi que Charlie não tinha trancado a porta e voltei para fazê-lo comentando com Charlie que respondeu prontamente, ”não precisa” aqui no Canadá não nos preocupamos com trancas, geralmente não trancamos a porta das casas!Achei que era brincadeira de Charlie, que repetiu – “fique tranqüilo my friend” no maximo, por hoje ser sexta feira, alguém pode entrar e pegar uma garrafa de whisky e pronto”, não acreditei e disse – “está brincando!”“,  repetiu e pediu a confirmação de Anne que era assim. ao subir a escada aproveitou para alfinetar e demonstrar seu espírito anti-americano e disse – “quem tem medo dos vizinhos é americano, nós não, nos damos bem com todos”. No outro dia procurei me inteirar mais desta forma tranqüila de viver. As pessoas realmente não se preocupava em trancar a porta de suas casas porque realmente não tinham motivos para fazerem isso, tranqüilidade, confiança é parte do seu cotidiano. Fiquei impressionado!

 Não esperava tantas portas abertas!

Ainda lá, com saudade do meu país, da minha querida e amada Vitória da Conquista, fiquei pensando no que estamos nos transformando. De um tempo para cá, construímos cada vez muros mais altos na frente de nossas casas e hoje estamos colocando cercas elétricas, alarmes, reforçando as fechaduras, mantendo 24 horas câmeras ligadas. Estamos nos transformando em prisioneiros. Pergunto: isso aonde vai nos levar?????.Antigamente conhecíamos e convivíamos mais com as pessoas, tínhamos mais pessoas no nosso relacionamento. Colocávamos cadeiras em nossas portas e ficávamos sentados tranquilamente, batendo papo com quem passava, com nossos amigos, com nossos vzinhos. Principalmente, quando era verão e dia de lua cheia. Hoje os portões elétricos, os muros altos estão nos transformando em pessoas fechadas, solitárias e afundadas no nosso mundo inteiramente particular. Será que estamos seguros?Será que não existe algo mais por traz disso?Será que não é nisso que muitos querem nos transformar? Solitários, isolados, desunidos, vulneráveis, massa de manobra?

Muitos dizem que é o comodismo da televisão, o conforto da poltrona, a batalha cansativa a que nos submetemos. Sempre me pergunto por que estamos perdendo o que tínhamos de mais sagrado? O respeito, a amizade, o companheirismo, a forma educada de nos tratarmos, para onde estamos indo sem o devido cultivo destes gestos?  Até as amizades estão parecendo descartáveis.
Vocês que fazem parte dessa massa
Que passa nos projetos do futuro
É duro tanto ter que caminhar
E dar muito mais do que receber…

E ter que demonstrar sua coragem
À margem do que possa parecer
E ver que toda essa engrenagem
Já sente a ferrugem lhe comer…

Êeeeeh! Oh! Oh!
Vida de gado
Povo marcado
Êh!
Povo feliz!…(2x) 

ADMIRAVEL GADO NOVO

Composição de ZE RAMALHO

No que estamos nos transformando? O que temos a apresentar esta geração do vídeo, do celular e do computador?

Precisamos abrir nossas portas!

Não apenas e tão somente de nossa casa, mas principalmente, abrir a porta do nosso coração, para o nosso mundo, sermos representantes da bondade e o espírito da compaixão. Precisamos cativar mais nossos relacionamentos. Precisamos mais de parques, praças, lagos, lugares de lazer para ficarmos juntos, fazermos novas amizades. Precisamos voltar a reaprender a jogar conversa fora… Já que eles não fazem os parques que precisamos, vamos……

 FECHAR AS RUAS AO TRANSITO E TRANSFORMA-LAS EM LOCAIS DE LAZER NOS FINAIS DE SEMANA!

Para que nossos filhos possam brincar a vontade de bicicleta, de pula-pula, de macaquinho, de futebol etc. sem correr o risco de ser atropelados e mortos.

Ontem

Todos os meus problemas pareciam tão distantes

Agora parece que eles vieram pra ficar

Oh, eu acredito no ontem

 

De repente

Não sou metade do homem que costumava ser

Há uma sombra sobre mim

Oh, o ontem veio de repente

 

 

Ontem

O amor era um jogo fácil de se jogar

Agora preciso de um lugar para me esconder

Oh, eu acredito no ontem

Ontem/Yesterday – Paul McCartney e John Lennon

 

 

Precisamos abrir nossas portas!

E botar pra fora a solidão, o individualismo, a inveja, a pornografia, a bebedeira, a droga, a raiva, o ódio, a insegurança, a indiferença, tudo isso não nos pertence. Tudo isso nos enfraquece,nos adoece e nos apequena.Bote tudo isso pra fora de sua casa.

Vamos abrir as nossas portas!

Para Deus, a fé, a oração, o amor, a bondade, a compreensão, o voluntariado, a compaixão, os bons livros, a educação e a civilidade, a participação efetiva no que afeta as nossas vidas, com tudo isso junto, construiremos não apenas um país e sim uma nação e …..

                                Seremos imensamente felizes.