Por Ezequiel Sena
A perplexidade tomou conta do noticiário nacional neste último final de semana. Quanto mais se evidencia a ampliação das salas de aula e a crescente expansão dos núcleos universitários, mais vulneráveis têm ficado os educadores diante de um contingente de alunos agressivos. Felizmente, a classe estudantil em sua grande maioria é composta de pessoas ordeiras e cônscias de suas obrigações, mas o que assusta mesmo são os casos que fogem a essa realidade. Diferentemente do que ocorre nos crimes em geral, muitas vezes originados por vingança ou acerto de contas, entre um e outro; desta vez o País inteiro se revolta com a crueldade praticada pelo aluno Amilton Loyola Caíres Gomes, 23 anos, levado pela própria imbecilidade e covardia, esfaqueia o professor de Educação Física Kássio Vinícius Castro Gomes, de 39 anos, no corredor do Centro Universitário Metodista Izabela Hendrix em Minas Gerais, somente porque não avaliou o trabalho acadêmico do estudante como ele queria e exigia.
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Tristes e abalados, não é para menos, professores e estudantes de escolas públicas e privadas de Belo Horizonte passaram o final de semana se perguntando e discutindo o porquê e quais as razões que levaram o Amilton a cometer tamanho ato de loucura. Passeatas, cartazes, panfletos, fitas, adesivos e pedidos de justiça foram as principais reivindicações dos manifestantes. Comentários, explicações psiquiátricas e psicológicas brotaram de todos os lados sobre o comportamento arredio, paranóico e violento do universitário.
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Para o senador Paulo Paim (PT-RS), não se trata de caso isolado, como quis mascarar os diretores da Faculdade. “A violência é geral em todos os estados, onde a juventude se acha acima do bem e do mal e, muitas vezes, age com a conivência dos pais.” Não é por menos que tramitam no Congresso dois projetos de lei, de autoria do senador, propondo mudanças na legislação em defesa da criação de uma cultura de paz nas salas de aula e de regras mais rígidas para alunos que pratiquem agressão.
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Ainda em clima de comoção e inconformismo era visível a fisionomia abatida dos parentes e amigos de Kássio que deixa 02 filhos menores de 5 e 6 anos. Coincidentemente, repete a tragédia na família em menos de um ano. Dia 11 de janeiro o pai do professor, Maurílio Ferreira Gomes, 73 anos, foi igualmente assassinado a golpes de faca por um assaltante que invadiu a casa de praia onde eles passavam férias, em Nova Viçosa, sul da Bahia. Dona Maria dos Anjos Castro Gomes, mãe de Kássio, também foi atingida pelo meliante. “Perdi meu marido e agora o meu filho do mesmo jeito. Meu filho reunia a família todos os finais de semana na minha casa ou no sítio dele. Agora, não sei se vou aguentar”, lamentou. Não existem palavras nem explicação presumível para definir a alienação e o furor da pessoa humana, como bem escreveu o professor e amigo Paulo Pires: “o que ocorreu em Belo Horizonte nos últimos dias não foi coisa de gente. Nem de cavalo. Ou melhor, aquilo deve ter sido coisa de gente-cavalo com o demônio no corpo. Cavalo-cavalo não faria aquilo… Seria rebaixar demais este maravilhoso animal”. É a mais pura verdade.
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Por que isso acontece? De quem é a responsabilidade? Talvez não se encontrem respostas, mas penso que todos são culpados: a Justiça por decisões benévolas com certos criminosos; o Estado por banalizar a educação e desvalorizar a profissão; a família, principalmente ela, por não orientar adequadamente seus filhos – transferindo para as escolas a responsabilidade que é sua, e a sociedade por fazer vistas grossas a tudo isso. Certamente este rapaz, quando criança, nunca tenha levado uma palmada ao desrespeitar alguém, já que deve ter tido tudo o que desejava à disposição, por isso nunca foi capaz de aprender e compreender limites. Pelo que se ouviu dos colegas sobre o comportamento áspero do Amilton, é possível que esta não seja a única vez que ele agrediu um professor, ou mesmo um colega de classe, e o mais agravante: a família sempre o protegeu -; como agora após o depoimento na Polícia, surge o irmão mais velho dizendo que o estudante toma remédios controlados e tem acompanhamento psiquiátrico. Luy Castro irmão do professor rebate indignado: “Estão colocando esse cara como doente, mas ele é um monstro, um cruel assassino e tem de pagar pelo que fez”.
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Do jeito acelerado que prolifera a indisciplina, a desobediência e o desrespeito para com os docentes, o Brasil dificilmente contará com aquilo que outros países como Coréia e Finlândia elegeram como principal ferramenta para obter qualidade na educação: a família compartilhando diretamente na vida escolar dos filhos –, uma vez que é dentro de casa que se aprende com mais exatidão os princípios éticos do indivíduo. No entanto, isso é um ingrediente que ainda não faz parte do cardápio de quem administra o ensino de nosso País, todavia essa lição precisa ser cumprida à risca. Do contrário, imagino eu, a desmoralização, a estupidez e a selvageria continuarão fazendo parte do cotidiano de nossas escolas.
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Ezequiel Sena
2 Respostas para “O horror dentro e fora da escola”
David
Ezequiel você não sabe de quem é a culpa? Enquanto os magistrados, advogados, políticos, o pessoal dos direitos humanos e a justiça continuarem ineficientes neste País, com a benevolência com a criminalidade ela será incontrolável. Os marginais já conhecem de fio a pavio e perceberam que nosso Código Penal e nossas leis os beneficiam, por isso matam, estupram, esfaqueiam, traficam, etc. Quando são entrevistados na televisão viram santos (to arrependido, foi loucura, não me lembro como fiz). Advogados de porta de cadeia tem pra todos os gostos e estão aí prá soltar, nada contra a profissão deles, mas acho se não endurecer as leis estamos contribuindo para o caos social.
Keitiane
Esta fotografia da falta de respeito com os professores não fica limitada apenas as grandes cidades não, aqui em Sergipe tive conviver com ameaça de uma aluna. Ainda bem que os ânimos acalmaram, teve dias que pensei até em parar de dar aula. Nós docentes precisamos de mais apoio dos nossos pares e daqueles que comandam o ensino. Desculpe-me o desabafo. Keitiane