Academia do Papo

Fechamento de Bares e Restaurantes (I)

Por Paulo Pires

O projeto de Lei que tramita na Câmara de Vereadores de Vitória da Conquista cuja finalidade é estabelecer tempo limite para funcionamento de Bares e Restaurantes, parece que está tomando conta de inúmeras manifestações em quase todos os segmentos sociais do nosso Município. Não é prá menos. Cada pessoa tem sua visão de mundo e, em conseqüência disso, uma solução individual para o que se lhe apresenta. O problema é que a decisão para a questão não pode se cingir a visões ou dimensões particulares. Quem já morou ou esteve em Londres, por exemplo, deve ter se surpreendido com o tratamento que os aludidos estabelecimentos recebem na City: Abrem as 18 e fecham às 24 horas.

O assunto, além de outras abordagens, merece ser considerado também como um problema de Ordem e Saúde Pública. No caso brasileiro, onde se busca a custo de muita patinação o Progresso, parece haver pouco apreço para a Ordem. As pessoas [muitas] tão envoltas com o hedonismo particular parecem pouco receptivas a ideia de que é preciso estabelecer novas regras de convivência social, incluindo-se aí limites para o tempo da boemia. Tudo tem seu tempo, vejam em Eclesiastes.

            Dados do Ministério do Trabalho apontam que o maior índice de Acidentes de Trabalho ocorre às segundas feiras, dia seguinte aos domingos onde temos a liberdade desmesurada de cair na cachaça, cerveja, feijoada e churrasco sem a menor cerimônia.

            Isso mesmo. Os acidentes de trabalho, principalmente na construção civil, se multiplicam incrivelmente e quando os especialistas avaliam as causas, verifica-se com constrangimento que o álcool está associado aos eventos. São dados reais, não especulativos. De acordo com a OMS hoje o álcool é o maior responsável pelas mortes no mundo (dado este publicado sexta feira, 11 de fevereiro de 2011).

 Fechamento de Bares e Restaurantes (II)

            O autor desta coluna, hoje notívago bissexto, freqüentador contumaz dessas Casas, declara-se muito grato a elas pelos bons momentos, mas não pode ficar indiferente ao problema e considera, mesmo indo em direção contrária a opinião de outros, ser favorável à aprovação da Lei. Cidadão é aquele que compreende a importância de viver em comunidade, conhecendo direitos e deveres do indivíduo em face de sua Cidade.  Não podemos nem devemos colocar nossas aspirações, ambições ou devaneios pessoais acima dos interesses e aperfeiçoamento das Instituições que busquem o bem comum. No dia em que todos os cidadãos  compreenderem o real significado do dístico expresso em nossa Bandeira [Ordem e Progresso], a partir desse dia o País ganhará nova feição.

 Fechamento de Bares e Restaurantes (III)

            Argumentar que a Policia e outros Poderes Públicos estão se mobilizando para aprovar a Lei por absoluta falta de competência diante da questão, sinceramente, não é  bom argumento. A Polícia não tem o dom da ubiqüidade, nem está equipada numérica e/ou tecnologicamente para dar aos cidadãos a segurança que todos idealizamos. Infelizmente não. O empenho dos nossos policiais para conter a onda de violência é digno de aplauso. Mas todos devem compreender que sem o empenho da comunidade e o compromisso dos governantes estabelecendo políticas sociais eficazes, pouco ou nada será solucionado. Um dos caminhos é convocar a todos para experimentarem e refletirem sobre a construção de um novo tempo. Nesse tempo a Ordem e os limites individuais serão importantíssimos para construção de um novo Homem, um novo Cidadão. Uma nova Sociedade. Um novo País. Tenho dito…


7 Respostas para “Academia do Papo”

  1. Adelson

    o grande problema é que decisão nenhuma que envolve a coletividade pode ser tomada unilateralmente, os cidadãos foram consultados? os donos de estabelecimentos que poderão ser atingidos pela possível lei foram ouvidos? evidente que o tal decreto trará benefícios, principalmente porque vai diminuir o fluxo de pessoas na rua em determinado horário, o número de pessoas alcoolizadas ao volante (o que só ocorre por causa da falta de fiscalização pelas autoridades), porém quem bebe, vai continuar bebendo da mesma forma, seja na casa de um amigo ou em sua própria casa, e nesses ambientes nem a polícia nem prefeitura vai ter autorização para entrar, assim aproveitando a oportunidade gostaria de perguntar, em caso de aprovação como ficaria o horário dos shows no Parque de Exposições e no Clube Social, uma vez que nesses ambientes a venda de bebidas também é permitido.

  2. cgm

    Sr. Paulo Pires,

    Parabéns por sua coluna. Disse tudo que precisava, aos que ainda questionavam está lei, acredito que se tiver um pouco de bom censo irá concordar em gênero, número e grau com o senhor.

  3. antonio

    Prof Paulo, como sua objetividade e franqueza são capazes de desnortear! Doem como um soco no estômago – ao menos daqueles de quem se espera algum bom senso. Verdades ditas com a elegância de sempre, que desmascaram os senhores escondidos por trás de seus comodismos, de suas conveniências, no país do “jeitinho” e do “meu pirão primeiro”.

  4. James Joyce

    Sr. Paulo;

    Não frequento bares e quase nunca saio de casa depois das 18:00h, ou seja, para a minha pessoa, pouco importa o horário de funcionamento destes estabelecimentos. Mas dizer que, impedindo estes de funcionarem em determinados horários, teremos redução nos índices de atos violentos, para não ofender, direi que é ingenuidade. Usar Londres como exemplo também é, no mínimo, ingenuidade. De outro lado, Quais polícias apoiam o projeto de Lei? É apoio institucional ou pessoal de quem aqui atua? Por fim, quem vai me impedir de beber depois de determinado horário? A prefeitura que não fiscaliza nem as posturas, que deixou o simtrans se acabar e que permite que os funcionários da secretaria de saúde estacionem o carro em fila dupla na frente da dita secretaria? Os pms que não conseguem atender nem aos chamados do 190? Antes que eu me esqueça: o “dístico” da bandeira brasileira é uma vergonha para qualquer pessoa com um mínimo de consciência histórica. Apenas a má fé dos positivistas tardios pode justificar a defesa do “dístico” da sua bandeira ( minha nunca). Se o senhor diz que o problema da polícia e de outros órgãos públicos não é de competência, mas de falta de estrutura, não seria melhor estruturar as polícias e os órgãos públicos primeiro, pois sem estrutura para o que já está proibido, como vão conseguir fiscalizar e atuar diante de mais uma proibição? Qual o impacto econômico para a cidade se tal aberração legislativa for aprovada? O senhor sabe? O prefeito sabe? Os vereadores sabem? E digo, ainda, se a Lei for aprovada eu quero ver se a prefeitura vai impedir a venda de alcool no Festival de Inverno. Deveriam dizer a verdade, não queremos os “botecos” funcionando, bar e restaurante é diferente. Quero ver fechar o Boca de Forno, o Bambara e outros do mesmo estilo. ORDEM E PROGRESSO: os pobres respeitando a “ORDEM natural das coisas” para que os ricos continuem o seu PROGRESSO.

  5. PAULO PIRES

    Sr. James Joyce e senhor Redator Anderson Oliveira

    O positivismo tardio a que se refere o senhor realmente merece considerações mais extensas (não uso a palavra profunda porque aprendi com Pound ironizar essa expressão).

    De fato, quem quiser beber, o fará com bar aberto ou não. Ocorre que o problema não se restringe a isso. Dados concretos do Ministério do Trabalho dão conta que 50% das faltas ao trabalho devem ser debitados ao uso de álcool [sem freio] de alguns. Por outro lado, o mesmo Ministério informa que 40% dos Acidentes de Trabalho também devem ser debitados ao uso excessivo de álcool.

    Claro que o Bar ou Restaurante não pode ser culpabilizado por isso. Há toda uma história [processo histórico] que pode explicar isso com mais precisão.

    No momento, o que se pode dizer é que os sujeitos minimizam o consumo quando se veem obrigados a beber em casa. Beber em casa não tem graça.

    O Bar, o Restaurante é que satisfaz a gente. Adoro Bar, adoro Restaurante. Boa parte de minha vida [noturna] foi enterrada dentro de Bares, por isso me sinto à vontade para aceitar que o melhor mesmo é fechá-los à meia noite. Todos vão sair ganhando. Principalmente a Saúde Pública e os fígados dos particulares.

    Você há de me dar razão. Se o Projeto passar, tudo bem. Se não passar, tudo bem também. Topo qualquer parada. E declaro que aberto ou não, continuarei bebendo os meus uisques ouvindo Duke Ellington, Billye Hollidae e Mestre Tom Jobim.

    Quanto a Ordem para os pobres e o Progresso para os ricos, isso é uma realidade que também me dói muito. Sou favorável a que todos tenham o mesmo direito, o mesmo tratamento. Infelizmente isso não ocorre em nenhuma parte do Mundo. Mas o que me compraz neste diálogo é que neste ponto, estamos de acordo.

    Saudações

    Paulo Pires

  6. ANÔNIMO

    Por tudo que é apresentado aos conquistenses.Notadameente ás classes menos favorecidas e da periféria.Existe de fato um sistema desgraçado,que de certa forma busca manter a maioria da população num determinado “curral”.Há uma divisão nitída demagógica.Apresentando fórmulas “milagrosas” para resolver os problemas, estabelecidas por um grupo fechado.O qual só falta declararem-se donos da CIDADE!.

  7. PAULO PIRES

    Mister Francisco Silva

    Li seu recado há pouco.

    Cheguei a conclusão que sou igual a Ernesto Dantas.

    Mas, quer saber, daqui a uns dias me aposentarei. Nada melhor que um Partido Politico para preencer as horas vagas de uma pessoa.

    A Política mexe com a cabeça da gente, e como mexe!

    Obrigado pelo recado e que Deus lhe dê dias cheios de glória.

    Saúde para você e todos os familiares.

    Paulo Pires

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