CNBB e Meio Ambiente: Uma pauta constante

Por Ricardo Marques

Nos últimos anos, a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil tem demonstrado uma atenção especial a temas ligados diretamente à discussão ambiental e seus reflexos na sociedade moderna. Mais uma vez, em 2011, a temática volta a fazer parte da Campanha da Fraternidade, dessa vez com o tema “Fraternidade e a Vida no Planeta” e com o lema “A Criação geme como em Dores de Parto”.   Façamos um histórico recente e veremos que o tema volta e meia está em voga na CF: 2010: Economia e Vida – serviu de alerta às pessoas quanto à séria questão do consumismo e seus efeitos na vida humana e no meio ambiente. 2007: Fraternidade e Amazônia – suscitou a discussão sobre a importância da preservação da Amazônia para a construção de uma soberania nacional a partir de uma das suas principais riquezas naturais. 2004: Fraternidade e Água – discutiu a importância do uso racional da água e sua necessidade de preservação para as gerações futuras. 2002: Fraternidade e Povos Indígenas – fez lembrar ao povo brasileiro a sua verdadeira origem e a grande dívida da sociedade brasileira para com seus verdadeiros donos.
 
Dentro de alguns dias, após o carnaval, todas as dioceses e arquidioceses do país começarão a discutir os efeitos das mudanças climáticas e o como elas estão ligadas ao nosso modo de vida contemporâneo. Um assunto urgente e atual que precisa entrar cada vez mais nas agendas governamentais e da sociedade. O tema desse ano parece também ser uma inteligente continuidade da CF do ano passado, já que uma das causas do processo de mudanças climáticas provenientes da ação humana é um exagerado modelo de consumo que faz com que haja exclusão, injustiça social e ao mesmo tempo desrespeito aos limites da natureza.
 
Esse modelo é tão irreal que, caso conseguíssemos fazer com que todos os cidadãos do mundo tivessem um potencial de consumo igual ao dos habitantes dos países mais ricos, necessitaríamos de quase cinco planetas. Mesmo nos dias atuais, estamos utilizando da natureza, vinte e cinco por cento a mais de recursos naturais do que ela do que sua capacidade de recomposição. Isso significa que um colapso deverá acontecer daqui a alguns anos, ou seja, uma tragédia ambiental anunciada, que, na verdade, tem sido vista o tempo inteiro em acidentes “naturais” que acontecem em todo o mundo, inclusive no Brasil, como foi o caso recente do Rio de Janeiro, evento que especialistas de universidades concluíram ter sido acima de qualquer estado de normalidade.
 
  Em 2010, realizamos em Conquista um seminário para discutir mudanças climáticas na região, em parceria com a SWF (State of the World Forum), com a presença de especialistas internacionais. Pioneiro entre cidades de interior do Brasil, o evento atraiu a atenção de várias cidades do Sudoeste da Bahia e propiciou o início da discussão no Estado e como precisamos adaptar nosso modo de vida. Na oportunidade, ficou claro que este não é um problema de tecnologia, já que dispomos hoje de soluções limpas para quase todos os problemas ambientais que se perpetuam. Mas a necessidade de uma nova postura política mundial em torno das questões pode ser o caminho para um novo modelo de vida humano pautado na justiça, solidariedade e sustentabilidade.
 
Que a Campanha da Fraternidade abra nossos olhos para a necessidade de um novo pacto social entre cidadãos, empresas e setores governamentais. Mais uma vez a CNBB, cujo presidente é nosso querido Dom Geraldo Lyrio, dá um passo importante para a conscientização da sociedade em torno da urgência dos assuntos ambientais.
 
*Ricardo Marques é Administrador, Professor de Teoria e Gerenciamento de Empreendimentos Públicos, Logística, Gestão Ambiental e Planejamento Urbano e Mestrando em Meio Ambiente e Desenvolvimento. Atualmente é Vice Prefeito de Vitória da Conquista.


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