Por José Carlos Barreiros
O Partido Verde deveria ser, no Brasil, a exemplo da sua configuração em diversos países do mundo, um “partido movimento”, com ampla participação dos cidadãos e com foco nas questões eco-socialistas, considerando que a sua criação deu-se em meio a um movimento político global, contrário ao capitalismo desumano, produtivista, consumista e individualista, cujos sinais foram detectados mais amplamente em Estocolmo, em junho de 1972, quando a luz vermelha se acendeu alertando os países industrializados para os problemas gerados pelo aumento da produção sem cuidados com o meio ambiente. Nesse momento era criado o primeiro grupo político, com visão crítica sobre estes problemas, em Hobart, cidade na região da Tasmânia, na Austrália e que deu origem aos partidos verdes espalhados pelo mundo. O grande patrimônio do PV brasileiro é sua origem e a de seus fundadores. Militantes contrários à ditadura, na década de 1970 , na volta do exílio, principalmente vindos da Alemanha, Suécia e França e juntaram-se à jornalistas, intelectuais, artistas e ambientalistas, formulando os princípios que nortearam o manifesto para a criação do PV, em 1986.
Trecho do manifesto de janeiro de 1986: “ O Partido Verde se define como um movimento de cidadãos… O povo brasileiro está cansado de uma elite fisiológica, que vê na política não uma forma de representação das aspirações dos cidadãos, mas uma carreira profissional, um caminho de enriquecimento e poder individual”.
Sua característica marcante é a possibilidade de participação, que fez com que em alguns países, como na Nova Zelândia, houvesse experiências exitosas de participação direta da sociedade na administração municipal através de um conselho, eliminando a representação parlamentar. Isto é revolucionário.
O PV nacional é um partido ideológico e vive um momento de inflexão, importante e ao mesmo tempo preocupante, diante das disputas internas, que se sobrepõem ao seu verdadeiro papel como partido contemporâneo e conectado com os fatos relevantes deste século.
Algumas frases de membros do PV, que caracterizam o momento de efervescência:
Alfredo Sirkis- Dep Federal/RJ. um dos fundadores- “Não são propriamente grupos. Há pessoas que encarnam o eleitorado do PV em seu ideário histórico. E tem pessoas que buscam o controle cartorial”. Achamos que o partido tem que ser democratizado, tem que haver uma participação maior da base, que o partido de 2011 não é mais o de 2009, porque houve uma campanha presidencial com 20 milhões de votos. É absolutamente impressionante que haja pessoas que queiram até a saída da Marina do partido. Pessoas ligadas ao Penna começaram um movimento chamado “Vai, Marina”
Dep. Est. Aspásia Camargo PV/RJ – “Política é uma força dinâmica que impõe o seu ritmo de maneira implacável. Quando as promessas não encontram respostas criativas em tempo hábil, a atenção do público se frustra e se desloca, em busca de novas promessas e desafios. Operamos até aqui com consensos genéricos, o que me deixa muito insatisfeita, pois minha formação política e profissional me faz valorizar o debate de opiniões e a qualidade das informações.
É o eleitoralismo que tanto tenho criticado ao longo dos anos e que subjuga e destrói a vida partidária brasileira. Mesmo o PV, que mantém ainda viva a chama do movimento social e que formalmente se inspira e se alimenta dos mesmos, padece deste terrível mal.
Fernando Gabeira – Fundador do PV – “O PV não pode ser feudo de ninguém”.
Maurício Brusadin – presidente deposto do PV de SP –
“O cancelamento de São Paulo aconteceu porque o Penna não quer democracia interna e não deseja construir um projeto autônomo para o partido.
Tornamo-nos mais um partido como os outros, somos reféns do “peemedebismo”, uma espécie de federação de interesses, cujo desejo maior é entrar em qualquer governo, independente do conteúdo programático”.
“É uma decisão arbitrária, tomada pela segunda vez em menos de quatro meses, sem que a Executiva Nacional fosse ouvida e contra as próprias atribuições estatutárias”.
Enquanto a necessária reforma política não acontece, temos que amargar situações esdrúxulas, como a vivida por alguns militantes do PV, na Bahia. Eu me pergunto, onde está o verdadeiro espírito de partido, que deve ser fundamentado na participação ampla dos seus membros, atuando para o seu fortalecimento.
Sei como é difícil para o Marcio Higino, com uma trajetória forjada na luta, cuja cultura política tem como prática a participação e a dialética, ter que conviver com a tradição política anacrônica, que beneficia indivíduos, através dos acordos bilaterais, com objetivos meramente eleitoreiros.
“O sectarismo é apoliticismo. O gesto pelo gesto, a luta pela luta e especialmente o individualismo estreito e mesquinho, que não passa de uma satisfação caprichosa de impulsos momentâneos, etc.”(Gramsci)
Da mesma forma que o Marcio foi preterido pelo grupo que comandava o PV em 2008, no momento da indicação dos nomes para ocupar um cargo no município, eu, também sofri um golpe político, desferido por dirigentes avessos à prática democrática. Fui afastado do partido por pensar de forma diferente.
Por conta da pressão sofrida, fui obrigado a deixar o partido, que modestamente ajudei a construir e que reconheço como um partido contemporâneo e importante para a o crescimento da democracia.
O atual chefe de gabinete do prefeito Guilherme Menezes, não foi indicado pelo PV, foi escolha pessoal do prefeito, o que valoriza ainda mais sua nomeação. Qualquer deputado ou executivo gostaria de ter a assessoria de um político do quilate do Sr. Marcio Higino, pela sua capacidade de formulação e de articulação política e pela trajetória profissional, como funcionário do Banco do Brasil.
Mesmo estando fora, desejo que o PV possa se reerguer, atraindo mais pessoas como o Marcio Higino, resgatando o partido para a verdadeira militância, pois os verdes podem contribuir de forma significativa para o processo de avanço da democracia e fortalecimento dos partidos políticos em nosso município. O PV de Conquista tem, ainda, filiados responsáveis e com capacidade de reflexão, que permitem a retomada da verdadeira trajetória política delineada por aqueles companheiros, em 1986.
E nós, militantes de partidos ou não, temos que aprofundar as discussões sobre a reforma política, levantando com responsabilidade certas questões: financiamento público, fidelidade partidária, lista e tudo que possa contribuir para o fortalecimento dos partidos, o aumento da participação coletiva, valorização da militância, criando mecanismos capazes de inibir filiações eleitoreiras de última hora e o surgimento de partidos para aluguel da sigla, etc..
José Carlos Barreiros – ex-presidente do PV local, ex-chefe do IBAMA e ex-coordenador da SEMA/IMA