A História, como é bela a História
Por Paulo Pires
Não sei se há maldade no discurso da Oposição em Conquista ou se realmente um petista “aloprado” disse em algum lugar que a História desta cidade começou em 1997. Ora, ora, em qualquer das opções diria que isso é absolutamente ridículo. Ou seja, se alguém do Partido dos Trabalhadores disse uma besteira como essa, merece umas reprimendas. Mas, ao contrário, se a Oposição estiver mencionando esse tipo de coisa para desestabilizar as boas relações do Governo Petista com a Sociedade Conquistense, objetivando um apartheid histórico-social, isso também, convenhamos, é recriminável. Em outras palavras, ambos estariam errados. Nossa História vem de longe. Muito longe. Para escrevê-la contou com homens e mulheres valorosos. Ninguém seria tolo de chegar aqui para dizer grotescamente: Esta cidade é o que é hoje, porque meu grupo político se empenhou para esse desiderato. Todos contribuíram para esse fim.
Minha adorável amiga Maria Elvira Brito Campos, doutora em Letras pela USP, hoje coordenando um grupo de Estudos em Língua Portuguesa na Universidade Federal do Piauí, escreveu recentemente um texto [publicado na revista da USP] e nele incluiu uma epígrafe do filósofo alemão Walter Benjamin onde o genial alemão ensina: […] “existe um encontro secreto, marcado entre as gerações precedentes e a nossa”. O enunciado de Benjamin tem tudo a ver com o propósito deste texto.
Por causa desse encontro secreto marcado entre as gerações destacado de maneira sapiencial pelo filósofo, infere-se que não há rupturas históricas ou geopolíticas feitas pelo homem, a ponto de fazer sucumbir ou desmerecer ações dos administradores públicos ou pessoas do passado colocando na cabeça dos contemporâneos que tudo que existe na Cidade foi “construído” no presente.
Quando Fernando Henrique transferiu a faixa presidencial para Lula, mesmo que o metalúrgico quisesse não teria como negar algumas ações positivas dos tucanos (tem gente afirmando por aí que Lula e eu não admitimos nada feito pelo simpático FHC). A História em si comprovaria que aspectos positivos das Políticas do PSDB foram aproveitados pelo PT, que teve responsabilidade e clareza para levar do ninho tucano um executivo financeiro de qualidades excepcionais como foi o caso do Henrique Meirelles.
A História de Vitória da Conquista poderia ser comparada a uma bela suíte ou, quem sabe, a uma grandiosa sinfonia. Levando nossa História para essa analogia, diríamos que sendo uma obra musical trata-se, portanto, de um conjunto de expressões harmônicas que se entrelaça por intermédio de variados e intensos movimentos. Sua abertura foi escrita inicialmente [e regida] por dois maestros: João da Silva Guimarães e o genro João Gonçalves da Costa. No movimento de abertura sente-se o frescor das primeiras notas sopradas pela doçura das flautas, clarinetas e oboés acompanhando o terral que ultrapassa o último braço da Serra do Mar.
É oportuno dizer que os acordes da abertura não tiveram a calmaria que se esperava. Mongoiós e Imborés manifestaram desagrado pela invasão emboaba e ao invés de galhardas, allegros e minuetos, trataram de botar urucum no rosto e agitaram o planalto. O fundo musical dos índios foi composto com danças do fogo e outras pavanas silvícolas. Os emboabas João Guimarães e Gonçalves da Costa perceberam que não teriam o sossego que a sonhada vilegiatura lhes prometia. Foi luta, muita luta.
O tempo passou e a calmaria se restabeleceu. A partir de 1840, começamos a ouvir minuetos, allegros, presto, allegro ma non troppo, allegro maestoso e outros movimentos. O Planalto estava pacificado. Os índios militarmente inferiorizados não expulsaram os emboabas; Aceitaram a presença do invasor a contragosto.
Josefa e Faustina (nossas primeiras Evas, pelo lado eurodescendente) cuidaram para que a família conquistense se expandisse e aprendesse os ritos mais comezinhos da tradição cristã. Do lado silvícola não se sabe o nome ou nomes das Evas tribais. É pena. São Paulo, por exemplo, soube compilar sua História e atribui a Bartira, filha do Cacique Tibiriçá, o título de Eva indígena. Bartira, conforme conta a narrativa casou-se com o português João Ramalho. Dessa união nasceram nove filhos. Juntos ao padre Manoel da Nóbrega fundaram a cidade de São Paulo e escreveram uma bela paisagem de nossa existência.
Em Conquista muitos são os momentos: Belos (e tristes). A vida é assim: Alegria, beleza e tristeza. O fato é que todos estão contribuindo para que a memória da Cidade mantenha-se viva. Portanto, recomenda-se aos pretensiosos desistirem de ir ao Cartório dos Delírios para registrar suas ambições de monopólio histórico-administrativo. Nosso progresso, nosso desenvolvimento, nossas realizações são obras de muitos. Só um louco pensaria o contrário. Viva Conquista e os seus cidadãos. Mãos à Obra. Viva Guilherme. Viva Murilo (slogan da campanha de 1989 de Murilo Mármore atribuída a um insight do ex-prefeito Raul Ferraz). È isso aí.
2 Respostas para “Pequenas Notas”
Adelson
falou tudo, por isso não a o que comentar.
PROF. KLEBER NERY
Amigo Paulo Pires.
Novamente fico extasiado com a sabedoria do seu texto. Texto enriquecido os meu conhecimentos com ele.
Sou um petista inveterado, e tenho afirmado que a administração do presidente Lula, sem dúvida alguma, principalmente para as pessoas mais carentes da sociedade, foi primorosa. Isso ninguém pode negar!
Claro que na administração do petista foram “aproveitados” alguns dos programas do Governo de FHC, a exemplo do Luz no Campo, que passou a se chamar Luz para Todos.
Diversos desses programas foram ampliados e “melhorados”, agora cobrar que nós que defendemos o governo Lula/Dilma, passe a elogiar o governo de FHC tá muito longe, já que nem os próprios tucanos, a exemplo do candidato Serrao defendeu.
“Tú que pariu Mateus, que balance Mateus!”
No mais desejo felicidade!