Notícias sobre Bossa Nova e Buena Vista Social Clube
Por Paulo Pires
Em 21 de novembro de 1962 subiu ao palco do Carnegie Hall, Nova Iorque, a turma da Bossa Nova. O band leader era o maestro Tom Jobim e a apresentação do grupo foi motivo dos mais variados comentários. Os jornalistas que apreciavam a “novo estilo” na música popular do Brasil encheram a apresentação de elogios. Em contrapartida os críticos e dentre esses o mais ferrenho, que atende pelo nome de José Ramos Tinhorão, desceram, sem piedade, o cacête na “desastrosa apresentação”. Tinhorão, talvez o mais exigente dos críticos musicais brasileiros, muitas vezes citado pelos adversários como xenófobo, era muito rigoroso quando se debruçava em estudos sobre nossa música. O homem era dotado de um espírito figadalmente nacionalista e detestava qualquer influência que pudesse sofrer nossos músicos em matéria de arte.
Em 1º de abril desse ano, a Ponto do Livro – Livraria, Café & Arte promoveu o lançamento do livro “Bossa Nova e Crítica – Polifonia de Vozes na Imprensa”, com a presença da autora Liliana Harb Bollos. Foi um acontecimento cultural que mereceu destaque e apresentou para nossa sociedade um livro interessante que traz no texto aspectos muito curiosos sobre parte de nossa cultura.
Na internet encontraremos as seguintes observações: “O texto vai além de ser um valioso material para pesquisa musical. “Bossa Nova e Crítica – Polifonia de Vozes na Imprensa” deve trazer para o jornalismo cultural uma discussão importante sobre o trabalho do crítico de arte. “Há um problema básico que é julgar. A crítica não deveria ter essa função somente. “Ela deveria mostrar um lado que o leitor comum não conseguiria enxergar”.
Realmente temos um problema muito sério na crítica e nos críticos. Eles, os críticos [de repente] tomados por uma visão absolutamente (no pior sentido) cartesiana dão-se ao exercício de julgar o que é certo e o que não é como se fossem guardiões da Verdade. Quando os bolcheviques tomaram a Rússia dos czares, Trotsky tratou de fundar um Jornal (órgão oficial da revolução) a que deu o nome de Pravda (Verdade em russo). A função dessa publicação era difundir as “belezas” realizadas pela revolução (que depois todo mundo sabe no que deu). Apesar da arrogância do nome, o jornal nunca foi contestado pelos intelectuais russos. Verdade? O que é isso? Apesar de o nome ter sido dado por Trotsky isso está mais para Stalin do que para qualquer outro revolucionário russo. Quem leu mais de um livro, sabe que a verdade existe, mas é coisa rara e não é qualquer um que possa proclamá-la em sua inteireza e a qualquer momento.
Só mesmo o efeito de uma revolução inebriante [toda revolução é inebriante] pôde ter capacidade para incutir na cabeça de um Povo que as noticias publicadas naquele órgão eram plenamente constituídas de verdades. A verdade é uma meta, um objeto dificílimo de ser alcançado. Poucas pessoas sabem onde ela está, ou podem alcançá-la em sua intrincada essência.
Voltando à questão da música popular, vale lembrar o que ocorreu em Cuba. Até em 1958, a Terra dos Castro, pareciam mais um puteiro dos Estados Unidos do que propriamente uma Nação. Mas cabe uma pergunta: Precisava o senhor Castro apropriar-se daquele País do jeito que fez? Até a música ele tratou de mudar o timbre. Os velhos músicos do Buena Vista Social Clube tiveram que comer o pão que o diabo amassou para entenderem que a revolução do senhor Fidel não lhes permitia aquela forma jazzificada de tocar. Ou tocavam no estilo do caribe ou caíam em desgraça. Resultado, os velhos músicos foram para o ostracismo.
No início dos anos 90, um alemão de Düsseldorf chamado Win Wenders, um americano de Los Angeles que atende pelo nome de Ry Cooder e outros companheiros da mesma linha arqueológica musical, ouviram por intermédio de fita cassete um grupo de velhos músicos cubanos e ficaram extasiados!
Sob patrocínio de uma gravadora de Londres se deslocaram para Havana e lá conseguiram reunir alguns remanescentes dos “monstros sagrados da música tocada no Buena Vista Social Clube”. Show de bola. Foi possível encontrar e gravar Rubén Gonzáles, Compay Segundo, Ibrahim Ferrer, Eliades Uchoa, Chucho Valdés e a única mulher do grupo, a magistral cantora Omara Portuondo, entre outros. Gravaram músicas lindas e foram prá Nova Iorque mostrar o que os velhinhos de Cuba tem. Nem precisava dizer, mas foi outro show de bola. Os americanos ficaram encantados com os “velhinhos de Cuba”, na música e no charme.
Ainda bem que os críticos musicais de Cuba se calaram e não menosprezaram ou depreciaram a apresentação no Madison Square Garden. Bom é constatar que a cultura é muito maior que as ditaduras. Por isso, quem for a Nova Iorque vai ouvir no Minton´s [Rua 54] além dos discos dos velhinhos do Buena Vista, música excepcional no sopro direto e em glissado feito por Arturo Sandoval, temperada pelo cintilante apelo, estilo Paganini, no som inconfundível de Paquito de Rivera, acompanhado pelas teclas magistrais de outro cubano genial, que encantou Dizzy Gillespie, chamado Gonzalo Rubalcaba. Cuba, Cuba, tão perto dos EUA e tão longe de uma Democracia.