A “cantada” ao professor de Biologia

Por Paulo Ludovico

Bicho danado é aluno. Sempre foi. Nos tempos de hoje, nem se fala. Sozinho, qualquer aluno é pessoa normal, como outra qualquer. Em grupo seu moço, é osso duro de roer. Pintam e bordam, demoram de entrar na sala, pedem pro professor não dar aula, mas se o professor faltar, é “um Deus nos acuda”, não há direção de escola que suporte as reclamações. Claro que Isso é em relação ao aluno mais “cobra criada”, de fazer qualquer diretora levantar os cabelos (Niêta e Ana Aquino que o digam). Claro que todas essas brincadeiras são saudáveis, fazem parte do viver da própria juventude. Quem não brincou nos tempos de escola? Quem nunca “colou” da prova de um companheiro. É difícil encontrar quem não tenha escrito na palma da mão pelo menos uma fórmula daquela prova de Física ou de Matemática. O professor que afirma: eu, tomando conta de prova, o aluno não “pesca”, é um enganado na vida. Quando o aluno quer, “pesca” mesmo. Não há quem impeça. Não vivenciar as “traquinagens” dos tempos de escola, com certeza é não ter tido uma juventude completa.

No meu caso, brinquei muito (os mais antigos do São Tarcísio são testemunhas: Nice, Edna, essa de saudosa memória e Edméia…). Quando me lembro dos meus tempos de escola, é raro não encher o rosto com um sorriso. Situações que servem de suporte para que eu, hoje, exerça a difícil arte de ser professor. Às vezes policio-me para não pensar que ainda sou um deles. Fui professor de Matemática durante 25 anos (há 2 sou professor do Curso de Direito da Fainor), mas, em muitas ocasiões, aprendia (e aprendo) muito com os alunos, principalmente o que é conviver com outras pessoas . Estar entre os jovens, nos enche mais de esperança, é uma espécie de aprendizado, de que somos responsáveis por nosso destino. Lutar sempre, esse era e é o lema, próprio da força da juventude.

Pois bem, esse “causo” de hoje se refere (novamente) ao amigo Orlei, professor de Biologia, lá no Colégio Opção (o mesmo da semana passada). E não é só para o segundo grau. O “brabo” é professor, também, de turmas de pré-vestibular. E foi justamente numa dessas turmas que esse “causo se assuscedeu”. O nosso bom Orlei moraem Itapetinga. Tododia de aula, é aquele sufoco, subir a Serra do Marçal, já se tornou café pequeno (descer também). .

Se turma de segundo grau já é daquele jeito, imagine a do pré-vestibular. Turmas cheias, mais de cem alunos na sala. Pra se fazer ouvir, o professor usa um microfone, aliás, não posso perder essa oportunidade. É uma gracinha ver Aparecido, professor de Matemática e, também, de toda disciplina que implica em cálculo, usar aquele microfone preso à cabeça. (É, daquele mesmo usado pela cantora Madonna ou, se preferirem daqueles microfones usados pela apresentadora Ana Maria Braga ou Xuxa (as referências são apenas coincidências, claro. Aliás, perto do professor Aparecido, Xuxa e Ana Maria Braga perdem longe).).

Os alunos, sempre criativos, têm a própria maneira de se comunicar entre si e de tirar as dúvidas: o bilhetinho. Ah! O danado do bilhetinho! É comum, durante as aulas, os bilhetinhos cruzarem a sala. E existem vários deles, os que trazem perguntas sérias, os que trazem perguntas não tão sérias, os que trazem sugestões e, até, os que trazem “cantadas”. E foi um desses, o da cantada, que recebeu o nosso querido Orlei, o professor de Biologia. No meio da aula, sala com mais de cem alunos, empolgadíssimo em sua própria explicação, talvez respondendo a uma questão sobre reprodução (tema em que aparecem as questões mais… ousadas), Orlei vê passar de mão em mão um bilhetinho. Mais um, entre tantos que já recebera, desde o início do ano. Ao ler o bilhete, Orlei encontrou o seguinte texto, escrito com uma caligrafia feminina, ao extremo:

“Orlei, gato!

Sou vidrada em ti. Desde a nossa primeira aula que não te esqueço. Não vejo a hora de ficarmos a sós. Sou loura e alta e, assim como tu, também não sou de Conquista.

Se quiseres saber quem sou, faça um círculo qualquer no quadro, dê uma risadinha e olhe pra cá. Estou de minissaia, sentada na última fila, de pernas cruzadas e, sugestivamente, com a caneta na boca”.

Orlei já suando frio, mas, no mínimo, curioso, venceu o primeiro momento de indecisão, fez o círculo no quadro e sorriu. Quem seria? Usando o “te, ti e tu” e não sendo de Conquista, só poderia ser aquela “louraça”, gaúcha, pouco mais de “um e oitenta” de pura perdição. Pernas grossas e perfeitas. Peitos (ou seriam seios?) que desafiavam a gravidade (apontavam para o infinito, dizia Orlei) Apenas pra ter certeza de que se tratava mesmo daquele “avião”, era só dar uma olhadinha. E o professor Orlei, cheio de esperança e antevendo as noites tórridas que viriam pela frente, virou sorrindo e olhou (mas olhou mesmo, com vontade) e sem tirar o ar de conquistador do rosto. Para seu espanto, no fundo da sala, na última fila, estavam três marmanjos, de pernas cruzadas, todos com caneta na boca e com um olhar pra lá de sensual (tudo, só gozação), pra cima do decepcionado professor de Biologia.

Dizem que, desde esse dia, o professor Orlei não lê mais bilhetinhos em sala de aula.


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