Paulo Pires
Pobre é igual cachimbo
Acontecimentos recentes nos mercados financeiros da Europa e Estados Unidos parecem confirmar um ditado popular [prá lá de popular no Brasil, reproduzido nesta coluna de forma adulterada] que sentencia o seguinte: “Pobre é igual cachimbo, só leva chumbo”. Lamentavelmente isso parece ser verdade. A Grécia, por exemplo, descobriu que a quebradeira em seu sistema financeiro ocorreu por causa dos pobres. Prá começar estão demitindo nessa semana 30 mil funcionários públicos. Ao invés de deixar os bancos quebrados irem “pra ponte que caiu”, o que fazem seus governantes? Demitir funcionários. Estes, em sua maioria, pessoas dotadas de recursos materiais mínimos, sabem que terão no futuro um resto de vida indesejavelmente turbulento. São eles que vão começar a pagar a conta pela incompetência e irresponsabilidade de um modelo de gestão político-econômica que morreu há décadas. Morreu e morreu feio, mas o farisaísmo das doutrinas neoliberais não quer admitir que elas já eram!
Movimentos populares arrebanhados pela Internet estão “mandando ocupar os centros financeiros das grandes cidades do Ocidente” para que os Senhores do Mercado Financeiro possam sentir que agora grupos de pessoas esclarecidas decidiram interferir sobre suas atuações no Planeta, revelando e socializando para os ingênuos as mazelas e a podridão contidas nas manobras que há décadas/séculos os idealizadores desse Mercado construíram para conspurcar, arrasar e tumultuar Gestões Administrativas, Economias, Políticas e Povos menos protegidos com a criação desse mundo louco que só faz nos chafurdar no lamaçal da antiética.
Esses senhores do “Mercado” (não estamos falando do industrial, do comerciante ou qualquer outro tipo de empresário que trabalha com dignidade), referimo-nos especificamente a esse tipo ordinário, especulador, que atua no Mercado Financeiro (hoje responsável por 650 trilhões de dólares rodando no delírio dos Derivativos) e que de repente tomou conta da Economia do Planeta e, pior ainda, das Editorias da Grande Mídia Internacional para espalhar um tipo de Terrorismo que a Humanidade até agora não sabe como enfrentar.
Terrorismo Financeiro promove uma modalidade de Terror que para ser debelada precisa da consciência de todos os cidadãos do Planeta. Para identificarmos esse tipo de Terrorista é necessária muita calma (muita calma nessa hora). Eis algumas das suas características: Geralmente o tipo apresenta-se sóbrio e discretamente sem esboçar qualquer tipo de ataque físico. É frio, distante, parece ser inocente, muito bem apessoado, tem um estilo elegante, anda de carros de altíssimo nível, vive em grandes mansões e castelos, sempre com roupas de grifes, tem iates, aviões, casas de praia, de campo, são bem perfumados, habitam condomínios e lugares que pobres nunca chegam lá e estão pouco se lixando para problemas na Somália, Etiópia, Sudão, Bolívia ou Haiti.
As relações desse tipo com o mundo são feitas por celulares intercontinentais e outros equipamentos de alta tecnologia (incluindo tablets de última geração). Por medida de segurança mudam de senhas em suas contas bancárias e em suas conectividades interpessoais e empresariais uma ou duas vezes ao dia. Possuem conexões com todas as bolsas sejam elas do Mercado Comum ou os de Tecnologia como a Nasdaq. Geralmente falam três ou quatro idiomas, preferentemente o inglês, o alemão, o francês e o espanhol para se assenhorear dos Mercados Latinos. Atualmente se dedicam ao estudo do Mandarim (ou chinês) para tentar entender e futuramente dominar o Mercado dos descendentes de Mao Tse Tung.
O Terrorista Financeiro, diferentemente do outro do outro tipo [o Terrorista de Guerrilha que é odiado pela imprensa] possui domínio total sobre a grande Mídia. Em todo o mundo civilizado as emissoras de Televisão, os grandes Jornais e as Revistas de maior reputação dão destaques (em tons catastróficos) de como estão se comportando as Bolsas e as respectivas cotações. Locutores com expressões faciais revelam tragédias financeiras impostando suas vozes, anunciando que tal Agência de Avaliação de Risco declarou que tal País ou tal Empresa tiveram suas notas rebaixadas. Aí, meus caros, é um Deus nos acuda.
O Catingueiro que tá plantando decentemente seu café em Planalto ou Inhobim não tem a menor idéia de que um filho da mãe desses, em Nova Iorque ou Londres, está manipulando as Bolsas para atribuir ao preço do seu produto o valor que me melhor lhe convier.
O pobre trabalhador que está em Gana, Nigéria ou Costa do Marfim se arrebentando de sol a sol para plantar seu cacau, está longe de pensar que seu produto vai ter o preço “determinado” por um sujeito instalado em uma sala de altíssimo luxo no World Trade Center. Sim, vai ser esse “bacana” quem vai “dizer” quanto vale o serviço e o produto do pobre que trabalhou feito um cão na produção desses bens. Pior é que tem gente por aí que defende esses terroristas com unhas e dentes. Realmente: “Pobre é igual cachimbo, só leva chumbo”.
Uma Resposta para “Pequenas Notas”
Beto Veroneze
Professor: na verdade o ditado é “pobre é igual a cahimbo, só leva FUMO”… entendi sua elagância. rs