“O conquistense pouco lê jornal”

Foto: Blog do Anderson

Em 14 de maio de 1911 foi lançado o primeiro jornal impresso de Vitória da Conquista. Para celebrar o centenário do jornalismo conquistense, o jornalista e historiador Luis Fernandes lançou, no final do ano passado, a “Revista Histórica: 100 anos de Jornalismo em Vitória da Conquista”. Confira a entrevista do escritor concedida ao portal do Sindicato dos Bancários de Vitória da Conquista e Região.

 Qual a principal marca do jornalismo conquistense nesse último século?

Apesar de ter completado 100 anos de Jornalismo Vitória da Conquista é uma cidade que não tem tradição e cultura pela mídia impressa, ou seja, o povo de Vitória da Conquista pouco lê jornal. Então, eu diria que a principal marca do jornalismo conquistense neste último século foi o embate entre as “gazetas sertanejas” durante quase todo este período, as querelas entre as parentelas e entre os grupos políticos, isto é, formavam-se duplas de jornais para atacar e defender determinado líder político ou grupo político, mas, jornalismo com imparcialidade e profissionalismo quase não se viu (com raras e honrosas exceções). Hoje, não é muito diferente. Falta ter a visão do “Jornal” como empresa. O maior exemplo disso é que Conquista não tem um diário, enquanto Ilhéus, Itabuna e Feira de Santana, cidades do seu porte, têm vários.

Quais foram os marcos da história da imprensa no município?

Vários. Na “Revista Histórica: 100 Anos de Jornalismo” apontamos algumas. Desde a fundação e desaparecimento do primeiro jornal até a inserção dos atuais jornais no contexto político da segunda década dos anos 2000, pontuamos questões políticas e sociais que marcaram década por década a história do jornalismo conquistense, como o episódio entre “Meletes e Peduros”, a polêmica morte de Péricles Gusmão Régis etc. Então, há muita história contada nos jornais de Conquista, muitas delas de maneira até romântica ou incendiária, mas todas elas pontuais.

Como poderíamos dividir essa história?

Essa história foi dividida por nós em décadas. Destacamos na revista os principais jornais e jornalistas dos anos 10, 20, 30, 40, 50, 60, 70, 80, 90 e 2000, bem como os líderes políticos e seus adversários no contexto político de cada época, para facilitar o entendimento histórico por parte leitor. E nessa viagem de cem anos vimos como a história de Conquista foi sendo tecida.

Como o cenário político interferiu na consolidação do exercício do jornalismo na cidade?

Fazer jornalismo numa cidade rica em história como a nossa sem estabelecer uma ligação com a política, é praticamente impossível, porque jornalismo e política, por si só, já é algo indissociável, mesmo porque, o jornalista ou quem escreve tem todo um conhecimento de mundo (e nisso o político é inerente) que passa para o papel quando ele escreve. Portanto, o cenário político interferiu, sim, em todas as décadas,  na consolidação do exercício do jornalismo nesta cidade, de maneira direta, incisiva e até dramática, como foi o caso do homicídio praticado por Hormindo Cunha ao sentir-se desonrado pelo Coronel Paulino Viana num episódio ocorrido em janeiro de 1916 que levou ao fim do primeiro jornal da cidade, “A Conquista”.

É possível traçar um perfil do público, leitor, expectador do nosso jornalismo?

É difícil, porque, como disse anteriormente, o conquistense pouco lê jornal, particularmente o jornal local. Talvez agora possa ser despertado para isso com o lançamento de uma revista que conta justamente a história da imprensa desta cidade, trazendo do passado fatos e acontecimentos interessantes, contados num contexto político que facilita o entendimento de certas situações que levaram Vitória da Conquista a ser a cidade que é hoje, uma cidade pujante, líder de uma região com mais de um milhão de habitantes e que influencia dezenas de cidades da região centro-sul, oeste e sudeste da Bahia, bem como do norte de Minas Gerais.

Além dessa revista, quais os planos do projeto Taverna da História de Vitória da Conquista?

O nosso projeto é, primeiro, fazer com que o Blog “Taberna da História Vitória da Conquista” seja acessado cada vez mais por pessoas que se interessam e gostam da nossa história, bem como têm curiosidade em conhecer pessoas, ruas, empresas, escolas, hospitais, médicos, professores, cinemas, praças, lojas, pintores, escritores, enfim, uma infinidade de temas e assuntos do passado do antigo “Sertão da Ressaca”, que despertam o nosso interesse, bem como ajudem a construir esses recortes, enviando fotos antigas, curiosidades, histórias e tudo aquilo que possa ser postado para enriquecer o nosso blog. Em segundo lugar, partindo do blog, começamos a escrever a nossa história através das revistas temáticas (a primeira foi sobre jornalismo e a próxima será sobre a história da educação), onde vamos organizar, por temas, a nossa rica história. Quero publicar revistas sobre a história do Rádio (ano que vem, 2012, vai fazer 60 da primeira rádio em Conquista e vamos aproveitar a deixa para publicar uma revista com esta temática), bem como outras versando sobre saúde, esporte, festas populares, cultura (envolvendo literatura, pintura, cinema e teatro), história econômica, política e social etc. E, por último, pretendo lançar, junto com os grandes conhecedores da história desta cidade, uma “Enciclopédia Histórica de Conquista”, mas isto é para médio a longo prazo, reunindo todas as revistas que publicaremos com riqueza de detalhes. É isso!


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