Vigilância

Por Jeremias Macário

Volto ao comentário anterior sobre a ditadura civil-militar quando disse que tem saído coisas desencontradas na imprensa (intencional ou por ignorância) que têm me deixado estupefato. Esses apoios à ditadura requerem da nossa parte vigilância permanente em defesa da liberdade, informando corretamente às novas gerações o que realmente ocorreu naqueles tenebrosos anos de chumbo que, a meu ver, foram de 1964 a 1988(última Constituição).   Um moço, cujo nome não merece ser citado, porque seria dar  visibilidade, escreveu, no Espaço do Leitor, do jornal A Tarde, que “o que foi feito em 1964 só se pode louvar”. Se for um militar linha dura, dá até para entender, mas se é civil, nos envergonha. Aliás, para dizer tal asneira, deveria glorificar a democracia, plena ou relativa, conquistada por aqueles que lutaram por ela. É o tipo de gente que acha que não existiram torturas, estupros e mortes nos porões da ditadura. Tudo não passou de uma mentira.

O escrevente destilou toda sua raiva contra o ex-deputado Emiliano José, incomodado por sempre falar sobre o período dos governos militares. A mídia deveria reservar um espaço todos os dias para comentar o assunto. Se por acaso me ler, serei picado pelo seu veneno, mas a esta altura da vida seus ferrões não vão mais penetrar no meu couro enrijecido. Entre outras besteiras, o moço sapecou que 64 ocorreu devido a um movimento “popular” liderado pela mulher brasileira. Talvez ele esteja se referindo à Marcha pela Família e pela Pátria, mas não foram somente as mulheres que participaram do movimento.

O golpe de 64 começou a ser ensaiado pelos generais desde o suicídio de Getúlio Vargas (1954). No início dos anos 60, os militares foram impulsionados pela burguesia capitalista que temia perder seus privilégios, tendo à frente a Igreja Católica, a classe média e outras instituições, como a própria OAB. Depois esses segmentos passaram a combater as atrocidades quando o regime endureceu.

Perdoai, Senhor, porque não sabem o que dizem! Por essas e outras é que defendo vigilância constante e que a questão da ditadura burguesa-militar se torne disciplina específica da nossa história a ser ensinada aos jovens nas escolas públicas e privadas. É uma pena, mas as novas gerações pouco sabem sobre esse período de trevas vivido pelo nosso país.

Mas, nem tudo está perdido. Recentemente, vem ocorrendo em várias capitais, o Levante Popular da Juventude em defesa da Comissão da Verdade, que visa não deixar que se apague o resto de memória que ainda existe sobre o que foi aquela dura repressão. Povo sem história é povo sem identidade. O Levante pede, em suas ações, que os torturadores sejam denunciados.

Nos últimos cinco anos tenho me debruçado sobre o assunto através de pesquisas e leituras. É um passado que nos envergonha e, por isso, exige de nós permanente vigilância em defesa da liberdade, mesmo numa democracia que não é a ideal. Dentro deste contexto do golpe, estou concluindo o livro “Uma Conquista Cassada”, com muito sacrifício devido, sobretudo, à falta de recursos financeiros.

Tenho contado com ajuda de amigos, mas vou precisar de muito mais para sua publicação. Estou consciente o quanto vai ser difícil, mas esperançoso. Uma das idéias é transformar o projeto numa obra colaborativa, com a participação de pessoas, entidades, órgãos e empresas interessadas na preservação da nossa história. Está aberta a temporada de apoios e sugestões.


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