Os 25 anos de uma sucursal

Por Jeremias Macário

Não é saudosismo ou coisa parecida, mas é bom registrar os 25 anos de uma sucursal jornalística nesta cidade de Vitória da Conquista, que neste mês de agosto chegou ao seu fim, ou melhor, dizendo, fechou suas portas. Trata-se da Sucursal Sudoeste do Jornal A TARDE, que durante todo este tempo procurou realizar um jornalismo sério, não se limitando ao factual e ao simples registro das notícias.     Nos anos 70 o jornal A TARDE expandia sua cobertura jornalística para vários pontos estratégicos do território baiano, criando sucursais em Feira de Santana, Itabuna, Juazeiro, Jequié e Vitória da Conquista. Depois vieram Barreiras, Teixeira de Freitas, Eunápolis e Santo Antônio de Jesus. O plano era ampliar para outras cidades menores, inclusive Guanambi, na região sudoeste.

   Vamos nos fixar no nosso caso específico de Vitória da Conquista, quando em 1987 foi instalada a Sucursal do Sudoeste, abrangendo cerca de 60 municípios, sob o comando do jornalista Sérgio Fonseca. Antes disso, porém, o fotógrafo Cadete já atuava como correspondente do jornal, enviando suas notícias, fatos e fotos dos acontecimentos.

  Em 1991, entre março e abril, aqui chegava para mais um desafio na minha carreira profissional, vindo diretamente da redação da capital, onde atuava na Editoria de Economia. Sérgio foi transferido para Barreiras e eu assumia a chefia da Sucursal, com uma estrutura de mais de 20 funcionários, sendo três repórteres, Edilberto Boaretto, Moacir Andrade e José Silva (fotógrafo), além de uma secretária (Márcia), entre outros de apoio logístico administrativo.

    Em 1997 comemoramos os dez anos da Sucursal, colhendo bons frutos junto à comunidade da região, com um trabalho árduo de uma equipe que vestia por inteiro a camisa do jornal. Além da distribuição, da publicidade, da circulação das vendas avulsas e assinaturas, fizemos, durante todo este tempo, um trabalho sério de jornalismo, reconhecido por todos, apesar do incomodo que muita gente sentia com nossas denúncias e críticas.

     Com exceção do jornalismo, no início dos anos 2000, todos os serviços prestados pela Sucursal foram terceirizados. O Caderno dos Municípios, que chegou a ser diário, foi fechado, reduzindo os espaços dos noticiários do interior. A voz dos prefeitos e de todo sertão se calava aos poucos. A grande maioria não conseguia entender o que estava acontecendo. Em 2005, mediante um acordo, decidi me afastar do jornal, ficando os repórteres Juscelino Souza e José Silva, uma recepcionista e um motorista (depois demitidos).

   Na semana passada chega a notícia definitiva do encerramento de suas atividades, depois de alguns anos de informações desencontradas sobre seu fechamento e até de uma possível reestruturação. Outras sucursais do interior também foram fechadas. É uma posição econômica e financeira da empresa, da qual não me compete entrar no mérito da questão, como foi a terceirização. Um ajuste aos novos tempos da internet?

    Só quero aqui lembrar e saudar a equipe com a qual trabalhei durante 14 anos juntos (Inês Galvão, André Gaston, Ednólia, Edivaldo, Romeu, Fábio, Dimas, Marcos, os meninos entregadores dos jornais, além dos repórteres já citados), enfrentando obstáculos e obtendo os resultados almejados.

  Tenho certeza que no jornalismo, apesar dos erros humanos, marcamos história, ganhando prêmios e dando “furos” de reportagens, inclusive em toda imprensa da capital. Cobrimos vários fatos importantes, como a seca na região, as enchentes, as catástrofes nas estradas, as denúncias de irregularidades e os bons serviços das entidades e instituições em geral.

  Acompanhamos de perto todo crescimento regional na educação, na cultura, na saúde, na política, na indústria, na edificação de obras (construção civil), no comércio e nos serviços. Sempre demos espaços às artes e aos artistas. Pelo nosso trabalho destemido, de um jornalismo sério, nossa Sucursal chegou a ser invadida e fomos ameaçados várias vezes. Não recuamos e, por isso, fomos reconhecidos e respeitados.

   A Sucursal de Vitória da Conquista fecha suas portas, mas deixa uma referência como deve ser feito um bom jornalismo, sem interferências internas e externas, com imparcialidade, dentro do possível. Apesar dos embates e discussões, aqui tivemos o apoio da comunidade, dos companheiros da imprensa local, da ABI (Associação Baiana de Imprensa) do Sindicato dos Jornalistas e das entidades locais nos momentos mais difíceis.

   É verdade que fomos criticados em muitas ações jornalísticas, principalmente nas denúncias, mas tinha que ser assim. Contrariamos pessoas, órgãos e instituições, mas não poderia ser diferente diante da firmeza jornalística, com a qual nos agarramos durante todo este tempo.

  Combatemos o bom combate e cumprimos a nossa missão. Fizemos história, mesmo diante de todas as dificuldades. É uma pena que tenha que terminar assim. Lamento muito. O fechamento da Sucursal deixa uma lacuna em toda comunidade da região sudoeste. Que sua história seja registrada nos anais da Câmara.


Os comentários estão fechados.