Centro Cultural BNB é adiado em Conquista

Foto: Blog do Anderson

Por Jeane Marie Rocha

Em 2009 fui convidada pelo gerente Jonas Sala, do Banco do Nordeste, para ser articuladora de uma das diversas oficinas de capacitação artística na área de projetos culturais do BNB de Cultura. A partir daí, conheci as ações desenvolvidas pelo Banco na área e o desejo de Jonas Sala de trazer para Conquista o Centro Cultural Banco do Nordeste e uma das quatro cidades do Nordeste a receber esse grande projeto Cultural (não apenas um equipamento). E, para esse fim, ele não mediu esforços. 

Eu ficava encantada em ver um grande gerente de banco com alma de artista querendo contribuir com o desenvolvimento e a democratização da cultura em sua cidade. Vesti então a camisa dessa luta e participei de todas reuniões, oficinas, seminários. Quando foi anunciado que Conquista foi escolhida para ser sede do primeiro CCBN da Bahia, fiquei muito feliz, afinal seria um investimento de mais de 4 milhões, R$ 1,6 milhões por ano só para a manutenção. “Ganhamos um presente revestido com papel de sonhos e sentidos, pelo instrumento da ARTE! pautadas em possibilidades de transformação de vida de crianças, idosos, portadores de necessidades especiais moradores principalmente em bairros adjacentes como Pedrinhas, Alto Maron, Guarani, Petrópolis, porém abrangendo a cidade como um todo. Foram tantas oficinas de mobilização, seminários, formação!
Confesso que às vezes ficava extasiada com a quantidade de possibilidades, principalmente porque tenho conhecimento que hoje as atividades culturais constituem um dos setores mais dinâmicos e com impactos significativos e crescentes na economia criativa.
Por acreditar em todas ações realizadas em prol da discussão, eu estava lá, contribuindo… sonhando… junto com a equipe técnica do BNB e colegas artistas preocupados com o desenvolvimento cultural da cidade.
Vitoria da Conquista não tem um teatro com espaço físico com a dimensão do CCBN, tanto nas especificações técnicas quanto no próprio conceito — um total respeito à arte e suas necessidades estéticas. Nós, artistas, fomos convidados a contribuir com um seminário, no qual cooperaríamos no projeto arquitetônico, assim como também no funcionamento. Recordo-me de duas adequações: antes o teatro teria 250 lugares e, depois que argumentamos que seria o nosso primeiro teatro, aumentaram a capacidade para 300 Lugares. Outro se referiu ao funcionamento, que nos garante a contratação de um assessor de imprensa para o quadro funcional, responsável para assessoria de comunicação.
Nas Oficinas acontecia o que sempre achamos possível, trabalho coletivo em favor do bem comum e igualmente uma mola propulsora de prosperidade, haja vista que o artista também arca com o custo de luz, aluguel, telefone. Cá entre nós, o tempo de “pires na mão” ficou para trás, afinal somos profissionais da cadeia criativa.
Nessas discussões, além do próprio arquiteto, a equipe de produtores culturais e gestores que estavam à frente do CCBN era gabaritada e apresentava a forma como já funcionava esse tipo de empreendimento em algumas cidades do Nordeste, ilustrada com fotos e dados estatísticos. Eu dizia a mim mesma: “existe! não é um sonho…”
Desde o inicio, percebemos e entendemos in loco o que a gestão democrática da cultura implica em participação e colaboração. Assistimos às nossas propostas sendo respeitadas, participando um feedback prático e concreto. Depois do processo de adequação física e de funcionamento com quem entende e vive da arte — os artistas e produtores culturais — partimos para outro momento lindo e de fundamental importância para a qualificação técnica, a formação por meio de oficinas de diversas linguagens artísticas.
O sonho estava se concretizando, num respeito à arte a aos artistas da cidade. Bem simples: gestão democrática. Por meio de editais de compra de espetáculos de qualidade artística, oferece-se ao público gratuitamente arte em diversas linguagens, formando platéias.
Aqui na nossa cidade ganha formato com uma estrutura física fantástica com teatro italiano de 300 lugares, salas de ensaio, biblioteca, sala de exposição. Na programação, trabalha-se com edital anual onde se recebe propostas de artistas da área de teatro, música, atividades infantis, literatura, artes plásticas, valorizando a inclusão do artista, sua arte e o público. CCNB tem práticas com projetos culturais de sucesso!
Numa dessas oficinas, assistimos a vídeo dos procedimentos realizados em Fortaleza e Cariri, com demonstrações dos elementos relacionados, democratização da cultura para todas as idades. Depois de variadas discussões sobre o local para a construção, decidiu-se pelo terreno ocioso escuro e sem nenhuma função ao lado da Praça Sá Barreto.  Paralela a essas minha vivências nas oficinas, comecei a ouvir pessoas apenas interessadas em polemizar, “do contra”, prejudicando a construção, a exemplo de Raul Ferraz que ajuizou uma ação judicial, atrasando a obra. Levantou-se então uma discussão em torno do espaço onde seria construído. Ouvi e li em rádios e blogs muitas considerações sem pé nem cabeça… A praça é próxima a várias periferias violentas da nossa cidade e iria ganhar oportunidade de vivenciar a arte e se humanizar, na promoção de mudanças de comportamento — o que para mim já justificaria a doação.Agora, entretanto, é do meu conhecimento que o Banco resolveu adiar o projeto (nosso sonho), prestes a ser concretizado. Infelizmente, existem indivíduos incapazes de perceber o lado bom da mudança e de se “antenar” com o que está já acontecendo na área por esse Brasil afora, num total desconhecimento da política cultural e transformação positiva que ela enseja. Esses impasses não me fazem esmorecer, a luta apenas começou!
Enviaremos para o presidente do Banco uma carta assinada por pessoas respeitáveis e respeitadas, dignas de apreciação e atendimento, reivindicando a continuação do nosso Centro Cultural CCBN, ótima oportunidade de investimento na diversidade cultural da região e que agirá substancialmente como um fator de integração sócioeconômica, fortalecendo a economia criativa.

Uma Resposta para “Centro Cultural BNB é adiado em Conquista”

  1. Ferdinand Martins da Silva

    Concordo plenamente com a autora. Mas é importante frisar que isso também se deve a falta de comprometimento dos gestores públicos em cumprirem as suas funções de atenderem por meio de execuções efetivas e não de promessas,as demandas oriundas da sociedade, neste caso representada pela área cultural tão importante para a população. Ademais os eventos de natureza privada na cidade são corriqueiros e têm o efetivo apoio do poder público municipal. O que é uma lástima!

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