Crime de uma eleição anunciada ou quase vencida

Por Vitor Fernandes*

Não tem como. O clima de já ganhou é geral. Essas afirmações de algum amigo seu, senão suas mesmo, não têm fundamento pra nenhuma eleição. Sempre há muita campanha pela frente, mesmo só faltando dois dias, caro amigo. Como você acha que alguém vira os placares? E todo mundo gosta mesmo desse negócio de pesquisa. Tá tudo pronto. Vamos ganhar de lavada!

O diálogo de dois senhores acontece durante a noite, na véspera de uma eleição, em uma cidade qualquer da Bahia. Lá, a noite é bem movimentada. Era o momento onde poderia fazer de tudo utilizando o dinheiro público. Tudo na obscuridade. E como era difícil ter uma fiscalização assídua, os cabos-eleitorais sempre deitavam e rolavam. Havia de tudo, Kombi distribuindo cestas básicas, carros-pipa colocando água em reservatórios que estão secos há quase dois anos, casa sendo pintada, reformada, construída e ampliada. Isso tudo na zona rural e urbana, de noite uns fazem o trabalho sujo e de dia os políticos ganham os votos. Não sei, só sei que era assim!

Já aconteceu muito, em diferentes municípios de diferentes estados. A compra ou troca de votos sempre existiu, mas isso não quer dizer que seja aceitável. Em alguns casos até emprego fantasma é oferecido, como a gente já viu em vários vídeos e áudios, que pra justiça não valem muito, pra mim um absurdo. Para o eleitor deve ser ao contrário. Deve servir de base. Ao menos era pra ser dessa maneira. Se está “roubando” agora, imagina quando entrar na Prefeitura?

É, o melhor de tudo sempre fica em segredo. Participar de compras de votos durante os últimos dias que antecedem as eleições, por exemplo, era o segredo da confiança de quem diz que vai porque vai ganhar a eleição. E o diálogo dos senhores continua: Estamos com a máquina, vamos ganhar essas eleições de lavada. Não importa quem entra, nem quem financia, estamos dentro.

Então tá certo. Melhor seguir pra casa que a patroa espera o pão de cada dia. Não me deixe levar a razão amigo, vote conosco que consigo algo para o senhor em janeiro. Aí tu sabe como é, eu te emprego e tu me passa metade do teu salário. Não precisa ser tão sincero e direto, essas coisas a gente não conta. Não é verdade? O importante é que no dia você e sua família, que sei que é grande, votem conosco. Vamos virar esse jogo (ou ganhar de lavada) e eleger o nosso coronel de novo. Tem município onde essa patente muda.

As nossas razões são inúmeras, não é verdade? Mas a compra de votos é uma via ilegal que acaba comprometendo ao menos quatro anos de sua vida. Mesmo com os benefícios, pense direito antes de votar. Às vezes o pouco é digno e é mais forte que o muito fácil, e isso é o que carregamos no fundo da alma, com caráter e responsabilidade. Existem caminhos para se manter digno: não se corrompendo e nem se matando. Fica a dica. Boa sorte nos próximos anos.

Vitor Fernandes é jornalista e assessor de imprensa


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