Mediocracia e Meritocracia

Por Jeremias Macário

Voltando à questão do, “Agora a Coisa Vai”, será mesmo? Dá para acreditar? Nos últimos tempos, as cotas no Brasil não se resumem às universidades. Elas também se disseminaram na política, quando se passou a distribuir cargos públicos, não se levando em conta o mérito das pessoas, mas com base nas suas ligações partidárias e nos agrupamentos, principalmente após as campanhas eleitorais.

A capacidade de exercer uma função importante, a propalada meritocracia, deixou de existir para dar lugar à mediocridade. Com isso, a mediocracia foi tomando conta do pedaço e vemos hoje gente, do primeiro a terceiro escalão dos governos, indicada aleatoriamente para chefias, exclusivamente para preencher a cota do partido aliado. Cada um tem direito ao seu lote. É assim que a coisa funciona.

Não nos indignamos com isso, pelo contrário, dizemos simplesmente que a coisa é assim mesmo na política. São os chamados acordos e coligações da “governabilidade”. Falamos a mesma coisa dos políticos que não têm mais coerência. O normal é a incoerência. Ideologia é se pendurar num cargo. E assim, o país vai cada vez mais se afundando. Nos calamos diante do incorreto, como se não tivéssemos nada a ver com isso.

De um especialista no assunto, li certo dia um comentário, de que um incompetente num cargo público é pior do que um corrupto, em termos de prejuízos para a população, não somente financeiro, como também no aspecto humano. O incompetente pode também tirar vidas.

Ele mostrava, através de números quantitativos, que a soma de toda corrupção, da qual é vítima o país, é menor que as predas sofridas por falta de técnicos competentes em cargos governamentais. Além do mais, temos o inchaço nos órgãos públicos, de milhares e milhões de cargos de confiança, somente por conta das ligações políticas.

Nesta semana, um articulista escreveu num jornal da capital sobre meritocracia e afirmou que deveria ser estabelecida uma lei, vedando a postulação e consequente nomeação de quem tivesse qualquer vinculação política. Pode até ser um exagero, mas a cota da mediocridade é uma ação valorizada no mercado público, dando de goleada na chamada meritocracia.

O articulista clamava ainda por uma ampla reforma política e eleitoral, mas ninguém está a fim de discutir e exigir, como cidadão, uma limpeza nesse modelo nefasto e devastador, como a saúva na lavoura. Lembro aqui, se não me engano, do romancista Lima Barreto: Ou acabamos com a saúva, ou a saúva acaba com a nação.

De um modo geral, o eleitor não tem dado importância para a escolha do seu legislativo, especialmente para as câmaras de vereadores. O voto sempre recai para o candidato popular, seu amigo, ou para aquele que já prestou um favor, geralmente na forma de ajuda financeira, direta ou indiretamente.

Resultado disso é que as câmaras municipais são de baixo nível, piorando a cada eleição, mas não ligamos para isso, nem fiscalizamos, nem cobramos representatividade de qualidade para a cidade. Devido o comodismo e o individualismo, nem procuramos saber quanto ganha um vereador, e o que ele faz com a tal verba de gabinete.

Por sua vez, como impera essa alienação visceral em nossa sociedade, aliada à situação social de pobreza e à falta de instrução da grande maioria, as câmaras e seus legisladores – são mais porta-vozes dos prefeitos – não se incomodam em ter transparência. Se não são cobradas, também não estão nem aí para transparência.

Pergunte a um vereador de sua cidade quanto ele recebe por mês entre salário, verba de gabinete e outros subsídios de custeio. Ele vai fazer mil voltas na conversa e acabar lhe deixando nas nuvens. Irrita-me essa papagaiada, repetida tantas vezes, de que o voto obrigatório é um ato de cidadania e democracia, como se a cidadania só se resumisse nisso. Fica a impressão de que a obrigação e a democracia acabam naquele ato.

Basta a mídia ouvir um eleitor na rua e ele enche a boca: O voto é um ato de cidadania e democracia. E depois? E depois cada um que se lasque e cuide de si mesmo. Dias depois, ele não sabe nem em quem votou, quanto mais cobrar representatividade, a não ser um pedido individual, como um cargo qualquer. Que democracia é essa?

A política que devia ser a saída, atravanca a nação. Afinal de contas, está sendo bom para todos, visto que os bons se silenciam e se calam diante das aberrações. Quando esse submarino vai emergir de vez para a costa? Como não há cobrança e manifesto, nada de reformas. E viva o clientelismo político! É uma nave abarrotada de oportunistas!


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