Wagner dá entrevista ao A Tarde

Duas semanas depois de amargar nas urnas a derrota dos candidatos petistas à Prefeitura de Salvador e Lauro de Freitas, o governador Jaques Wagner assume um discurso conciliatório e republicano, como gosta de dizer. Assegura que vai tratar o prefeito eleito ACM Neto de forma diferente do que fez o avô dele com Lídice da Mata, nos anos 1990, mas alerta: se o democrata fizer a prefeitura de palanque, a gestão vai virar disputa eleitoral. Nesta entrevista exclusiva concedida à Editoria de Política do A TARDE, cuja íntegra pode ser conferida no portal, reafirma que o PT saiu vitorioso das urnas, mas admite o impacto das greves dos professores e da Polícia Militar no resultado da eleição. Pela primeira vez, diz que prefere cumprir o mandato até o final e admite ser candidato a presidente, caso seja convocado, em 2018. Ao falar do governador de Pernambuco, Eduardo Campos (PSB), repete o alerta: “Para ganhar na política é preciso juntar”.

A sua base de apoio cresceu, mas o senhor continua sem os dois maiores colégios eleitorais da Bahia – Salvador e Feira de Santana. Como o senhor pretende conquistar este eleitorado em 2014?

Respeito a decisão dos eleitores. O resultado para o grupo político que eu capitaneio foi muito positivo, com 350 prefeituras. Ganhamos muitas que não estavam com a gente, mantivemos outras importantes, como Vitória da Conquista. Como você mesmo disse, não conquistamos nem Salvador, nem Feira, que são realidades muito diferentes. Feira tem a sua história, mas creio que a gente somou uma semente com Zé Neto, que eu considero ter tido um desempenho positivo. Não conquistamos lá, mas crescemos.

Como o senhor avalia o desempenho em Salvador?

O drama de uma eleição é o de sair menor do que entrou, e nós crescemos, mesmo no caso de Salvador. Em 2004, Nelson Pelegrino teve 21% dos votos. Em 2008, Walter Pinheiro teve 30% no primeiro turno. Agora, Nelson teve 39,7% no primeiro turno. Com todos os problemas que a gente tinha do desgaste da cidade, da confusão de quem era e quem não era governo, crescemos. Na comparação com o segundo turno, em 2008 fomos derrotados com 59% a 41%. Agora, foi de 53,6% a 46,6%.

Se mantiver a curva, vem forte em 2016…

Não faço esse tipo de conta porque acho que cada eleição tem a sua própria história. O novo prefeito (ACM Neto) deverá ser candidato à reeleição e é diferente de quando há uma troca. E, só para separar, ganhei todas as eleições que fiz em Salvador, mesmo quando o prefeito era Antônio Imbassahy. Lembro disso porque vejo muita gente querendo tirar conclusões de uma eleição com base no que aconteceu em outra, e essa tentativa não corresponde ao pensamento do povo.

Por que o senhor acha que não dá para comparar uma eleição com a outra?

Quando você está falando de cidade, as pessoas estão preocupadas com a situação dela. É por isso que muita gente não compreende que quando falamos em alinhamento, estamos falando em alinhamento de ideias. Dilma [Rousseff] tem obras em São Paulo, que não é um Estado alinhado, assim como eu tenho obras em todo o Estado, independente dos prefeitos.

No mea-culpa da base, de quem é a responsabilidade pelo resultado negativo em Salvador? Vocês perderam ou ACM Neto ganhou?

Não é assim, as pessoas interpretam errado. Às vezes, as pessoas ficam falando da influência disso e daquilo no voto. (No caso de) Lula, por exemplo, 56% das pessoas diziam que votariam no candidato apoiado por ele, mas, na hora de escolher, o outro candidato parece melhor e elas votam no que parece melhor. No Paraná, o prefeito era do PSB, o Gustavo Fruet era do PDT, saiu com o apoio do PT de Lula e Dilma e ganhou. Você pode dizer “ele veio aqui e não ganhou”, mas ele foi em São Paulo e ganhou. É que cada lugar…

Então, para o senhor, o que passou pela cabeça do eleitor?

As pessoas ficam achando que estou tentando me desculpar, mas não tenho que me desculpar de nada. Perdemos a eleição em Salvador, mas já não tínhamos Salvador. Não existe uma causa única para uma vitória ou uma derrota. Você perde a eleição porque o adversário teve mais votos que você. Ponto. O que passou pela cabeça das pessoas para escolher Neto e não Nelson (Pelegrino) foi uma série de componentes. As pessoas queriam mudanças porque estavam “por aqui” com a Prefeitura de Salvador. Por que acharam que ele era mais mudança, é uma coisa para estudo.

O problema foram as greves?

Repare: o PT não participou do governo, o DEM participou. Por méritos deles, conseguiram se mostrar como a renovação. Tivemos problemas com as nossas bases? Tivemos, com as greves. Algumas pessoas insatisfeitas decidiram não votar para dar o troco. Na minha opinião foi um troco não merecido porque houve reajustes. Mas houve um erro nesta nossa relação. Não acho que quem votou no Neto queria a volta do antigo sistema. Óbvio que uma parte é. Pode ser o desempenho pessoal do candidato, que foi melhor.

Como é que o senhor pretende superar este estresse desses grupos que são historicamente ligados à esquerda?

Eu vou aprofundar o diálogo, mostrar a nossa proximidade, independentemente do ruído. Eu costumo dizer quando me perguntam, tem erro do lado de cá? É óbvio que tem erros na condução. Mas isso é igual a briga entre amigos, pode brigar, mas não viram inimigos, nem adversários. A gente vai dialogar, ver o que está gerando estresse, a decepção.

Vocês já identificaram exatamente quais foram estes erros?

Não tem um erro. A negociação não foi bem conduzida e acabou gerando um impasse. Foram feitas assinaturas de documentos em que cada um terminou pensando uma coisa e depois cada um saiu interpretando uma coisa ou outra e sou vítima da minha limitação.

Essa situação causou alguma mudança de estratégia ou gerou alguma reflexão em relação a 2014, do tipo, erramos aqui e acertamos ali?

O que a gente insiste em dizer é que é uma questão pontual. Não há uma questão geral, estadual. Nós identificamos um problema em Salvador.

Vocês perderam em vários municípios. Lauro de Freitas…

Em Lauro de Freitas, perdemos para a base. Não me peça para explicar porque parece que fui responsável por todas as candidaturas. Na capital, até pela condição, houve um empenho nosso. Moema (Gramacho, prefeita do município) está muito bem avaliada, mas não conseguiu fazer o sucessor. Não adianta querer buscar uma lógica única, que não vai ter. Não adianta querer transformar o episódio em Salvador numa derrota estadual porque não foi. Dentro do Estado, nas dez maiores cidades, ganhei oito e perdi duas. Igual a mim, só tem Sérgio Cabral. Todo mundo fica falando no sucesso de Aécio (Neves). Lá quem ganhou a capital não foi um candidato dele, foi do PSB. As leituras que algumas pessoas fazem é impressionante. “O PT teve problemas”.

Então o PT não teve problemas?

Veja a situação em São Paulo e Minas, maiores redutos tucanos. Em uma, o governador elegeu quatro e perdeu seis, nas maiores cidades; em outra ganhou três e perdeu sete. Me diga onde está o sucesso de Aécio, diferente do meu. Fiz oito das dez maiores, mas vocês dizem que ele fez sucesso. Eu sei que tem o emblema de Salvador, mas Geraldo Alckmin ganhou a capital?. O candidato dele (José Serra), que é o símbolo do tucanato, perdeu para o nosso. Perdeu para o novo, mas aí não é só em São Paulo. Qual é o perfil que o brasileiro está buscando para conduzir a política?

Cara nova…

Cara nova, talvez um perfil mais técnico, menos o do político tradicional. O povo elegeu a Dilma…Ela era a nova.

Foi o primeiro poste?

Não gosto muito disso porque acho que ninguém elege poste. Todo mundo se elege por méritos pessoais. Óbvio que tem uma série de componentes, mas ninguém elege poste. Essa teoria é para uma época passada. Hoje não existe isso. O Fernando Haddad não é um poste, foi ministro da Educação e é um tremendo de um quadro. Alguém brincou de que poste em poste, a gente vai iluminando o Brasil.

Qual é o papel que o senhor acha que o governador de Pernambuco, Eduardo Campos (PSB), que saiu vitorioso desta eleição, vai exercer daqui em diante?

O Eduardo foi vitorioso. Se eu quisesse azedar o chope dele diria: apesar de ter perdido o prefeito que já tinha em Curitiba. Mas a minha cabeça não funciona assim. Quando você vai pegar as listas dos crescimentos dentro dos estados, só perco para o Cid (Gomes, governador do Ceará). É que não gosto de ficar explicando. Toda vez que você tenta explicar é ruim. Estou dando um dado. Óbvio que o Eduardo, o partido dele, nacionalmente, cresceu. Em muitos lugares, junto com o PT, como aqui na Bahia. Ele não cresceu na oposição. Tivemos brigas em alguns lugares, mas ele não cresceu na oposição ao projeto.

Mas o senhor fez um alerta (para o comando político do governo federal) que se tome cuidado (em 2014)…

Não é um alerta, é que sei que para ganhar na política é preciso juntar, não espalhar. O que eu estou dizendo é que não cabe a nós proclamá-lo na oposição porque ele não é. O que ele quer é sonhar, ter um projeto próprio e para o partido dele.

De ser candidato à presidência…

Direito dele. Qualquer aliado nosso tem que querer avançar. Aliado que não tem vontade não é bom. Aquele aliado de saco cheio…

Mas o PT não pensa muito assim, o senhor sabe…

Eu vou lhe devolver o contrário. O PSDB pensa diferente? Por que é que nunca cedeu a vaga, mesmo quando derrotado, para colocar um candidato de outro partido da coligação? O caboclo está na oposição perdendo, mas não abre espaço. Aécio abriu para alguém do campo dele? Não, a prefeitura foi feita numa negociação política com Fernando Pimentel. Responda-me porque o PSB fez questão de ter o próprio candidato em Recife ou Fortaleza.

O PT foi intransigente?

Você pode até me dizer que o PT foi intransigente, mas vou lhe dizer outra coisa: Poder se conquista, ninguém cede. Essa pretensa generosidade que se cobra do PT é porque o partido é hegemônico no País. Acho é que não pode ser sectário e intolerante. Não estou querendo lançar Eduardo Campos, até porque em 2018 eu posso querer ser candidato. Perguntam-me se o PT admitiria apoiar Eduardo Campos. Esse jogo pode ser um jogo jogado. É óbvio que o PT poderá dizer “eu prefiro o meu”. O meu nome está aí, Lula pode estar, já falam que o Haddad, fazendo um bom mandato, pode ser. O PSDB vai abrir a cabeça de chapa para o PSB em 2014?

E aqui na Bahia, o PT vai abrir mão da cabeça de chapa em 2014?

O natural é que o PT saia com a cabeça de chapa, mas vamos ter que jogar o jogo. Repare, graças a Deus posso falar pela minha experiência. É a naturalidade, é o maior partido da minha base, temos bons nomes, mas é a conjuntura política que vai dizer se a gente vai chegar lá. Em 2014, qual é o cenário? Dilma presidente. Não estou dizendo que não pode acontecer outra coisa, mas é o caminho natural. Vou trabalhar para isso. Lula vai trabalhar para isso. As pessoas ficam dizendo outras coisas, mas de todas as conversas que tive com ele, nunca ouvi nada diferente. Até porque digo, sem ele me perguntar, que se eu fosse ele, a menos que haja uma imposição conjuntural muito forte, não voltaria. Quem saiu com cinturão de ouro de 87% não vai ter 90%, não é? Então, por que vou colocar em jogo um patrimônio que é absolutamente dele? Ele saiu de lá com uma avaliação que pouca gente conquista, e melhor ainda conseguiu fazer o sucessor. É a glória conseguir fazer o sucessor. Ele tem esse patrimônio. Ele está com saudades do poder? Ele tem convites para viajar o mundo, não é apegado a dinheiro.

Ele é apegado à política.

É apegado à política, mas no sentido de transformação que a política possibilita. A naturalidade política em 2014 é Dilma. Agora, em 2018 não tem. Nós que participamos deste projeto político gostaríamos que ele tivesse continuidade. Para a gente, ele pode ter continuidade com o PT ou com outro partido do grupo político. É por isso que eu acho que a gente precisa construir relações e ir encorpando. Ninguém cresce sozinho. Todos os partidos de nossa base cresceram, uns mais, outros menos. Na política, essa história de “farinha pouca, meu pirão primeiro” não funciona. Pode funcionar por um determinado tempo, mas acaba. Ninguém quer ficar só para servir. A naturalidade, até porque estamos só no segundo mandato, é do PT. É por isso que já disse que abro mão do Senado, porque acho natural o PT ter a cabeça de chapa e se ficássemos com o Senado não teria espaço para mais ninguém. Para mim é mais importante manter o grupo unido.

E o senhor seria candidato a deputado?

Seria candidato a deputado ou iria até o final do mandato. Aí depende, porque 2014 é o ano da Copa, tem uma porção de coisas que a gente preparou e me agrada ficar até o fim do mandato e continuar fazendo política…

O senhor se agradaria com a possibilidade de ser ministro de Dilma?

Aí, se ela me convidar, não é… (risos) Só para concluir, 2018 ainda está longe demais para admitir tantas especulações. Quando chegar lá, teremos 16 anos de PT no poder. É difícil raciocinar com seis anos na frente.

Uma coisa em relação a 2014 é a eleição para a Assembleia Legislativa. O nome do deputado Marcelo Nilo já foi colocado e numa eventual desincompatibilização do senhor e de Otto Alencar, o presidente da Assembleia assumiria o governo…

Essa hipótese não existe. É impossível que eu saia para ser candidato e Otto também ao mesmo tempo. Aí vai ser um jogo combinado entre mim e ele. Sai um, e o outro fica, se não vira uma confusão a seis meses de uma eleição, que não tem o menor sentido. Se na minha conversa com Otto o desejo dele for de continuar na chapa majoritária, o natural é que eu fique para ele poder ser candidato. Já fui governador e ele pode querer ser candidato. Se saem os dois vira uma mexida que acaba comprometendo tudo. Não tenho nenhum problema em ficar até o final. Me atrai a ideia. Eu sempre defendi a não eternização na política. O político tem que ser profissional no sentido de ser competente, mas não pode ter na política um emprego. Criou-se uma regrinha de que todo governador reeleito se torna senador. Não tem sentido isso. O presidente deixa a presidência e é um cidadão.

Agora sua posição em relação à perpetuação já foi colocada para o deputado Marcelo Nilo, que está pleiteando o quarto mandato na presidência da Assembleia?

Nilo conhece a minha opinião. Só para separar, tem a minha opinião e a conjuntura política. A minha opinião já falei uma série de vezes. Agora, ele é um aliado meu. Então, se a conjuntura me disser que a coisa é hegemônica na Assembleia, não tenho problema nenhum. Uma coisa é discordar da tese. Faço política, não filosofia. Filosoficamente, sou contra a eternização. Na política, será o que a conjuntura política determinar. Acho que ele tem uma facilidade e não vamos ficar criando problemas.

Nos quatro anos de Wagner ele foi eterno, não?

Ele é um quadro competente, é um quadro para mim leal. Tem a autonomia dele, mas sempre foi parceiro. Então, só para separar, filosoficamente não concordo com a tese, mas nem estou fazendo filosofia, nem sou eu quem estabeleço a regra. No dia em que a Assembleia entender de maneira diferente, ela que modifique a regra.

Tem algum outro nome colocado na disputa?

Tem uma porção de nomes que se colocam.

Algum nome colocado para o senhor, da maneira como ele já se colocou?

Ele já se colocou há um tempão… (risos)

O acordo que o senhor fez com César Borges, que já indicou o diretor da Conder (José Lúcio Machado), tem relação com a necessidade de agilizar obras?

Não. São duas coisas diferentes. Houve um acordo político para que o PR viesse para a base do nosso governo. Este acordo passa por participação. Me interessa ter o PR porque está na base de apoio da Dilma. Se eu puder ajudar, quero ajudar a juntar, evidente que existem questões que precisam ser aceleradas. É que as dificuldades são muitas e a reclamação é geral. Hoje temos um problema. Vivemos na república da desconfiança. A fiscalização não é ruim, mas você precisa de fiscalização com eficiência porque senão as coisas não andam. Isso é em todos os governos. No governo federal, você dá uma ordem e seis meses depois a coisa ainda não andou. Por exemplo, a Ferrovia Oeste-Leste, o TCU, o Ministério Público, as questões ambientais… Isso é da democracia brasileira. Agora, o quadro que vem (José Lúcio Machado) já foi presidente da Embasa, já dirigiu o DNIT e carrega boa experiência de gestão.

Por falar em prazos, houve problemas de entendimento entre o governo do Estado e a Prefeitura de Salvador, principalmente em relação a obras para a Copa. O senhor acha que ACM Neto vai facilitar este entendimento?

É o que eu espero. Eu devo chamá-lo para recebê-lo porque ele é prefeito da capital e a cidade é o mais importante. Ele me ligou e a gente deve marcar. Não tem uma data ainda definida marcada, mas vou conversar com ele. Passou a eleição, e ele sabe que vai ter que tomar conta de Salvador e é preciso ter sinergia. Ele já leva uma vantagem, a minha postura sempre foi proativa, seja quem for o prefeito. Essa é uma marca minha na Bahia inteira. Se me perguntar se eu vou ajudar Salvador, a minha decisão é de respeito ao povo de Salvador. Eu respeito ele e o povo que escolheu ele. Eu estava numa reunião com a presidenta Dilma, em que parte da reunião foi a respeito de obras em Salvador. Não vamos parar nada. Orla, 29 de março…

E o metrô?

Eu espero que ele seja um elemento facilitador. Ele sabe que para ter sucesso na vida política as coisas precisam funcionar. Quando eu digo que ele dá sorte, eu quero dizer que eu não tenho a concepção de quem já comandou aqui o Estado de que prefeito de oposição tem que jogar durar.

O senhor quer dizer que não vai fazer com ele o que o avô fez com Lídice da Mata?

Você é quem está dizendo. O fato é que todo mundo sabe como Lídice foi tratada. Essa diferença não dá para tirar. Isso é mérito nosso. E na presidência também não. Neto será tratado como prefeito de uma capital e como prefeito de uma cidade-sede da Copa do Mundo. Agora, se ele quiser fazer a prefeitura de palanque, aí é uma decisão dele. Se virar palanque, vai virar disputa. Mas não acho que seja o desejo dele. Não vou reeditar uma história que superei. As pessoas perguntam porque é um lugar comum. Ele tem que defender os interesses da prefeitura, como eu também defendo Salvador, não vejo nenhuma colisão nisso.

O que o senhor imagina de obras de mobilidade prontas na Copa das Confederações e na Copa do Mundo?

Eu não gosto de falar de cronograma de obra porque não é fácil fazer, principalmente quando corta a cidade, tem desapropriações… A Via Expressa, por exemplo, é uma tremenda obra. Queria ter entregue em junho deste ano e vou entregar em abril do ano que vem. É difícil fazer obra dentro de cidade. Uma estrada é fácil de fazer. É igual a reforma de casa. O cara diz que em 30 dias acaba, mas reforma você começa e não sabe quando termina. Não é simples, imagina fazer aquele túnel em dois andares no fim da Estrada da Rainha. Quase R$ 500 milhões, com R$ 80 milhões só de desapropriações. É diferente da Fonte Nova, que depois que implodiu foi só preparar o terreno e subir. Aí consegue calcular. A minha vontade é entregar o metrô até Pirajá até a Copa do Mundo. Se a gente conseguir fazer pelo menos um trecho da Orla até a Copa, beleza.

O senhor vai enfrentar problemas financeiros no ano que vem. Agora, esta questão da nova partilha dos royalties do petróleo, aprovada na Câmara, acabou beneficiando a Bahia, mas o PT acabou votando contra. Alguns governadores estão aconselhando Dilma a não vetar as mudanças. Não há uma contradição?

Eu quero melhorar minha receita e os royalties são uma ótima oportunidade. Se ela vai vetar ou não, eu quero que ela não vete porque eu sairia de 5% de tudo o que é distribuído para 9%. É óbvio que não quero que vete. Saímos de R$ 150 milhões para quase R$ 500 milhões, mais ou menos. Eu sempre defendi mais equilíbrio na distribuição dos royalties. Eu vou insistir.

Mesmo com os contratos já assinados?

Este é o problema. Não quero mexer no fluxo de caixa de ninguém porque não quero que ninguém mexa no meu. Estou pedindo ao meu pessoal jurídico para avaliar. E tem essa gritaria de quem votou nisso. O projeto Zaratine (proposta do deputado Carlos Zaratini que prevê destinação dos recursos dos royalties para a educação), em minha opinião era muito mais equilibrado. Quando a gente diz que alguma coisa é prioridade, temos que colocar dinheiro dentro. Eu sofri porque os professores queriam mais, querer eu também quero, mas eu tenho o meu limite. Como é que eu faço? Preciso fazer concurso, colocar mais gente… Se dissessem que eu teria este aumento vinculado à educação, para mim seria ótimo. Acabou não sendo aprovado, eu não sei porque. Alguém sobe no palanque e diz “é bom para a educação, é bom para a educação”, aí quando você quer colocar dinheiro novo, que vai chegar, e eu posso colocar a educação como finalidade… Nós somos o terceiro pior orçamento da nação, do ponto de vista per capita. O terceiro pior. Veja o caso do Rio de Janeiro, que tem um orçamento de R$ 75 bilhões para 16,5 milhões de habitantes. Eu tenho R$ 25 bilhões para 14 milhões. Cada cidadão que eu tenho que cuidar é mais médico, segurança, educação etc. Quanto mais gente, mais serviços são necessários. Tenho que gerar empregos e para isso preciso oferecer vantagens, dar um terreno, fazer uma obra de infraestrutura e oferecer um imposto menor. Tenho que cortar o orçamento para dar um benefício para a população.

A gente cai nesta história da unificação do ICMS…

Eu sou contra. Hoje a gente tem 12%, no Nordeste; e 7% (no Sudeste). Se quer diminuir no Sudeste, que diminua no Nordeste proporcionalmente. A única coisa que sobra para nós que não temos o principal mercado do País é a compensação fiscal. Evidente que o Nordeste, que tem 55 milhões de habitantes, atrai investimentos em alguns setores de consumo, como alimentação etc. Mas geladeiras, carros, se não tiver compensação, fica tudo lá embaixo. Eles ofereceram um fundo de compensação pelas perdas. Se fosse tudo para 4%, a minha conta é de que a gente perderia R$ 1,1 bilhão por ano em relação ao que captamos hoje.

E o fundo reembolsaria quanto?

Eles dizem que reembolsariam as perdas medidas. Aí eles teriam que repor mês a mês, se não eu não aguento. Agora, a ideia de unificar a realidade tributária é ótima porque hoje acaba havendo uma insegurança jurídica. O movimento do governo federal é positivo para tentar diminuir essa tensão toda, mas eles têm que garantir uma política de desenvolvimento regional para os estados menos industrializados. A Bahia nem é. Hoje está numa posição média. Agora, pelo que eu percebi, todos os governadores estão muito apertados.

Pode acontecer o que aconteceu com os royalties, de o governo ser derrotado?

Está todo mundo muito apertado. Tem governador tomando empréstimo para pagar a folha. É por isso que eu digo que esta situação é cruel. Às vezes chegam demandas que são justas, mas…

E discutir isso em meio a crise internacional é complicado, não?

Eu disse ao ex-presidente Lula que nós saímos devendo duas coisas ao Brasil, uma reforma política e uma reforma tributária. Agora, é sempre difícil fazer porque é um puxa estica danado. [O governador] Sérgio Cabral diz lá do Rio de Janeiro “eu vou quebrar”. Eu digo daqui que para mim foi ótimo porque aumenta o meu dinheiro.


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