Filhos da COTEFAVE

Jeremias Macário

Pode ser até indesculpável, mas confesso que ainda não conhecia a Comunidade Terapêutica Fazenda Vida e Esperança – Cotefave, dirigida pelo padre Edilberto Amorim, a qual funciona em Barra do Choça, com a finalidade de recuperar dependentes químicos. Semana passada, acompanhado do meu amigo e professor, Geraldo Ferreira, lá de Feira de Santana, tive a felicidade de sentir de perto o trabalho dessa gente, que todo dia tenta se recuperar das drogas.

Chamo aqui de Filhos da Cotefave, porque como uma mãe bondosa, carinhosa e compreensiva acolhe em sua casa os seus filhos, que um dia se desgarraram do lar. São jovens de várias partes da região e até de outros estados, imbuídos de uma força de vontade de sair de uma viagem, que provoca um prazer ilusório no organismo, como se fosse uma coisa boa.

Como o padre Edilberto tinha outro compromisso no dia da nossa visita, Alex, formado em Direito e um dos filhos, com toda sua boa vontade foi o nosso guia da casa, ou melhor, dessa grande estrutura, composta de várias instalações, dentro de um verde prazeroso no campo, que funciona há dez anos.

Com apartamentos, capela, refeitório, e outras dependências, como o Café do Padre, está bem perto de nós o maior centro de recuperação do Norte e Nordeste, voltado para o tratamento de pessoas, que um dia entraram no mundo da dependência química. É uma obra que não para de crescer. Em sua área estão sendo construídas oficinas profissionalizantes, como a de Informática.

Ampliar, para atender mais gente, é a meta do seu criador, que se entusiasma quando fala dessa casa de acolhimento. A Comunidade hoje conta com cerca de 30 filhos, mas tem uma estrutura para receber até 50, sem que algum deles fique ao relento.

Foi toda uma manhã de muitas vibrações positivas para todos nós. Conversamos com todos. Gente talentosa das artes e da cultura vive ali, lutando para vencer o seu tempo de nove meses de superação. É muito tempo para quem está vencendo cada dia.

O publicitário Fábio, de Salvador, é um deles, que criou o vídeo com os personagens Enio Costinha e Fabão Predador (ele mesmo) no Fecebook, que concorrerá com outros neste mês. “Em Dezembro UFC da Vida” faz um paralelo entre o Treinamento de um atleta dos esportes com o Tratamento de um dependente químico, Ele diz que o dependente em tratamento é um atleta em busca de objetivos, vitória e resgate da vida. Em outro vídeo, Fábio faz um diálogo engraçado entre a mulher e o marido preguiçoso que não sai da cama para fazer nada. No final, ele solta sua mensagem de alerta contra as drogas.

Batemos também, no refeitório, um bom papo com o artista filósofo e poeta Ulee Zulluh Rhasta Lux, de Itabuna, que escreveu um folheto, em forma de cordel, criticando a medicina de hoje.

Veja o que ele nos diz sobre o assunto: É justo, para o médico/quando possível, receber pagamento./ Isso é admissível, pelo seu investimento/ no considerável tempo/ para adquirir tal conhecimento./ Contudo, a medicina,/como agora é praticada,/está muito adoentada/ e precisa de uma vacina/ que, por um simples poeta/vai ser, então, ministrada… e por aí vai no seu desabafo sobre o vergonhoso atendimento da saúde no nosso Brasil passado e atual.

A Cotefave é, sem dúvida, uma caixa de talento de jovens, que hoje estão tentando recriar suas obras e deixar suas mensagens conscientes e inteligentes, bem longe daquelas viagens psicodélicas e surrealistas, sem nexos e conexões, mas realistas e lógicas. Não são artes mais embaçadas e sombrias da mente corroída por substâncias vendidas como prazerosas.


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