Triste Brasil

Jeremias Macário

Se o “Boca do Inferno” da “Triste Bahia” vivesse nos tempos atuais e lascasse o verbo contra os políticos de má conduta e dos malfeitos, ficaria decepcionado porque eles não dariam a mínima para suas críticas e denúncias. Naquela época ficavam envergonhados e até o ameaçavam de morte. Depois de séculos de mazelas, transformaram nosso país no “Triste Brasil” do “mel na chupeta” onde trocam mensagens em códigos, como “estou enviando dois volumes, um pequeno e outro maior”; “segue o livro”; e até cópias de diplomas falsos de “Bxaréu em Administração”, numa trama criminosa de extorsão, que deixaria o nosso Gregório de Mattos aturdido e mudo.  Fico triste quando vejo o nosso Brasil assaltado por malfeitores, onde uma “rapariga” nomeia cargos de alto escalão no Governo, e vendem pareceres técnicos, enquanto os pobres, que eles apontam como classe média “C”, são humilhados e até morrem nas filas de espera de uma consulta médica. E que médicos nos temos, hem!

  Fico triste quando vejo nosso país na 68ª posição entre os mais corruptos de um conjunto de pouco mais de 100 nações, e o penúltimo no nível de pior educação dentre os 40 pesquisados por órgãos das Nações Unidos.

 Enquanto este nosso país vive esta triste e vergonhosa realidade, torcedores fanáticos do Corinthians e de outras equipes de futebol se matam; quebram instalações de aeroportos, equipamentos públicos e privados; e vendem tudo o que têm para acompanhar seus times numa final de campeonato. Que venham as festas de final de ano, o carnaval e a Copa do Mundo!

 Fico muito triste por sermos um povo submisso, que tanto apanha sem se indignar e reagir. As injustiças e as violências são gritantes, mas mesmo assim nos contentamos com um pouco de assistencialismo e quando nos deixam que nos endividemos, comprando um carro com prestações a perder de vista, um tablete, uma TV de última geração, ou quando nos facilitam uma passagem de avião por ano.

 Não dá para ficar quieto sentado no mesmo lugar vendo a mediocridade passar todo dia por nós e ainda ridicularizar da nossa cara, dizendo: Olha ali o idiota e otário. Parte da nossa mídia tem grande culpa nisso por se enveredar no sensacionalismo e não esclarecer certos fatos à população, talvez por falta de competência e coragem na apuração, medo, conluio, tentação à audiência, oportunismo, insegurança ou omissão.

DOIS CASOS DA NOSSA MÍDIA

   Trago aqui dois episódios recentes da nossa imprensa baiana, os quais merecem uma reflexão e autocrítica. Um se refere ao caso de Monte Santo (BA), da dona de casa Silvânia Maria da Silva, 25 anos, que teve seus cinco filhos levados por famílias paulistas, mediante termo de adoção, autorizado pelo juiz da cidade.

  A mídia deixou-se embalar simplesmente pela emoção sentimental, no arvoramento de fazer justiça, por se tratar de um casal pobre, e terminou “condenando” abruptamente o juiz, segundo ela, por ter cometido irregularidades, e até insinuou que ele fazia parte de uma quadrilha de trafico de crianças. Não é por aí que se faz justiça, nem como se pratica isenção.

  O juiz deu uma entrevista dizendo que as crianças viviam em situação de risco e sofriam de maus tratos, mas suas explicações não tiveram quase nenhuma repercussão. Manteve-se o sensacionalismo e a pressão, sem apurar a fundo a versão do magistrado.

   Movido por estas circunstâncias, inclusive de deputados de uma CPI parlamentar de tráficos de menores, o outro juiz substituto resolveu tirar as crianças, de 2, 3,4,5 e 6 anos dos lares dos pais adotivos. Será que ele também não se deixou levar pelo calor da emoção?

 Pelo que se viu, a mídia apoiou sua atitude, sem investigar e se aprofundar mais nos argumentos do juiz que deu a adoção. Não se questionou a revogação da guarda provisória do outro juiz (outro erro), depois das crianças já estarem acomodadas e se adaptando com as famílias, vivendo em melhores condições. Uma coisa é condenar o tráfico de menores, outra é julgar e dar uma sentença, sem ir fundo na verdade, seja pobre ou rico.

 Por mais acompanhamento psicológico e do Conselho Tutelar, o que será dessas crianças daqui pra frente, e quais suas perspectivas futuras de vida? Não me venham com esse papo de reintegração. Sabe-se que elas não reagiram bem ao afastamento dos lares adotivos e choraram muito no reencontro com a mãe biológica.

  Dona Silvânia, que com 25 anos já tem cinco ou seis filhos, ficou famosa e virou manchete da mídia, mas as irregularidades apontadas no processo não foram esclarecidas. Nessa lambança toda, os mais prejudicados foram as crianças, e as famílias paulistas sofreram “linchamento público” e até foram ameaçadas. Logo esse caso das crianças entra no rol do esquecimento, e ninguém vai mais saber como elas vivem.

  O outro fato está ocorrendo aqui entre nós, em Vitória da Conquista, com a criança, que, repetidamente, se fala que sumiu num matagal, depois de uma confusão de tiroteio entre policiais e adolescentes num bairro pobre da periferia.

  Faltou e está faltando mais investigação por parte da imprensa, que não chegou a entrevistar as famílias e os adolescentes envolvidos, mesmo que em “off”. Até agora não se sabe quais os policiais que participaram dessa diligência. A sociedade merece uma satisfação e mais clareza dos fatos. Está tudo muito confuso. Está tudo embaçado.

   A mídia não avançou nessas questões, deixando um grande buraco nas informações, o que se leva a acreditar, dentro das especulações comuns, de que a criança foi vítima de bala perdida. De quem? Dos policiais, ou de algum adolescente.

  Enquanto isso, o tempo vai passando; a “investigação” se arrasta lentamente e logo se esquece de tudo. Isso está virando moda em Conquista quando fatos graves ocorrem e tendem a caminhar para o arquivamento, como tantos outros. Não é somente culpa da mídia, mas também das autoridades judiciais.

   Fosse filho de um ricaço, tudo já estava desvendado, inclusive já se teria feito o exame de DNA do sangue encontrado no chão, com o do pai, para se saber se é mesmo da criança. Aliás, o menino sumiu ou deram sumiço nele depois de atingido por bala perdida? Quem retirou o sangue do chão?

  Por que isolaram a área do matagal para que ninguém entrasse à procura do menino, já que a hipótese primeira foi de que ele havia se perdido na confusão? Sem essa de prevenção para que ninguém se perdesse também. Os moradores conhecem muito bem aquela área e eles seriam as melhores pessoas para encontrar a criança. Irônico é que o local do sangue, que deveria ser protegido, foi violado por alguém.

  Mais uma vez vamos ficar sem esclarecimento? Que justiça é essa que diz que é igual para todos? Por que todo esse jogo de esconde-esconde, cheio de dúvidas e interrogações? No seu trabalho jornalístico, a imprensa tem sempre que estar a um passo da polícia, levando os outros órgãos encarregados da investigação a esclarecer os fatos.


3 Respostas para “Triste Brasil”

  1. RGS

    No meio do texto,cheguei a duvidar da autênticidade do texto – Se de fato, fora elaborado pelo jornalista Jerêmias Macário!.O lugar dos filhos(com raríssimas exceções) é com os país e no ambiente familiar dos seus genitores!.As condições básicas e econômicas para o desenvolvimento e aprimoramento das crianças,deve-se em muito as autoridades instituidas,aos governantes e seus secretários.Não acredito de forma alguma,que as autoridades,além da notoria participação da mídia – Dando ao caso projeção nacional e internacional – Fez, sem qualque r cuidado e investigação a respeito dos fatos.Específicamente neste caso.

    • conquistense

      V.Sa acredita em Papai Noel???Acredita que estas crianças terão apoio das autoridades para ter condições econômicas para o desenvolvimento?

  2. Enfermeiros

    Concordamos plenamente com a indignação do sr Geremías,só que o mesmo se esqueceu do grande escândalo que foi a invasão da nuvem vermelha do PT,nas eleições, que tomou conta da nossa cidade, com agressões desrrespeito a nossa gente, mudando a vontade do povo, com migalhas e promessas mentirosas,na verdade o q estamos vendo o povo morrendo nos corredores.

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