Sem solução

Por Jeremias Macário

É Natal e tudo é festa em final de ano. Todos às compras dos seus presentes, para a noite dos comes e bebes. As ruas estão cheias com o ar de festejos e pouco espaço sobra para se refletir sobre a injustiça que ocorre ao nosso lado, numa sociedade individualista e tão desigual. Falamos muito de amor e paz, mas sem nos indignarmos contra a impunidade. Nos mandam sempre termos fé e esperança de que um dia vamos ter o prometido, ou seja, uma nação mais justa e melhor. Nos enganam com alguns trocados materiais.

Na verdade, fiz este “nariz de cera”, ou preâmbulo, para falar do menino Maicon que desapareceu há 15 dias numa periferia de Vitória da Conquista e parece caminhar para mais um caso, como tantos outros, sem solução. Virou rotina em Conquista. Ninguém fala mais da criança que foi roubada há pouco tempo numa zona rural. Nossa mídia deixa muito a desejar.

No fato mais recente, o menino sumiu depois de uma confusão entre policiais e adolescentes, conforme se soube através de boletins de ocorrências, os chamados BOs das delegacias. Desde o início, o episódio está recheado de contradições, com explicações nebulosas, sem respostas claras para a família e à sociedade.

Sempre é assim: subestimam nossa inteligência e nos chamam de burros e idiotas. Primeiro impedem parentes e amigos de procurar a criança, que se estivesse perdida já teria sido encontrada. Depois veio a mancha de sangue, que só depois de quase oito dias foi colhida alguma amostra restante, para fazer o teste de DNA.

Os policiais e os adolescentes (ninguém sabe suas identificações, pelos menos dos militares) só foram ouvidos dias depois, e assim as pistas foram lentamente sendo apagadas. Pagamos impostos e merecemos uma satisfação, principalmente os pais do menino, que ainda não tiveram o direito de enterrar seu filho, e parece que não vão ter, pois a hipótese de morte é a que está mais escancarada.

Durante todo esse tempo não se falou na suposição de bala perdida, e ficou vaga a versão de que os adolescentes atiraram contra os policiais. Simplesmente, o menino desapareceu no mato, sem nenhum vestígio. Lembrei dos opositores políticos desaparecidos durante a ditadura militar.

Não vi nenhuma entidade, nenhuma categoria trabalhadora ou sindical, nenhum partido político, nenhum político, nenhum grupo de direitos humanos pela vida cobrar transparência e solução para o caso. Onde está a verdade? Ninguém liga, ninguém importa. Não existe mais remorso. Perdemos a consciência de povo, de gente e de nação.

Tudo é festa, tudo é presente, só que os pais de Maicon vão passar o Natal sem seu filho em casa para oferecer-lhe um simples presente. São pobres, e a lei para eles é desigual e cruel. Não dispõem de recursos para contratar bons advogados e desenrolar este novelo.

Nosso feliz Natal é muito hipócrita e individualista. Quem cometeu o errado, tem que pagar pelo seu erro. Somos sim, fiadores da mediocridade, da incompetência e do corporativismo porque não nos indignamos com as injustiças. Ao pobre, sem distinção de cor, é a ele negado o seu direito de reparação e justiça.


2 Respostas para “Sem solução”

  1. Dantas de BH

    …”um dia vamos ter o prometido, ou seja, uma nação mais justa e melhor”.
    Pois é, nobre Macário, somente vamos ter esse prometido, no dia em que for CONQUISTADA A VITÓRIA, até lá continuaremos “indignados com as injustiças”

  2. RICARDO

    Me junto a sua honesta sinceridade Jeremias.É de causar espanto a indiferença do ser humano com as dores dos que não tem vez e voz.AUTORIDADES queremos respostas urgente.

Os comentários estão fechados.