O sabor da ausência

Por Edvaldo Paulo de Araújo

Há alguns dias em Brasília tive a oportunidade de assistir a uma posse e durante o discurso de um dos empossados uma afirmação me chamou por demais atenção. Ao afirmar a sua absoluta dedicação ao seu cargo que por sinal é voluntário não tem remuneração, disse que o tempo despendido no seu exercício deixava em falta diversos afazeres outros, como trabalho, família, amigos, ou seja, tudo o que ele prezava. Por maior que fosse a sua dedicação no seu cargo, sempre existia um sentimento de debito e cobranças de algo que não fora possível fazer.Durante o ano que passou afirmou, só teve a oportunidade de ter dois momentos com a sua querida mãe e isso se estendia a muitas pessoas do seu convívio. Tive a oportunidade de conhecer a genitora do meu amigo empossado, com quem tive um momento de uma boa e agradável conversa e adorei essa anciã, doce e amável senhora. Fiquei a pensar quanto perda estava tendo meu amigo principalmente o sublime convívio com sua querida mãe idosa.

No passado quando ocupava certos cargos e chovia convite de toda ordem, abrir eventos,fazer palestra, reuniões intermináveis, necessidades de estar em muitos lugares.Achava eu na minha santa ignorância,que só com a minha presença as coisas funcionava,entrava no eixo e tinha o sucesso desejado.Entendia que ao me estrebuchar, sacrificar,correr de um lado para outro, estava dando o melhor de mim e politicamente de bem com todos.Temos sempre aquelas frases no nosso pensamento ..”tenho que estar”.. “não posso faltar porque senão…” “sou o tal tenho que estar lá”. “o meu cargo exige que esteja lá” etc. Ledo engano esta não é a realidade.

Por alguns acidentes, determinados lugares não pude estar e passei a observar que tudo funcionava, que poucos davam importância a minha presença, mas com minhas justificativas, a afirmativa que tudo correu as mil maravilhas, ou seja, não fiz tanta falta. E os que se importava era na medida exata ou seja mínima, portanto a minha presença e a importância não é na forma exagerada que  pensava.

Estas minhas ações eram corroborada por uma frase de uma distinta amiga e colaboradora, que sempre dizia: você tem que estar lá –“a ausência é muito atrevida”.

Não penso mais assim, passei a apreciar o gosto gostoso da minha ausência. Se posso ir e quero ir vou, senão, simplesmente não vou e não fico nem um pouco preocupado com minha ausência. Acompanhado da minha ausência está sempre o senso de responsabilidade no cuidado com o que seja minha tarefa, o mais é questão minha de querer ou não.

Fiz um texto chamado “Dê descanso ao seu domingo” ponto básico de determinadas ausências minhas. Dei o grito de independência com meu domingo, ele é meu e não divido com ninguém e nem nenhuma obrigação a não ser que esteja afim e ache prazeroso.

Sou um profundo respeitador de convites. Acho que convites é deferência, respeito, escolha. Quando bem jovem e sob os cuidados de pai e mãe e recebia um convite e as vezes dizia que não iria, minha mãe de saudosa memória, sempre questionava comigo, com uma frase arrebatadora –“e se você foi o único convidado?”.Terminava indo, mesmo sem querer, mas hoje não posso me dar a este luxo.

Quando não vou, também não entro nas desculpas esfarrapadas e mentirosas, simplesmente digo que não vou e agradeço carinhosamente, muitas vezes com o envio do presente, flores, mensagens e fico no prazer e na liberdade da minha ausência.

Quem tem que se esmerar em estar em todos os lugares é político ruim em busca de agradar e ganhar votos. Ruim entendo eu, que o povo quer dos políticos e quem ocupa cargos públicos é competência,trabalho e realizações em prol da comunidade e pronto, não precisa de tanto beija-pé e tanto aperto de mão.

Tudo é passageiro. Já senti o gosto do poder. Quando você sai, logo, logo é esquecido e ai você fica cobrando consideração pelo que a maioria nem sem lembra. Lembre-se do mestre amado Jesus na sua celebre frase para este tipo de situação  -“… de ti não quero sacrifício, apenas misericórdia.”

O rei Coelet em Eclesiastes define bem essa situação: “Competição desumana- Vi também que todo trabalho e todo empenho que o homem coloca nas suas obras é fruto de competição recíproca. Isso também é fugaz e uma corrida atrás do vento. O insensato cruza os braços e se consome. Mais vale um bocado com lazer, do que dois bocados com fadiga, correndo atrás do vento”.

 

 


2 Respostas para “O sabor da ausência”

  1. PAULO PIRES

    Carissimo Edvaldo Paulo de Araújo

    Seu texto é (está) rigorosamente fiel ao que conhecemos de você e sua filosofia de vida: Objetivo, lúcido e verdadeiro.

    Parabéns pela exposição e que Deus continue iluminando o Amigo e Familiares. Feliz 2013 para todos.

    Paulo Pires

  2. Anselmo Grisi

    Edvaldo, muito bom o seu texto.

    Temos realmente que repensar em nossas atividades e em nossos verdadeiros compromissos. Que Deus esteja sempre na condução de seus passos.Grande abraço e feliz 2013.

    Anselmo Grisi

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