Um ano que passa e o outro que chega são apenas processos de uma contagem numérica. São símbolos festivos num calendário religioso. Não é o novo que faz simplesmente mudar nossas vidas. Aliás, não temos nada de novo, mas apenas repetição dos erros que persistem do passado político, econômico e social anacrônicos. As chuvas continuam a desmoronar encostas e a deixar um rastro de mortes e desabrigados, porque o dinheiro público não foi aplicado como deveria, para evitar as catástrofes de sempre. As ruínas e os entulhos do passado se juntam às do presente. Na entrada do novo, os corredores dos hospitais permaneceram cheios de enfermos, com gentes morrendo nas filas por falta de atendimento médico. A justiça e as leis seguem desiguais, a violência ceifa vidas e o ensino nos envergonha. Seria bom que tudo isso fosse o contrário, e aí, então, teríamos um novo para contar e comemorar.
Como não temos, vale, pelo menos, lembrar dos fatos que aconteceram no ano que se passou, a começar por Vitória da Conquista. Para encerrar o ano, infelizmente um episódio deixou uma triste marca que se arrasta pelo novo, carregado de mistérios e falta de transparência.
Estou me referindo ao caso do desaparecimento do menino Maicon depois de um suposto revide de tiroteio entre policiais militares e um grupo de adolescentes. Lá se vão mais de 30 dias e nada é esclarecido para a sociedade, que também não cobra uma apuração rigorosa.
Não foi o novo que trouxe uma resposta para seus familiares. Desde o início, o sumiço da criança segue uma trilha repleta de interrogações montadas para encobrir erros de uma operação desastrosa. O mais provável é que Maicon tenha sido vítima de bala perdida. Como sempre, subestimam nossa inteligência porque somos um povo que se resigna com as desigualdades, não somente sociais.
Mas o ano que se passou em Conquista foi também marcado pelo racionamento de água. Para o novo, nos prometem a construção de um sistema eficiente de abastecimento do precioso líquido. Foi um ano em que mais se falou no aeroporto, que ficou para ser iniciado no novo que entra.
Vários outros projetos, como o shopping popular, a ampliação dos equipamentos e dos recursos humanos na área de saúde, que ainda deixa muito a desejar em nossa cidade, e a melhoria do transporte público, também ficaram na conta do novo, conforme promessas feitas pelo Governo do PT, mais uma vez vencedor das eleições do ano que se foi.
Apesar de mais ruas asfaltadas nos bairros, com mais ciclovias e semáforos, o tráfego na cidade, principalmente no centro, agravou-se, e a cada dia piora, com mais carros circulando (estima-se mais de 100 mil). O trânsito está insuportável e carente de uma nova engenharia inteligente. Bastam de quebra-molas e “tartarugas”! Espera-se pela volta da “Zona Azul”, como está escrito no novo.
No mais, Conquista manteve sua rotina, a não ser a entrada de mais vereadores na Câmara Municipal, uma medida impostos pelos políticos lá de cima, que nos dizem que isso é muito bom para a representatividade. É isso aí, nosso povo continua a se “alimentar” de esperança e fé. Sempre nos ensinaram que devemos viver assim. A mídia continua a mesma.
No mais, tenho a lamentar as almas boas que partiram para outro além, como do nosso amigo escritor, poeta e contador de histórias, Geraldo Xavier, que, infelizmente, não viu esse novo entrar conosco. Estava de viagem e só depois soube do seu repentino falecimento.
Uma Resposta para “Não é o novo que muda”
Luiz
Adoro ler os textos de Jeremias Macário. Sempre muito sensato e verdadeiro. Sobre o novo penso assim também e acrescento que novo mesmo é o que ainda não conseguimos ver ou sentir.