Por Paulo Pires
Ontem à noite a TV Cultura de São Paulo exibiu entrevista com o famoso sociólogo e professor italiano Domênico de Masi. Pena que parte considerável da Sociedade Brasileira não tenha podido assistir (ouvir) esse pensador que, apesar de alguns delírios, tem dado significativas contribuições ao pensamento contemporâneo. É possível que parte da sociedade brasileira não viu o programa com o sociólogo porque estava ligada no educativo, famoso e imprescindível B.B.B. No decorrer da entrevista a repórter especial da Folha de São Paulo Cláudia Collucci ficou perplexa quando ouviu do professor que o mundo hoje tem muito mais Ética do que em tempos passados. A repórter arrepiou os cabelos, mas teve que se render à exposição histórica [robusta] feita pelo grande intelectual.
O que sabemos dentro de nossa realidade é que palavra Ética ficou muito desfigurada (o mesmo ocorre com as palavras Moral e Corrupção). Existe corrupto dizendo que tem moral e moralista corrupto dizendo que corrupção só quem pratica é o outro [o que diz que tem moral]. Durma-se com um barulho desses.
Mas o que importa, neste momento, é que a maioria dos habitantes do Planeta está envidando esforços para que essas palavras (Moral, Ética, Corrupção) assumam seus verdadeiros significados e consigam simbolizar materialmente aquilo que deveriam ser ou representar no plano da realidade.
Utilizando-se e mergulhando em vasto conhecimento histórico De Masi demonstrou que em época nenhuma o ser Humano esteve tão ansioso para e pela “implantação da Ética no seu sentido lato” como estão fazendo agora os homens do século XXI.
Aquela Ética decantada em tempos remotos, não passava de um jogo de hipocrisia que desencadeava inevitavelmente em imoralidades insuportáveis. Para se ter uma pequena idéia, basta lembrar que os Aristocratas Europeus, geralmente senhores feudais (Duques, Barões, Viscondes etc.), exigiam e faziam cumprir que as aldeãs que fossem se casar teriam que passar a primeira noite de Lua de Mel na alcova deles, os Malandros, ou seja, fazer um “teste de qualidade” no castelo do senhor proprietário do Feudo.
Enquanto isso (enquanto o aristocrata pintava e bordava com a noivinha lá em cima) o futuro marido [também aldeão] ficava embaixo da janela do Castelo roendo unhas. Pode uma coisa dessas? Essa era uma das “éticas” daquele tempo que alguns ingênuos desconhecem e que graças a muitas lutas e emancipações conseguimos nos livrar.
Avaliando a Ética do Capitalismo, o senhor De Masi não foi nada benevolente. E não poderia ser. Como defender um sistema econômico que pintou e bordou com os povos mais desguarnecidos militarmente para lhes roubar o máximo que pudessem?
Sobre a conjuntura mundial ele foi objetivo. O mundo está sendo planejado por economistas (que só pensam no curto prazo) para atender ao pessoal do campo financeiro que raciocina em prazo mais curto ainda, os quais enrolam tudo, levando governos incompetentes e frágeis juntos para um desenlace que traduz conturbações em cotações e informações manipuladas que a rigor ninguém sabe como solucionar. Vale à pena ver a entrevista, principalmente, claro, se a pessoa não estiver interessada no programa BBB. Em relação ao Brasil ele disse que… É melhor ouvi-lo.
Uma Resposta para “O Sociólogo e algumas verdades inconvenientes”
Ezequiel Sena
Grande amigo,
Verdade, a palavra ética ficou muito desfigurada e a sua prima intima a moral perde espaço. Tem neguinho aí, corrupto até a medula, esbravejando moral e moralismo, achando que a corrupção só quem pratica é o outro.
Mas nossa ingenuidade tem limite, estamos de olho nos “eufóricos discursos”.
Parabéns pela lucidez,belo ensaio.