Por Jeremias Macário
O tratamento dado ao caso do menino Maicon que há três meses desapareceu numa operação policial desastrada numa periferia de Vitória da Conquista é um acinte. Somente agora foi feita uma reconstituição do episódio e nada foi revelado sobre o resultado do exame de DNA, realizado num resto de sangue encontrado no chão. Como sempre dizem, tudo está sendo feito em segredo para não atrapalhar as investigações. O que tudo isso tem a ver com o título acima que tento falar sobre a renúncia do papa Bento XVI, que surpreendeu o mundo com seu desabafo, de que as intrigas e as divisões no alto clero desfiguram a face da Igreja Católica? Nossa sociedade também está desfigurada diante de tanta hipocrisia, corporativismo e acomodação, em face dos desmandos politiqueiros.
As festas se foram no último arrastão do carnaval, com tragédias e escândalos que se sucedem. Nada nos abalam mais, como o depoimento mais recente do dono da banda baiana New Hit, de que a repercussão do estupro das meninas em Ruy Barbosa deu mais sucesso aos meninos do grupo. O lixo musical do Ziriguidum também. Triste cultura baiana!
Se a face da Igreja está desfigurada, como afirmou o papa, imagina a da humanidade, particularmente a nossa brasileira de todos os rincões! Mas, quero me referir, especificamente, ao pronunciamento do papa, que me deixou surpreso, visto que se trata de um chefe religioso conservador, embora intelectual.
No entanto, o que Bento XVI declarou sobre as divisões, individualismos, rivalidades e hipocrisias no clero não é nenhuma novidade na história da Igreja, desde Simão Pedro (42-67). Na minha concepção, ele foi corajoso quando condenou aqueles que buscam o aplauso. Muitos cardeais contemporizaram sua fala.
Com Bento XVI (2005-2013) são 264 papas (25 a 40 antipapas) e muitas disputas e brigas nos conclaves de Roma, inclusive com carimbos de corrupção e vazamentos de documentos, como foi o caso do recente “Vatileaks”. A Igreja Católica precisa ser mais humilde, transparente e confessar seus pecados, que são muitos.
A renúncia de Bento XVI não se deveu apenas à sua avançada idade, mas, como declarou o teólogo alemão Max Seckler, às intrigas dentro de Roma. O papa é um pastor rodeado de lobos à frente de uma organização devastada por javalis, conforme comentários de observadores estudiosos do assunto. Os casos de pedofilia em que os acusados não foram afastados da Igreja também contribuíram para seu enfraquecimento.
Na minha simples opinião de ex-seminarista de Amargosa (Seminário Nossa Senhora do Bom Conselho), além da humildade interna, a Igreja Católica precisa se modernizar em muitos pontos e avançar nas reformas introduzidas pelo Concílio Vaticano II (1962) no papado de João XXIII.
Quando ainda era menino ouvia dos padres e dos mais velhos “católicos”, de que o único caminho para se chegar a Deus era através da Igreja Católica. O Concílio de 1962, que muito me marcou na época, desfez essa pregação e criou o ecumenismo, reconhecendo as outras religiões, embora ainda haja reações internas. Pouca coisa se falou dos 50 anos do Concílio em 2012.
Não precisa ser teólogo para dizer que as reformas não foram muito além dos rituais litúrgicos onde a missa passou a ser rezada e cantada na língua de cada povo. A sensação que se tem é que se mantêm certos conceitos, posições e dogmas para não se perder mais fiéis, embora grande parte não concorde com tudo. Como dizia meu saudoso amigo e historiador Geraldo Xavier, a Igreja sempre foi conservadora.
2 Respostas para “Uma face desfigurada”
Lord Marcos
Jeremias Macário,Parabéns você disse tudo sobre a situação atual do que o ser humano considera prioridade. Infelizmente aqui no Brasil carnaval,futebol,novelas são mais importantes do que a praga real que consume nosso país que é a corrupção.
conquistense
Que palavras sábias…se tdo homem público pensasse como vc, esse mundo sería OUTRO!!