Cada um faz o que quer

Por Jeremias Macário

Não sei se falo da blogueira cubana Yoani Sánchez que teve sucesso monumental na sua passagem pelo Brasil, graças ao grupo de esquerdas festivos da “democracia” de uma única via; se dos torcedores do Corinthians; se dos estádios de futebol que surgem como cogumelos, em maior quantidade que nos tempos da ditadura de Médici; se da médica suspeita de abreviar a morte de pacientes de uma UTI; ou do menino Maicon que desapareceu numa operação policial em Vitória da Conquista. Êta Brasil nosso de cada dia que rende tanta matéria-prima para o jornalismo! Os assuntos aparecem em montes, cada um maior que outro. Coisas cabeludas, de arrepiar lobisomens! Já imaginaram que estamos vivendo no país a dura realidade do pensamento hegemônico, do partido único?

   Que bom seria se a energia desses bárbaros também fosse empregada para contestar contra os atos de corrupção! Por que são tão poucas as vozes contra a eleição de Renan Calheiros à presidência do Senado? Será que os brutos também amam? Viva aos espartanos da palavra! Se não concordar, morre espichado na primeira travessia!

 Na verdade, há muito tempo que venho pensando em falar mesmo é do caótico trânsito de Vitória da Conquista onde cada um faz o bem quer, liberando seu egocentrismo e individualismo mesquinhos como se fosse dono da via pública. A terceira maior cidade da Bahia não tem fotossensores, nem radares nas suas principais vias, inclusive às de acesso. Só temos quebra-molas e tartarugas por todos os lados. É um tormento, por exemplo, transitar nas avenidas Juracy Magalhães e Presidente Dutra (Avenida Integração).

 Na falta de uma fiscalização mais presente (difícil ver um guarda de trânsito), os motoristas maleducados invadem sinais; entram na contramão; fazem “roubadas” perigosas; e param em qualquer lugar, mesmo diante de placas onde é proibido estacionar. O imbecil para no meio das ruas e avenidas, como a Juracy Magalhães, Otávio Santos, Siqueira Campos, Brumado (mais comuns) e liga o sinal de alerta, como se essa atitude desse a ele o direito de ficar parado ali. Para ele, o alerta está acima de qualquer sinal de proibido.

  Ontem mesmo tinha um taxi parado em fila dupla na Otávio Santos, congestionando todo o trânsito. Para dirigir em Conquista é bom contratar um psicólogo ou psiquiatra, um cardiologista e um segurança. O psicólogo para lhe acalmar, o cardiologista para acompanhar as alterações do coração, e o segurança para lhe defender das porradas e ameaças de morte. É bom ter um advogado também e levar sempre uns calmantes.

   Falar de vagas no centro da cidade (da praça do Gil ao Sumaré-Regis Pacheco) é uma piada sem graça. Todo mundo já sabe o inferno que é. Cada empresa, cada entidade, órgão público qualquer têm suas reservas de vagas cativas e ninguém tasca. É como se fosse uma área deles, com direito adquirido. Lojas de vendas de veículos ocupam um quarteirão todo, logo cedo. Isso virou uma prática normal. O cidadão fica rodando, ou é obrigado a pagar até R$5,00 por hora de estacionamento, isso quando acha.

  Sem vagas, sem ordenamento, sem mobilidade urbana, os veículos tomam as calçadas dos pedestres. Se já é difícil para as pessoas não deficientes físicos, imagine para um cadeirante circular no passeio! É mais do que sofrimento! Não existe opção pelo transporte público porque este já é deficitário. Em dias úteis, as ruas de Conquista recebem cerca de 100 mil veículos, e aí o “bicho pega”. O trânsito trava e você passa raiva.

  Ah! Estava esquecendo dos motoqueiros aloprados (muitos rodam sem carteira e documentos do veículo), que invadem sinais e cortam por todos os lados. Dia desses um bateu no retrovisor do meu carro, na Bartolomeu de Gusmão, vindo na contramão. Nem sequer olhou. Cada um faz o que quer. É a lei do faroeste. Praticamente não existe blitz para controlar essa muvuca e punir os irregulares.

  Nos cruzamentos do anel viário da cidade acontecem acidentes quase todos os dias, inclusive com mortes. O projeto inicial previa viadutos para evitar esses riscos, mas já se vão mais de dez anos e nada. Mudando de pau para cassete, vamos entrar no segundo ano de racionamento de água e nada da obra da barragem, tão decantada na campanha eleitoral.

  São coisas da Bahia e do Brasil, com as quais ninguém mais se incomoda e se indigna. Temos um metrô inacabado, em Salvador, cuja obra já dura 14 anos, mas um estádio da Fonte Nova, de mais de um bilhão de reais, foi erguido em menos de dois anos. A bola da vez é o projeto da ponte Salvador-Itaparica e quem quiser que fique sem água e vá tomar banho de cuia.


2 Respostas para “Cada um faz o que quer”

  1. Edivaldo BSB

    Jeremias,gostei de seu comentario,

    Estou precisando falar com voce, eu escrevi um conto, a triste sina de um boiadeira.

    abraço Edivaldo

  2. Gil Brito

    O mestre Jeremias Macário se pronuncia de forma lúcida e contundente até quando lhe falta assunto.

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