Elve Cardoso
Sei que muitos já se pronunciaram acerca deste assunto e sei inclusive que parecerá bairrista, ufanista até, de minha parte, mas não posso me permitir o inaceitável de não registrar que tenho verdadeira alegria por saber que Vitória da Conquista é uma cidade de imensa sorte intelectual. Li, hoje, por exemplo, que o poeta Carlos Jeovah, autor em parceria com Esechias Araújo de uma de minhas obras prediletas – O Auto da Gamela – assumiu a direção da Casa da Cultura, instituição que merece de todos nós, conquistenses, os mais sinceros louvores pelo que representa para a cultura local, especialmente pelo seu importante papel político durante os anos de chumbos, promovendo sua arte libertária.
Fiquei feliz porque conheço – conhecemos – a biografia impoluta desse homem das letras que é Carlos Jeovah, e mais ainda por saber que uma instituição que elege à sua direção um poeta de tal grandeza o faz porque ainda sustenta seus princípios basilares. E foi nesse sentido que a posse do poeta me remeteu a tantas outras reflexões que têm a ver com a nossa “sorte conquistense”. Aqui nasceram homens e mulheres ilustres, muitos dos quais estão a merecer suas devidas biografias. Aqui, homens e mulheres de tantos outros lugares fixaram residência, constituíram famílias, derramaram suor para que toda pujança que assistimos hoje se tornasse realidade.
Enquanto escrevo, vislumbro, em mente, centenas de personalidades que enriqueceram nossas artes – literatura, música, poesia, teatro –, nossa política (foram prefeitos, deputados, governadores), nossa economia, nosso pensamento político, nosso jornalismo. Percebo o quanto nossa cidade está impregnada da força revolucionária de tantos quantos com ideias, ideais e ações construíram uma sociedade que não aceita nem tolera fracassos ou invencionices; do quanto nossa sociedade conquistense está embebida de uma racionalidade que não a permite se sujeitar a déspotas ou a aventureiros; de como a cidade, em cada esquina, está sempre pronta a debater seu presente e seu futuro, sempre com profundo interesse pelo seu passado.
Sei que Carlos Jeovah integra um conjunto, ele faz parte de uma trajetória coletiva de homens e mulheres que sonharam e continuam sonhando com uma sociedade na qual os valores humanos mais sofisticados não sejam privilégio de uns poucos em detrimento da escravização disfarçada de tantos outros. Ver Carlos Jeovah assumindo novamente a condição de presidente da Casa de Cultura é um alento que até me comove, pois sei o quanto ainda há a ser construído, coletivamente, para que a sociedade brasileira alcance um patamar de desenvolvimento que não seja apenas econômico e social, mas também cultural. Sei que tudo que sonhamos nasce, muitas vezes, de iniciativas modestas, como a Casa da Cultura, que, com sua discrição, vem dando efetiva contribuição à transformação do mundo.