Um missionário chamado Ariano Suassuna

Fotos: Blog do Anderson

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Ailton Fernandes | Conversa de Balcão

Com a sabedoria de um mestre, a segunda edição do Festival de Juventude de Vitória da Conquista teve início nesta sexta, 10. Um senhor de 85 anos contou histórias, causos, aventuras e até algumas mentiras (“do bem”). Esse senhor foi nada mais que o dramaturgo Ariano Suassuna, o paraibano que escreveu “O Auto da Compadecida” e “A Pedra do Reino”.  Com um discurso inflamado contra a cultura de massa e a “norte-americanização” do nosso país, Ariano se coloca como um missionário a favor da cultura brasileira. Apesar de não gostar de viajar e ter medo de avião – “todas são ruins, a de avião é só a pior das viagens”, o escritor, que foi professor da Universidade de Pernambuco, percorre o Brasil inteiro para conversar com as pessoas. “Eu me sinto bem fazendo isso. Eu quero continuar em contato com o povo do meu país e principalmente com os jovens, mas eu meti na cabeça que o povo brasileiro tinha me encarregado de uma missão que é a de defender a cultura brasileira pelo nosso país”, explicou.

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“Eu defendo o meu país, defendo a minha cultura, defendo o meu povo. Podem me chamar de arcaico que vai entrar por um ouvido e sair pelo outro. E eu posso até ser arcaico, mas a mim o jacaré [em referência à cultura de massa] não come, porque eu corro”, disse. E deixou um recado para quem não concorda com ele: “Eu divido a humanidade em duas metades, numa metade estão os que gostam de mim e concordam comigo, na outra estão os equivocados”. As declarações de Ariano arrancaram calorosos aplausos das cerca de duas mil pessoas que o assistiam, além de ter divertido todo o público, que ria das suas histórias, que sabe-se lá se eram verdadeiras ou invencionices da sua genialidade, ou as duas coisas.

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IMORTAL E INCANSÁVEL – Apesar da idade avançada e o desgosto pelas escalas entre aeroportos, Ariano não pensa em parar de viajar ou escrever. Confessou que ainda quer aproveitar um personagem real de Taperoá em um próximo livro, “o herege oficial, tem histórias fantásticas dele” e que vai escrever um livro onde faz questionamentos filosóficos. “Eu ainda não escrevi não, mas eu não termino minha vida antes de escrever o livro que vai se chamar ‘Parece ou não parece ou a verdade de todo mundo’”.

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Admirador de Dom Quixote, se comparou ao personagem de Cervantes: “Dom Quixote só seria derrotado se ele parasse de lutar. Eu não paro de lutar, eu não tenho poder político, nem poder econômico, mas eu tenho uma língua afiada que só a peste e isso eu uso pelo meu país e pelo meu povo”. E ele não vai morrer tão cedo, segundo ele mesmo. “Eu não pretendo morrer, mas eles [os que o consideram ultrapassado] vão ouvir desaforos meus até eles morrerem”, brincou.

Outras declarações do escritor:

“Eu sou um escritor de poucos livros e de poucos leitores – a exceção é ‘O Auto da Compadecida’, pelo fato de ter ido para a televisão”

“Eu escrevo o que eu sinto vontade de escrever, se a juventude gostar, ótimo, se não gostar, paciência”

“Eu tenho horror a gente vaidosa. O escritor vaidoso é o bicho mais chato do mundo eu peço tanto a Deus para não me tornar vaidoso”

“Eu tenho um orgulho danado da língua portuguesa”

“Na televisão, no outro dia já passou e o livro, se prestar, fica. Cervantes escreveu Dom Quixote no século XVII e tá aí Dom Quixote vivinho até hoje”


Uma Resposta para “Um missionário chamado Ariano Suassuna”

  1. Paloma

    Sábio dramaturgo.Tem de ser amante da língua portuguesa pra ser que o é: Espetacular, cômico e inteligentíssimo!

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